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"O Brasil perde um grande amigo", diz ex-embaixador alemão

Geraldo Hoffmann28 de janeiro de 2006

Lideranças políticas, igrejas e mídia na Alemanha lamentam a morte do ex-presidente Johannes Rau. Lula e Amorim destacam legado político do estadista alemão, que tinha apreço especial pelo Brasil.

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Encontro de Lula com Rau na Alemanha, em 27 de janeiro de 2003Foto: BPA

A morte do ex-presidente alemão Johannes Rau, nesta sexta-feira (27/01), foi lamentada na Alemanha e no exterior. Em mensagem de condolência transmitida ao presidente alemão Horst Köhler, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou "a profunda admiração e respeito do governo e povo brasileiros pelo legado político do presidente Rau. Seu compromisso constante com a paz, direitos humanos e tolerância permanecerão no tempo".

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, também enviou mensagem ao seu colega de pasta na Alemanha, Frank-Walter Steinmeier. "O compromisso inabalável do presidente Rau com os princípios democráticos será referência constante no relacionamento entre nossos povos e governos", diz a nota.

Para o ex-embaixador alemão no Brasil, Uwe Kaestner, "não só os alemães, mas também os brasileiros têm motivos para estar de luto". Segundo Kaestner, presidente da Sociedade Brasil-Alemanha (DBG), que congrega lideranças políticas e empresariais dos dois países, "talvez poucos brasileiros saibam, mas Johannes Rau tinha um apreço especial pelo Brasil". Isso – conta o ex-embaixador – começou com uma visita histórica que o então líder social-democrata fez a Lula, quando este ainda era sindicalista perseguido pelo regime militar. "Foi um gesto político inesquecível", lembra.

Johannes Rau in Brasilien
Rau retribuiu visita a Lula em Brasília, em novembro de 2003Foto: AP

"Kaestner, que foi embaixador no Brasil durante a gestão de Rau na Presidência da Alemanha, explica que este foi o motivo pelo qual Lula, após a eleição presidencial de 2002, fez à Alemanha sua primeira viagem ao exterior fora da América do Sul. Isso foi há exatamente três anos, no dia 27 de janeiro de 2003. Em novembro do mesmo ano, Rau retribuiu a visita a Lula em Brasília. Na ocasião, foram comemorados os 40 anos da cooperação Brasil-Alemanha.

"Os dois se tratavam como bons amigos", diz Kaestner. E essa amizade, acrescenta, também refletiu nas "relações de confiança" entre Brasil e Alemanha. "O Brasil perde um grande amigo", conclui o ex-embaixador.

"Ele queria reconciliar em vez de dividir"

Bildgalerie Johannes Rau
'Irmão Johannes' era um dos políticos mais admirados na AlemanhaFoto: AP

Rau, que faleceu aos 75 anos, depois de atuar durante meio século na vida pública, era um dos políticos mais admirados da Alemanha. Chegou a ser carinhosamente chamado de "irmão Johannes", por sua proximidade com as pessoas e sua profunda fé. Essa característica também foi destacada nas reações de líderes políticos, da Igreja e dos meios de comunicação à morte do ex-presidente.

"A Alemanha perdeu uma personalidade extraordinária. Ele foi um exemplo brilhante de engajamento pelos direitos humanos e a democracia e deu um forte significado político à Presidência alemã", disse a chanceler federal Angela Merkel (CDU). Ele sempre tentou reconciliar em vez de dividir, acrescentou a chefe de governo em Berlim.

"A Alemanha perde um de seus mais importantes líderes políticos do pós-guerra", declarou o atual presidente alemão Horst Köhler. "Ele foi um homem que tornou o mundo mais humano e no qual as pessoas confiavam." Em nome dos alemães, Köhler transmitiu as condolências à família do ex-presidente. "Não vamos esquecê-lo", disse.

"A social-democracia alemã está de luto por Johannes Rau. Ele vai nos fazer falta", disse o presidente do Partido Social Democrata (SPD), Mathias Platzeck. O ex-chanceler federal Gerhard Schröder o classificou como "um democrata apaixonado, um patriota esclarecido e uma consciência moral do país".

"Estamos de luto por uma pessoa, cuja ação política se orientou pela tolerância e o amor ao próximo", afirmaram os líderes da bancada de esquerda no Parlamento alemão, Gregor Gysi e Oskar Lafontaine, em nota oficial.

Leia mais: reações das igrejas e da mídia alemã

Igrejas lamentam a perda

Johannes Rau und Mosche Katzav in der Synagoge
Rau (d) ao lado do presidente israelende Moshe KatzavFoto: AP

Segundo o presidente do Conselho das Igrejas Evangélicas da Alemanha, Wolfgang Huber, "Johannes Rau viveu de forma convincente os princípios cristãos. A Igreja e o país perdem uma voz extraordinária".

Na opinião da vice-presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Charlote Knobloch, "a comunidade judaica perdeu um grande amigo e parceiro".

Reações da mídia

O diretor geral da Deutsche Welle, Erik Bettermann, que era amigo pessoal do ex-presidente, destacou que "Rau sempre buscou o diálogo com as pessoas, também na Presidência da Alemanha. Com base na responsabilidade histórica alemã, ele se engajou especialmente pelo povo de Israel, mas não por qualquer política daquele país".

Em 2000, Rau pediu desculpas pelo Holocausto em um discurso emocionado no Parlamento de Israel (Knesset), ressaltando que lutaria contra o retorno da xenofobia e do racismo à Europa."Eu peço perdão a Israel pelo que os alemães fizeram, por mim e por minha geração, pelo bem de nossos filhos e netos, cujo futuro eu gostaria de ver lado a lado com as crianças de Israel."

Segundo o diretor-executivo do grupo de mídia Westdeutsche Allgemeine Zeitung, Bodo Hombach, que assessorou Rau no governo do Estado da Renânia do Norte-Vestfália, "argumentos o convenciam, mas não modismos, as maiorias ou a ambição pelo poder".

Na opinião do semanário Die Zeit, Johannes Rau "foi um político conservador, quando o consenso ainda era popular. E ele permaneceu conservador, quando o consenso caiu no descrédito". Segundo o jornal econômico Handelsblatt, ele foi "um presidente humanamente sustentável".