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O Muro (incurável cicatriz) de Berlim

Rodrigo Rimon9 de novembro de 2004

Quem nunca viu um pedaço do Muro de Berlim? Seus restos espalharam-se pelo mundo como banais suvenires. Mas o que restou preso ao chão, como incuráveis cicatrizes, ajuda a dar uma idéia da crueldade da Berlim dividida.

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Os primeiros berlinenses pulam o 'muro de proteção antifascista' em novembro de 1989Foto: AP

Os restos do Muro de Berlim já se espalharam de tal forma pelo mundo em cartões-postais, chaveiros e outros suvenires, que muitos se perguntam se o maior símbolo da Guerra Fria tinha mesmo apenas 155 quilômetros de comprimento. Outros questionam se ainda é possível imaginar como era a Berlim dividida. A DW-WORLD foi atrás do que restou do Muro de Berlim.

Diversas rotas guiam turistas e interessados pelo que sobrou do Muro, revelando ora seu caráter artístico como na East Side Gallery, ora triste e desolador como na Bernauer Strasse, ou ainda cru e assustador na Niederkirchnerstrasse. Vários trechos, às vezes consideravelmente longos, sobreviveram à explosão urbanística que tomou conta da capital alemã na fase posterior à queda do Muro e ainda são alvo de entidades que almejam transformá-lo em patrimônio histórico alemão ou até sugeri-lo à Unesco como patrimônio cultural da humanidade.

Berlin Mauer Jahrestag
Os paralelepípedos marcam o caminho do MuroFoto: AP

A cicatriz do Muro

Vestígios do Muro são visíveis até no marco da cidade, que é ao mesmo tempo símbolo maior da reunificação de Berlim. Logo ao lado do Reichstag, onde funciona hoje o parlamento alemão, fica o Portão de Brandemburgo, que separa os distritos de Mitte e Tiergarten. Com a construção do Muro em 1961, o portão ficou situado em solo da RDA (República Democrática Alemã) e, portanto, inacessível até sua queda em 1989. Lá reuniram-se, há exatamente 15 anos, milhares de pessoas de ambos os lados para exigir a derrubada do Muro. Também lá foi celebrada, um ano depois, a reunificação alemã, em outubro de 1990.

Observadores mais atentos podem ver aqui um caminho de paralelepípedos que demarca a linha percorrida anteriormente pelo Muro. Seguindo esta trilha em direção ao sul, o visitante é levado à Potsdamer Platz, praça que por muito tempo foi o maior canteiro de obras da Europa e hoje representa o centro novo de Berlim. Aqui fica mais difícil seguir os restos do Muro e é quase impossível imaginar como era a região antes de sua queda. Não fosse por um trecho de cerca de 20 metros do Muro e de uma torre de vigilância mantidos entre os novos e imponentes edifícios.

Os fantasmas do Muro

Gedenkstätte Topographie des Terrors in Berlin Kreuzberg
A exposição 'Topografia do Terror', nos subterrâneos da Gestapo, com restos do Muro e Ministério das Finanças ao fundoFoto: dpa

Quem continuar seguindo a trilha de paralelepípedos, chega à Niederkirchnerstrasse, que até o ano de 1951 ainda se chamava Prinz-Albrecht-Strasse. Entre 1933 e 1945, este era um dos mais temidos endereços da capital: aqui funcionava a sede da Gestapo e da SS, respectivamente o serviço secreto e as tropas especiais de segurança nazistas. O atual nome foi uma homenagem a Käthe Niederkirchner, assassinada pelos nazistas por fazer parte das forças de resistência.

Aqui pode-se ver bem como o Muro dividia a vida na cidade. Num lado da rua, fica a Abgeordnetenhaus, a assembléia legislativa de Berlim, e o Ministério das Finanças, no mesmo prédio onde funcionou o Ministério da Força Aérea do Terceiro Reich e, até 1989, a Comissão de Planejamento Estatal da RDA. Noutro, o Martin-Gropius-Bau, desde 1981 um dos museus mais bem visitados da parte ocidental de Berlim.

E bem no meio, sem quase deixar espaço para pedestres, corre o Muro, com sua parede corroída, deixando à mostra as vergas de aço que lhe dão estrutura. Debaixo do Muro, em celas descobertas nos subterrâneos do antigo prédio da Gestapo, funciona hoje a exposição Topografia do Terror, uma dos destinos prediletos de turistas.

A diplomacia do Muro

O caminho segue para o Checkpoint Charlie, o mais famoso posto fronteiriço entre Leste e Oeste, por onde estrangeiros e diplomatas tinham de passar para chegar a Berlim Oriental. Em junho de 1990, o posto foi desativado na presença dos ministros das Relações Exteriores das forças aliadas.

Vopo am Checkpoint Charlie
Ator fotografa para turistas diante do Checkpoint CharlieFoto: dpa

Acima de um casebre mantido até hoje, ainda com os holofotes que serviam para controle, há um alto mastro do artista alemão Frank Thiel, com retratos de dois soldados uniformizados: de um lado, voltado para Berlim Ocidental, um americano; de outro, voltado para Berlim Oriental, um russo.

Também aqui funciona o museu Haus am Checkpoint Charlie, inaugurado em 1963 na última casa antes da fronteira. Enquanto o Muro existiu, a casa foi um dos principais pontos de apoio a fugitivos da RDA, onde fugas eram planejadas e avaliadas. Hoje, a casa funciona como um museu sobre o Muro.

A arte do Muro

Berlin Friedrichshain - East Side Gallery
A East Side Gallery, maior trecho conservado do Muro de BerlimFoto: dpa Zentralbild

Outro local de onde se pode "vivenciar" o Muro é a East Side Gallery, no bairro de Friedrichshain. Aqui ele se estende por 1,3 quilômetro ao longo do Rio Spree. Enquanto a parede ocidental do muro já havia sido colorida por diversos pintores e grafiteiros, a parede oriental manteve sua aparência cinzenta até que, com a reunificação, artistas de todo o mundo deixaram lá sua contribuição. Assim surgiu a que é hoje chamada de East Side Gallery, integrada ao patrimônio histórico em 1992.

A crueldade do Muro

Mas, para se obter uma imagem mais verídica da crueldade do regime da RDA e do quanto ela estava ligada à presença física do Muro, recomenda-se uma visita à Bernauer Strasse, na chamada Rota do Norte, onde coincidem os bairros de Wedding, Pankow e Prenzlauer Berg. Este é um dos locais no qual o Muro foi construído em área residencial e diversos moradores tiveram suas janelas cimentadas para evitar a fuga.

Um dos pontos mais marcantes da região é a Capela da Reconciliação. Reconstruída na década de 90, leva o nome da igreja que lá existiu até os anos 80, quando foi destruída pela RDA por situar-se na chamada "zona da morte", uma área de segurança máxima mantida em toda a extensão do Muro. A capela foi reconstruída exatamente no mesmo local da antiga igreja e tanto os sinos quanto o altar são originais.

Aqui pode-se visitar também o Centro de Documentação do Muro de Berlim, que apresenta um panorama histórico da transformação que o Muro trouxe à região e das fugas, que aqui se deram com freqüência ainda maior do que em outros pontos.