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"O Ocidente deve ouvir o que a Rússia tem a dizer", afirma especialista

Nils Naumann (md)6 de setembro de 2013

Moscou não descarta aprovar ataque à Síria se houver provas incriminando Damasco. Politóloga Sabine Fischer vê Kremlin num dilema e diz que Ocidente deve aproveitar reunião do G20 para ouvir anfitrião do encontro.

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O presidente russo, Vladimir Putin, recebe o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, para cúpula do G20
Foto: Getty Images

Oficialmente, o conflito sírio não está na agenda da cúpula do G20, que termina nesta sexta-feira (06/09) em São Petersburgo, na Rússia. O presidente russo, Vladimir Putin, rejeitou até esta semana um ataque militar contra o governo sírio.

Mas, na quarta-feira, véspera da reunião, Putin demonstrou estar aberto ao diálogo, acenando com a possibilidade de uma aprovação russa a um ataque liderado pelos EUA, contanto que sejam apresentadas de evidências "convincentes" do envolvimento de Damasco num ataque com armas químicas ocorrido há duas semanas na periferia da capital e que, segundo os EUA, teria causado a morte de mais de 1.400 pessoas.

Em entrevista à Deutsche Welle, a cientista política Sabine Fischer, diretora do grupo de pesquisa sobre o Leste Europeu do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (Stiftung Wissenschaft und Politik), afirma que, caso o Ocidente deseje atrair o Kremlin para seu lado na questão síria, deve aproveitar o encontro das 20 maiores economias do planeta para ouvir o que Moscou tem a dizer.

DW: Putin está começando a virar as costas para Assad?

Sabine Fischer, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança
Sabine Fischer, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de SegurançaFoto: SWP

Sabine Fischer: Nos últimos dois anos, sempre houve momentos em que tivemos a sensação de que a liderança russa tentava se distanciar levemente do regime sírio, sinalizando uma possível união com a comunidade ocidental. É um sinal enviado aos EUA e a seus aliados de que a Rússia está disposta a negociar. Isto está, naturalmente, relacionado com a cúpula do G20.

O quanto de seriedade a senhora vê na afirmação de Putin de que ele apoiaria um ataque militar?

A declaração de Putin continua a deixar muitas alternativas abertas para a liderança russa. Pois Putin formulou um requisito: de que sejam apresentadas provas claras de que o regime sírio usou armas químicas. E somente nessas condições, o governo russo estaria eventualmente disposto a apoiar um ataque militar.

A liderança russa está em uma situação difícil. A Rússia apoiou o regime de Assad de forma consequente nos últimos dois anos. O país tem interesses muito específicos relacionados com a Síria na região. Por outro lado, a Rússia foi ficando cada vez mais isolada da comunidade internacional.

No plano mundial, a Rússia vinha insistindo com veemência, nos últimos anos, no respeito ao direito internacional. Se agora o regime sírio realmente violou o direito internacional através desse suposto uso de gás venenoso, e de uma forma tão brutal, então a liderança da Rússia fica numa posição bastante desconfortável. Moscou teria que retirar seu apoio à liderança síria. Acho que até por isso, Putin resolveu abrir essa opção através de sua declaração.

O que o Ocidente poderia fazer para fazer a Rússia mudar de lado?

Agora, é absolutamente essencial que o Ocidente e especialmente o presidente dos EUA aproveitem a cúpula do G20 para ouvir o que a Rússia tem a dizer. Obama também conseguiu ganhar cerca de 10 dias para esforços diplomáticos, com sua decisão de consultar o Congresso americano antes de um ataque militar.

Presidente russo, Vladimir Putin, cobra provas "convincentes" contra Assad
Presidente russo, Vladimir Putin, cobra provas "convincentes" contra AssadFoto: Reuters

Mas, para conseguir aprovação russa para uma ação militar contra Damasco, é necessário que sejam apresentadas evidências às Nações Unidas de que armas químicas foram usadas e também provas de que o regime sírio foi autor do ataque.

Qual a importância da Rússia para a Síria?

A Rússia é, obviamente, importante para a Síria como parceiro comercial, fornecedor de armas e como aliado político no cenário internacional. Ao mesmo tempo, também se tornou claro que, nesta guerra civil, o regime sírio persegue sobretudo seus próprios interesses. Ficou claro também que Damasco não leva em conta a posição da Rússia quando se trata de um possível recurso a armas químicas.

A Rússia não controla o regime sírio. Assim, a Rússia é colocada numa posição difícil com as ações do governo Assad.

Caso a Rússia venha a retirar seu apoio ao governo sírio, isso poderia significar o fim do regime Assad?

Não acredito que uma mudança na posição russa provoque o fim dessa guerra. O regime está com as costas contra a parede, lutando para sobreviver. Existe uma dinâmica própria que não pode ser influenciada pela Rússia.