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O maior bordel europeu ao ar livre

Estelina Farias30 de outubro de 2003

A fronteira tcheca-alemã é o maior bordel ao ar livre da Europa. Lá se desenvolve um mercado próspero de prostituição infantil. Entre as vítimas há até crianças na primeira infância.Os clientes são sobretudo alemães.

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Meninas à espera de clientes nas estradas da EuropaFoto: AP

É mais do que chocante o estudo intitulado "Crianças na prostituição", que a Unicef e a organização para proteção de crianças contra exploração sexual (ECPAT) divulgaram esta semana para denunciar e exigir um combate sem trégua ao comércio e exploração de crianças na fronteira teuto-tcheca. Meninos e meninas de até seis anos de idade são oferecidos por proxenetas a estrangeiros, em sua grande maioria alemães, que vão a lugares como o povoado de Cheb, exclusivamente fazer sexo.

A atividade de proxeneta é exercida tanto por mães, pais e avós quanto por traficantes de menores. Muitas das mães também são prostitutas há anos, dependentes de drogas e sofrem de Aids. Os clientes tanto podem ser jovens de 18 anos quanto vovôs de 80 anos.

"É estranho"

- Com seis anos de idade, o pequeno Frantcek nem sabe descrever o que os turistas alemães fazem com ele. Diz apenas que "é estranho". Iveta, uma menina de dez anos, já sabe contar exatamente como é. Antonin também. As vítimas, que só falam a sua língua materna (tcheco), usam expressões vulgares alemãs que aprendem com seus exploradores.

A assistente social alemã Cathrin Schauer entrevistou quase 500 crianças prostituídas desde 1996, escreveu um livro publicado agora pela Unicef e fala de sua experiência: "Crianças pequenas de até seis anos são oferecidas, na maioria dos casos, por mulheres. A maior parte das com mais de sete anos é acompanhada por adultos ou jovens do sexo masculino. Com freqüência, crianças de mais de oito anos já negociam elas próprias sobre preços e práticas sexuais".

Doce

e violência – As crianças que esperam nas estradas da Europa, postos de gasolina, restaurantes de beira de estrada ou supermercados são de famílias pobres ou com muitos filhos. Proxenetas raptam um número cada vez maior de menores em regiões distantes da República Tcheca e outros países do Leste Europeu e os levam para a fronteira da rica Alemanha. Os moradores da região silenciam, segundo a assistente social.

"Como pagamento, estas crianças recebem no máximo 25 euros. Às vezes também só ganham doces. Mas alguns turistas do sexo levam suas presas para comer em restaurante e apoiam a família materialmente. Todas elas têm em comum os relatos sobre a violência que sofrem dos proxenetas e turistas. Nós encontramos crianças com escoriações leves e muitas com ferimentos graves nas genitálias".

A nacionalidade alemã da maioria dos praticantes do turismo sexual infantil é reconhecida pelas placas de seus automóveis, que vão da classe média à alta. Às vezes, eles vão para a fronteira em pequenos ônibus com vidros escuros para não serem reconhecidos. Todos são homens de 18 a 80 anos de idade. Eles destroem a vida de crianças na idade de seus próprios filhos ou netos.

Comércio alemão

– A prostituição aumentou consideravelmente na Alemanha. Segundo o psicólogo da polícia Adolf Gallwitz, quase 18% de todos os homens compram sexo regularmente. E o desejo por crianças aumentou em proporção assustadora. A polícia estima que existem aproximadamente 100 mil turistas sexuais na Alemanha e mais da metade deles procura jovens e crianças no estrangeiro.

Por isso mesmo, com a sua campanha em toda a Alemanha, a Unicef não apenas quer chamar atenção para o crime monstruoso, mas também quer pressionar o governo a ser um precursor no combate internacional ao negócio inescrupuloso do abuso sexual de menores. Christina Rau, representante da Unicef e esposa do presidente alemão, Johannes Rau, exige que seja feito de tudo para ajudar as vítimas.

Autoridades impotentes

– A Alemanha tem uma legislação para punir alemães que cometam crimes de pedofilia no exterior. Mas até agora foi muito difícil provar. As autoridades alemãs permanecem impotentes, pois não podem fazer investigações em território tcheco e até agora não existem acordos bilaterais para a perseguição e punição de pedófilos. Do outro lado da fronteira, a polícia tcheca se mostra desinteressada em perseguir os criminosos.

A Unicef, por sua vez, exige do lado alemão que as próprias vítimas, as crianças, sejam levadas a sério como testemunhas e deixem de ser tratadas como criminosas ou chicanadas como ilegais. "As autoridades alemãs têm que encarar o combate ao tráfico e à prostituição de crianças tão a sério como o narcotráfico e o tráfico de armas".