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O Brasil na imprensa alemã (26/07)

26 de julho de 2017

Combate à corrupção no país, atuação e possíveis ambições políticas do juiz Sergio Moro foram destaque nos maiores jornais da Alemanha, que abordaram ainda colaboração da Volks com a ditadura militar.

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Sergio Moro
O "esclarecedor" Sergio Moro mobiliza com habilidade e astúcia a mídia e, com isso, a opinião pública, afirma jornalFoto: Imago

Frankfurter Allgemeine Zeitung – A América do Sul se levanta contra a corrupção, 25.07.2017

"O que está acontecendo no Brasil? O político mais famoso do país, o carismático ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi condenado a quase dez anos de prisão por corrupção. O atual chefe de Estado, Michel Temer, corre o risco de um processo de impeachment pelo mesmo motivo, e há um ano a antecessora dele, Dilma Rousseff, foi deposta. Há três anos só se ouve notícias de crise econômica e corrupção do Brasil. As duas estão intimamente ligadas.

Parece até que o Brasil é o centro da corrupção na América do Sul. Na verdade, a maior economia do continente só está mais avançada no combate à criminalidade econômica do que a maioria dos países da região. No Brasil, crimes que, em outros lugares, são varridos para debaixo do tapete estão sendo combatidos de forma eficiente pela Justiça. O juiz Sergio Moro, que no Brasil já alcançou status de figura cult, inspirou-se nos colegas italianos que, nos anos 1990, no âmbito da lendária operação Mani pulite, prendeu milhares de funcionários, empresários e políticos e varreu do mapa político da Itália partidos tradicionais, como os socialistas e os cristão-democratas. Com uma equipe de promotores e investigadores jovens e ambiciosos, Moro apostou em três elementos: a prisão e condenação rápida de corruptores e corrompidos, a oferta de redução de pena para delatores e uma ampla informação da opinião pública sobre o andamento das investigações para se defender da pressão de políticos e empresários pela restrição das investigações."

Süddeutsche Zeitung – Sem lamentos, 24.07.2017

"A ideia de retornar ao cenário dos seus pesadelos ocupava os pensamentos de Lúcio Bellentani já há algum tempo. Mas foram necessárias décadas para criar coragem. Neste dia ensolarado dos primeiros meses de 2017, ele vestiu uma camisa branca e uma calça azul escura, aparou a barba e penteou em ondas bem delineadas o cabelo grisalho. Bellentani, que tem 72 anos, poderia estar se vestindo para receber uma medalha por serviços prestados. Na verdade, ele vai visitar dois cenários de crimes onde uma parte da sua vida foi destruída: a grande construção de tijolos à vista no centro de São Paulo, onde eles o torturaram. E o pavilhão da empresa em São Bernardo do Campo, onde ele, pouco antes, foi detido – aparentemente com a participação de seu empregador: a Volkswagen do Brasil.

Bellentani é um homem de humor quase inabalável. Quando entra no corredor vazio da construção de tijolos à vista, diz: 'Bem-vindo ao hotel cinco estrelas!' Mas o riso logo vai dar lugar às lágrimas neste reencontro com a cela de número dois. A cela dele. Bellentani voltou para lutar. Em uma palavra: por desculpas.

A história do antigo operário Bellentani é também a história de uma colaboração ainda não bem dissecada. Ela trata do envolvimento da maior fabricante de automóveis da Alemanha com a ditadura militar brasileira entre 1964 e 1985."

Frankfurter Allgemeine Zeitung – O iluminador, 23.07.2017

"Sergio Moro gosta de subestimar a si mesmo. Ele diz coisas como: eu sou apenas um juiz num tribunal federal em Curitiba que faz o seu trabalho da melhor maneira possível. Ou: não existe uma guerra entre a Justiça e os políticos no Brasil, mas os juristas devem erguer juntos a voz quando os legisladores tentam colocá-los sob tutela. Ou ainda: a mídia não é de forma alguma sistematicamente alimentada por ele com informações sobre processos em andamento ou escutas secretas. Ele apenas segue o princípio constitucional da transparência em todos os processos legais.

Na verdade a situação é um pouco diferente para Sergio Moro, um jurista de 44 anos de Maringá, no estado do Paraná, casado com a advogada Rosângela Wolff e pai de dois filhos.

Desde o início do maior processo por corrupção na história do Brasil, em março de 2014, Moro se converteu na principal personalidade da vida pública do país, em superstar de renome internacional.

E para vencer essa monumental batalha contra a política de favores, o juiz e seus aliados mobilizam com habilidade e astúcia a mídia e, com isso, a opinião pública.

As imagens das prisões de poderosos capitães da indústria e políticos antes intocáveis por agentes mascarados da Polícia Federal ficaram gravadas na memória coletiva dos brasileiros. Ninguém mais está acima da lei é a mensagem das prisões e buscas espetaculares, das quais a mídia difunde as imagens desejadas.

A subestimação de si mesmo de Sergio Moro é calculada. Nas suas escassas declarações públicas, ele se apresenta como um simples juiz que apenas cumpre o seu dever legal. Ele diz que não gosta que muitos o vejam como uma espécie de salvador da democracia brasileira da praga da corrupção, até mesmo como futuro presidente. Este descendente de imigrantes italianos diz que não tem ambições políticas e garante que encontrou sua vocação na profissão de juiz. Essa parte da vocação pode até ser verdade, mas ela vai bem além do tribunal federal de Curitiba."

AS/ots

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