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"O Brasil não é a Argentina"

(sv)8 de outubro de 2002

Eleições brasileiras repercutem nos diários econômicos alemães. O Handelsblatt abre página à corrida presidencial e o Financial Times Deutschland acredita que Lula pode tornar-se "administrador da falência brasileira".

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Mercado continua nervoso até o segundo turno das eleiçõesFoto: AP

A página dois do principal jornal econômico alemão, Handelsblatt, tem Lula e uma bandeira do PT estampadas. O teor da notícia, apesar de não muito favorável ao candidato mais votado no primeiro turno das eleições, observa que "todos os partidos brasileiros, com exceção do Partido dos Trabalhadores, são avulsas comunidades de interesses, que se deixam levar pelo vento".

Rumo ao centro –

Para o diário, Lula precisa, no entanto, "ampliar sua orientação em direção ao centro político, que foi o que praticamente lhe deu a vitória nas urnas". Por outro lado, José Serra é apontado pelo Handelsblatt como um "economista reservado e político experiente", que abocanha a maior parte dos votos de centro-direita no país.

O jornal, que dá sinais de tornar-se cada vez menos temeroso a uma vitória de Lula, registra os "as magras taxas de crescimento" nos oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, que, no entanto, trouxe "pela primeira vez há décadas, uma relativa estabilidade" para o país.

Venda de títulos –

Sob a manchete "mercados financeiros aguardam segundo turno", o Handelsblatt analisa, sem arriscar prognósticos, os "riscos" atuais de uma provável eleição de Lula, como o nervosismo do mercado e as oscilações do real. Segundo o diário, o Deutsche Bank em Nova York vê o momento como "uma ocasião adequada" para a venda de títulos públicos da dívida brasileira.

Democracia –

O Financial Times Deutschland dedicou um editorial "ao trágico" de um governo Lula, que "de portador das esperanças políticas poderá brevemente tornar-se o administrador da falência do Brasil". Além do comentário, o editorial do jornal arrisca afirmar que o fato de um sindicalista – oriundo de uma classe social com poucos recursos – estar prestes a se tornar presidente do país é prova de um certo amadurecimento da democracia brasileira.

Mercado espanhol –

Entre os mercados europeus, o espanhol é o que mais tem sofrido com as desventuras da moeda brasileira. Para os dois grandes bancos Santander Central Hispano e Banco Bilbao Vizcaya Argentaria, uma falência do Brasil significaria perdas enormes. Uma recuperação imediata do mercado de ações espanhol não está sendo esperada até o resultado final das eleições brasileiras. Apesar das dúvidas, no entanto, o clima em Madri é, segundo o Handelsblatt, ainda otimista, uma vez que investidores espanhóis acreditam que "o Brasil é um caso completamente diferente da Argentina".

Analistas observam que uma vitória já no primeiro turno teria sido certamente mais favorável à economia. Independentemente do resultado, passariam as tensões atuais. "Os mercados estão cansados e querem um fim da incerteza", afirmou Walter Molano, analista da BCP Securities ao Handelsblatt. Também o editorial do Financial Times Deutschland termina com a observação: "A longo prazo, o país só vai se recuperar, se lhe for possível reaver a confiança dos mercados financeiros na economia brasileira".