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O silêncio europeu

(sv)28 de janeiro de 2003

O Fórum Econômico de Davos nunca contou em sua história com tão parca representação européia. Políticos do primeiro escalão, entre eles alemães, optaram pela ausência em massa.

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Davos: grandes medidas de segurança para pouca genteFoto: AP

O diário suíço Basler Zeitung chamou o encontro em Davos de "um meeting superestimado com ar rarefeito", onde faltam novas idéias e além do small talk, nada é trocado. De uma das mais importantes reuniões da economia mundial, Davos parece ter se degradado a um mero ato que celebriza a conversa de botequim das elites econômicas.

Sem caminho de volta –

Não é à toa que seu organizador, o professor de Administração de Empresas Klaus Schwab, alerta para a chegada de "um momento histórico extremamente difícil". Segundo Schwab, nunca antes, nos 33 anos de existência do Fórum, a situação teria sido tão "frágil, complicada e perigosa".

Sob o slogan "Criando Confiança" (qual outro lema teria sido possível em tempos de vacas tão magras?), Davos parece estampar o que a economia mundial sabe, mas os políticos se recusam a ver: "que não há caminho de volta às antigas receitas", como observa o próprio Schwab.

Recessão, escândalos financeiros, crashs nas bolsas, terrorismo e uma iminência de guerra fizeram com que a elite política européia preferisse a distância desse diálogo de ricos, iniciado há mais de três décadas e cultivado durante muito tempo por chefes de governo e de Estado. No caso alemão, por exemplo – a maior economia da UE – ficou claro que tempos como os em que o ex-chanceler Helmut Kohl seguia rumo a Davos acoplado de seus principais ministros são hoje apenas uma pálida lembrança.

Outras (pre)ocupações – Enquanto a França enviou pelo menos seu ministro das Finanças ao encontro, Berlim compareceu em 2003 apenas com dois secretários de Estado de seus ministérios: o teuto-brasileiro Caio Koch-Weser (Finanças) e Alfred Tacke (Economia).

A desculpa utilizada foi a de que políticos do primeiro escalão estariam ocupados com as dissonâncias transatlânticas em função de uma possível guerra dos EUA contra o Iraque. Koch-Weser, como representante oficial, foi obrigado a repetir que a Alemanha vai fazer de tudo para manter o pacto de estabilidade da UE, tendo que ouvir que o país, ao contrário de vários de seus vizinhos e parceiros, não tem cumprido suas tarefas de casa à risca.

Entre uma batida aqui e ali na tecla do óbvio do abc econômico, a questão Iraque acabou dominando as discussões do Fórum. A ausência da cúpula política européia rendeu bons ataques do organizador Schwab: "Me incomoda que os chefes de governo, que lamentam com tanta freqüência a hegemonia dos EUA, não usem essa chance para o diálogo".

Enviado dos pobres –

O grande destaque do Fórum dado pelos jornais alemães foi a presença do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, desempenhando a função de uma espécie de pombo-correio dos que estão "do outro lado".

Se continuar assim, as autoridades suíças não vão, nas próximas versões do encontro, precisar de um esquema de segurança tão austero quanto o de hoje. É possível que os manifestantes antiglobalização desistam de tentar chegar a Davos, pois de cúpula da economia mundial o encontro pode não guardar nem mais rastros.