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O não simbólico de Sloterdijk

(sv)26 de setembro de 2002

Autor de "Crítica da Razão Cínica" polemiza ao defender uma virada de página nas relações entre Alemanha e EUA e dizer que o 11 de setembro é mais importante por ser a data de nascimento de Theodor W. Adorno.

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É preciso diferenciar EUA e governo Bush, adverte o filósofoFoto: dpa

Não faz muito tempo, em meados de 1999, o filósofo Peter Sloterdijk desencadeou uma verdadeira crise no mundo acadêmico e cultural alemão, ao defender "a manipulação genética de humanos". Críticos israelenses afirmaram que Sloterdijk reavivava as teorias nazistas de "melhoria da raça humana", aproximando o filósofo dos ideais que guiaram o holocausto da Segunda Guerra Mundial.

O semanário Die Zeit acusou Sloterdijk de defender com suas idéias a reprodução do Übermensch de Nietzsche, o que acabou resultando em uma briga intelectual entre Sloterdijk e Jürgen Habermas. Três anos passados, o autor de Crítica da Razão Cínica ataca mais uma vez. Seus alvos são a política norte-americana, as relações entre Alemanha e os EUA e as posturas políticas do Estado de Israel.

Quarentena de interesses -

Sloterdijk afirmou em entrevista à revista austríaca Profil que "a Alemanha cresceu, depois da guerra, em uma retórica de negação de caminhos especiais. Nós nos europeizamos de forma quase autoterapêutica e impusemos uma espécie de quarentena sobre a mentalidade alemã, quando se tratava de articular os interesses nacionais".

Impedida de abrir a boca em função de sua história, a Alemanha teria abdicado de fazer suas próprias opções. Esta postura, no entanto, segundo Sloterdijk, não estaria mais sendo seguida pelo país. Um bom exemplo seria a posição tomada pelo chanceler Gerhard Schröder em relação à política norte-americana frente ao Iraque.

"Até o fim da era Kohl, a política externa alemã foi caracterizada pela consciência de que, em uma escola especial de democracia, só poderíamos conseguir o diploma à custa de muito esforço. Schröder foi, por assim dizer, o primeiro chanceler da normalidade", avalia o filósofo.

Capítulo novo -

Sloterdijk defende o chefe de governo alemão, afirmando que "sabe-se que ali não fala um chauvinista ou um antieuropeu, mas alguém que sinaliza claramente que, no âmbito das relações teuto-americanas, é necessário virar a página de um novo capítulo". Aqui, Sloterdijk faz ainda questão de acentuar que "uma virtude elementar da democracia alemã de hoje é a capacidade de diferenciar entre os EUA como projeto cultural aliado e a administração de Bush".

A postura do premiê alemão de opor-se a Washington teria sido a prova de que a Alemanha está adulta o suficiente para dizer não quando necessário. "O não alemão, neste caso, é acima de tudo uma posição simbólica e moral, uma forma específica de discutir o caminho dos EUA", completa Sloterdijk.

Modelando o patético -

Além da defesa do não a Washington, o filósofo vai além, ao comentar a "histeria" provocada pela mídia em relação aos atentados terroristas nos EUA. "Desde o 11 de setembro de 2001, o mundo ocidental transformou-se em um grande laboratório de sugestões autoplásticas, no qual o modelar com material patético tornou-se uma ocupação de massa. Contra as exigências desta histeria só ajuda, em minha opinião, um pouco de sangue-frio."

Ao ser questionado pelo repórter da revista Profil se o 11 de setembro o teria deixado da mesma forma que antes do ocorrido, Sloterdijk foi taxativo: "Eu pertenço, graças a Deus, ao grupo de pessoas que liga o 11 de setembro desde muito tempo ao dia de nascimento de Theodor W. Adorno. Me mantenho firme na avaliação de que esta associação, sob o ponto de vista da história da cultura, continuará sendo a mais importante."