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O papa e o catolicismo na Alemanha

am / sm4 de abril de 2005

Um forte vínculo dos cristãos alemães com João Paulo II é o reconhecimento de sua contribuição para a reunificação da Alemanha.

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João Paulo II: um dos pontificados mais longos na história da Igreja CatólicaFoto: AP

Mesmo sendo conservador nas questões religiosas e litúrgicas, o papa era uma pessoa alegre e moderna. Esta sempre foi, pelo menos, a impressão do cardeal Karl Lehmann sobre o Sumo Pontífice. Inúmeras vezes, ele pôde testemunhar as reações humanas, o bom humor e a presença de espírito de João Paulo II.

O papa e o fim do comunismo

Kardinal Karl Lehmann
Cardeal Lehmann (ao centro), com o papa João Paulo II (de costas)Foto: AP

Lehmann sempre reiterou a importância da atuação do papa para a derrocada das ditaduras comunistas no Leste Europeu. João Paulo II não gostava de conversar sobre o assunto, "mas, com toda a certeza, o papa da Polônia fortaleceu a resistência contra o regime comunista, através da defesa dos direitos humanos e da denúncia das injustiças".

Para o presidente da Conferência dos Bispos Alemães, a população alemã tem muito o que agradecer a João Paulo II: "A reunificação da Alemanha é certamente um dos fatos para os quais ele contribuiu. Ela foi uma conseqüência da queda dos regimes comunistas no Leste e no Sudeste europeus. Não há dúvida de que o povo polonês teve uma grande participação neste processo. E isto foi possível porque o papa deu um enorme apoio moral aos poloneses".

As visitas à Alemanha

Karol Wojtyla sempre teve um intenso relacionamento com a Alemanha e os alemães. Ainda como arcebispo de Cracóvia, na década de 70, ele visitou a Alemanha diversas vezes, incentivando sempre a reconciliação entre os poloneses e os alemães.

Papst Johannes Paul II. in Deutschland - 1980
Chegada de João Paulo II a Bonn, em sua primeira visita à Alemanha como papa, em 1980Foto: dpa

Como papa, fez três visitas à Alemanha – em 1980, 1987 e 1996. Na primeira delas, foi recebido com enorme entusiasmo. A última visita de um papa à Alemanha datava de mais de 200 anos. As missas campais celebradas pelo Sumo Pontífice tiveram a participação de 1,5 milhão de fiéis. Em 1987, o entusiasmo dos católicos alemães mesclou-se com vozes críticas.

Nove anos depois, em 1996, a visita de João Paulo II chegou até mesmo a ser acompanhada por protestos agressivos durante a missa campal em Berlim. No entanto, a imagem do papa no Portão de Brandemburgo teve um caráter extremamente simbólico, lembrando a sua contribuição para a transformação da Europa e, indiretamente, a queda do Muro de Berlim.

Influência alemã no Vaticano

Sempre foi muito complexo o relacionamento entre os católicos alemães e o papa João Paulo II. Existe polarização e polêmica nas questões litúrgicas e teológicas, além de concepções distintas sobre aspectos da organização administrativa da Igreja. Mas tudo isto acompanhado por fascinação e admiração mútuas.

No passado, o episcopado alemão não chegou a ter uma influência tão grande sobre a trajetória da Igreja Católica como agora, principalmente através da atuação dos cardeais Joseph Ratzinger, Walter Kasper e Karl Lehmann. Ratzinger é o prefeito da Congregação pela Doutrina da Fé, em Roma, e considerado a pessoa mais poderosa no Vaticano, depois do papa. Walter Kasper é presidente, também em Roma, do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos. E Karl Lehmann, o presidente da Conferência dos Bispos Alemães, é uma voz sempre muito ouvida no Vaticano.

Graves divergências

Apesar da influência dos cardeais alemães na Santa Sé, as divergências entre a base da Igreja Católica na Alemanha e o Vaticano tornaram-se cada vez mais graves, de ano para ano. Os atritos vieram à tona, por exemplo, quando o papa decidiu suspender teólogos progressistas, como Hans Küng (em 1979), Uta Ranke-Heinemann (em 1987) e Eugen Drewermann (em 1991).

Eugen Drewermann
Eugen Drewermann, teólogo e psicanalistaFoto: AP

No tocante à parte administrativa, a pior desavença foi registrada em 1988, quando o cardeal Joachim Meisner foi nomeado arcebispo de Colônia pelo papa, contra a vontade da base diocesana. A decisão do Sumo Pontífice gerou protestos dos católicos alemães e a divulgação de uma Declaração de Colônia, assinada por 160 professores universitários, contra o "centralismo romano".

Aborto: o grande conflito

Os maiores desentendimentos entre a base católica alemã e João Paulo II foram causados pela legislação alemã sobre o aborto. A lei permite a interrupção da gravidez se a gestante provar ter procurado antes um aconselhamento espiritual e psicológico e, ainda assim, não ter encontrado outra solução.

Os centros de aconselhamentos das dioceses alemãs forneceram inicialmente os atestados exigidos por lei, quando requisitados pelas consulentes. Isto, no entanto, foi não apenas repreendido, mas também terminantemente proibido pelo Vaticano.

Como reação, a base leiga da Igreja Católica alemã criou uma instituição própria, que aconselha as gestantes e continua fornecendo os atestados, numa atitude de franca desobediência às ordens do papa.