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O computador, a escola, a criança e uma eterna discussão

(ca)28 de outubro de 2005

Estudo recentemente publicado, na Alemanha, desaconselha o uso de computadores nas escolas e nos quartos de crianças.

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Crianças e computadores: prós e contrasFoto: dpa

Enquanto é inaugurada, em Munique, a segunda maior feira de tecnologia de informação da Alemanha, a Systems, um estudo publicado, no começo de outubro, pelo Instituto de Pesquisas Econômicas (Ifo), da mesma cidade, arrefece o ânimo de quem acha que todas as escolas devem ser computadorizadas.

A discussão em torno da pergunta se o computador seria prejudicial ao desempenho escolar é tão antiga quanto o próprio computador. Após os resultados das pesquisas realizadas pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OECD), em 2003, através do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o estado das artes era que as crianças que tinham acesso ao computador, em casa e na escola, possuíam um melhor desempenho escolar.

O resultado das pesquisas realizada pelo instituto bávaro foi claro: crianças com computadores em seus quartos têm piores notas, já que os usam mais para brincar do que para estudar, e o seu emprego, nas escolas, só é proveitoso se ele não for usado mais do que uma vez por semana.

Computadores e outros fatores

Kind mit Computer in Japan
Criança e computador, maturidade antes do tempoFoto: AP

Como explicam Ludger Wössmann e Thomas Fuchs, do instituto de Munique, outros fatores que influenciam decisivamente no rendimento escolar não foram considerados. Crianças provenientes de famílias cujos pais possuam profissões intelectualmente mais exigentes geralmente possuem computadores em casa. Pelos pais e não pelos computadores, elas apresentam melhor rendimento.

Os pesquisadores alemães sugerem, então, uma utilização moderada do computadores nas escolas, onde a comunicação entre professor e pupilo e a criatividade dos alunos não devem ser prejudicadas. Eles aconselham que as instituições invistam mais em livros e menos em máquinas.

Esta opinião vai de encontro a conclusões feitas nos primórdios da internet. O pesquisador de Ciência da Computação da USP Valdemar Setzer já escrevia em 1996 que "o computador prejudica os jovens até a idade de 16–17 anos, forçando-os a usarem uma linguagem e um tipo de pensamento que são somente adequados após muita maturidade mental". Além disso, "o entusiasmo é por todo o aspecto visual, auditivo e de animação, enfim, é pelo cosmético e não pelo que ele embeleza".

Televisão e computador em cena

Na opinião de vários institutos, a televisão ocupa uma posição semelhante à do computador no cotidiano de crianças e adolescentes.

Games Convention 2005 in Leipzig
Videogames afastam alunos da escolaFoto: dpa

O Instituto de Criminologia da Baixa Saxônia (KFN) realizou estudos com crianças e adolescentes em idade entre 10 e 15 anos. O resultado foi que seu principal passatempo era televisão e computador. O abandono escolar, principalmente entre alunos do sexo masculino, estaria ligado diretamente a este fato, segundo o resultado da pesquisa. O chefe do KFN, Christian Pfeiffer, desaconselha o uso descontrolado desses equipamentos antes dos 14 anos de idade.

Outra pesquisa, feita pela organização não governamental Eurodata TV Worldwide entre nove países, incluindo a Alemanha e o Brasil, e divulgada na França no começo do mês, constatou que as crianças brasileiras são aquelas que mais ficam em frente da televisão no mundo, em média 3 horas e 31 minutos por dia, a americana passa 3 horas e 16 minutos e a alemã, 1 hora e meia.

Segundo dados do IBGE, divulgados em 2004, dos 49,2 milhões de domicílios brasileiros, somente 7,5 milhões possuem microcomputadores, e destes somente 5,6 milhões têm acesso à internet. A televisão está, todavia, presente em 90% deles. Com a iminência da queda dos preços dos computadores, no Brasil, estas proporções irão, certamente, se alterar

Na maioria das vezes, o problema da tecnologia não está nela própria, mas na falta dela. Negar a tecnologia com certeza não é solução. Os resultados destes estudos mostram sobretudo a importância da orientação familiar em um mundo midiatizado, onde tudo parece possível.