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Relações Transatlânticas

Anna Kuhn-Osius (ca)6 de novembro de 2008

Como novo chefe de governo norte-americano, Barack Obama melhorará a imagem dos Estados Unidos no mundo, disse o presidente do Conselho do Atlântico dos EUA, Frederick Kempe, em entrevista à DW-WORLD.DE.

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Obama poderá aproximar Estados Unidos da EuropaFoto: AP

Uma das funções do Conselho do Atlântico dos Estados Unidos (Acus, na sigla em inglês), segundo a página de internet da organização, é promover o debate de assuntos internacionais, tendo como base o papel central da comunidade do Atlântico na resolução dos desafios do século 21.

DW-WORLD.DE conversou com seu presidente, Frederick Kempe, sobre a vitória de Barack Obama e seu efeito nas relações transatlânticas.

DW-WORLD.DE: O que significa a vitória de Barack Obama?

Frederick Kempe Präsident vom Atlantic Council in Washington
Fred Kempe: 'Europeus têm que aproveitar esta chance'Foto: picture-alliance/ dpa

Fred Kempe: O que vivenciamos agora nos Estados Unidos é um momento histórico: pela primeira vez na história mundial, um país cuja maioria da população é branca elege um representante de uma minoria racial como seu presidente. Isto nunca aconteceu antes. A eleição de Obama é um sinal nosso para o mundo de que os EUA podem se modificar. Nós mostramos a nós mesmos e ao mundo que os norte-americanos ainda têm a grande capacidade de se reinventarem.

Quais são agora as tarefas e os desafios mais importantes, aqueles que Obama deve tratar primeiramente?

Em primeiro lugar, Obama deve começar de imediato a melhorar a nossa reputação, a nossa imagem no mundo. Estrategicamente, isso é de grande importância, pois para qualquer política de relações exteriores temos que ganhar parceiros e as populações de tais parceiros. Em segundo lugar, a crise financeira nos afeta. E aí também Barack Obama tem que reagir, antes mesmo de assumir o governo.

Eu acho que, já nos próximos dias, ele nomeará seu secretário do Tesouro. Talvez ele comece a trabalhar de forma estreita com a administração Bush, até mesmo antes do encontro internacional de chefes de Estado e governo a se realizar em 15 de novembro próximo, para encontrar soluções conjuntas.

A política de Obama será mesmo tão diferente daquela praticada por Bush?

Em termos de conteúdo, Obama fará política bastante similar a de George W. Bush em algumas áreas, principalmente na de política externa. Mas ele saberá vender tal política de forma mais inteligente que seu antecessor. E, por tal, ele pode ganhar os habitantes de países parceiros dessa política – de Alemanha e França até a África. Obama precisa e quer trabalhar multilateralmente. O mais importante agora é uma integração maior com a Europa. No mais tardar, até à cúpula da Otan, em abril próximo, ele viajará à Europa.

Mas entre os EUA e a Europa existem ainda muitos conflitos na área de política externa, desde a discussão em torno do futuro da Otan até o debate sobre o aumento das tropas no Afeganistão. Obama poderá resolver tais conflitos rapidamente?

Não, mas o clima deverá mudar. E a Europa deve aproveitar a oportunidade. Muitos europeus têm que começar a revisar seus preconceitos contra os EUA. Com Obama, temos uma chance completamente nova de cooperação. Se Obama pedir aos chefes europeus de governo para que se engajem mais fortemente no Afeganistão, será difícil para eles dizer "não" ao novo presidente norte-americano.

Por quê?

Obama será mais habilidoso, nota-se isso em sua eloqüência, em sua compreensão do mundo. Ele reconhecerá que Merkel também tem que se justificar dentro de seu país caso enviar mais soldados para o Afeganistão – e que muitas coisas não são praticáveis.

Mas a Alemanha poderia se engajar de outra forma. Poderia apoiar economicamente o Afeganistão ou ajudar na luta contra as drogas. Esta é a arte da aliança: cada um ajuda segundo sua possibilidade. E para coordenar isso, Obama terá mais habilidade.

E se ele não conseguir convencer os parceiros? Nós conheceremos outro lado de Obama, uma política unilateral como a de Bush?

Obama sabe que os Estados Unidos estão perdendo influência no mundo e que ele precisa de parceiros para agir internacionalmente. Por isso, ele, primeiramente, sempre tentará trabalhar com aliados. A pergunta é: a Europa quer ser este aliado?

E se a Europa não concordar e continuar não se engajando no Afeganistão e em outras regiões de crise no mundo, vamos então, dentro de um ano, olhar para trás e constatar que perdemos uma chance histórica nas relações transatlânticas. Ou seja, os europeus têm que aproveitar esta chance!

Como é realmente esta chance?

Acredito que algo muito importante poderá acontecer nas próximas semanas e meses na relação entre a Europa e os EUA. Talvez um novo fórum ou uma nova aliança. É hora de falar sobre problemas e sobre possíveis soluções – e talvez criar novas instituições.

Nós temos agora uma grande oportunidade de mostrar ao mundo que não somente somos uma superpotência militar, uma superpotência econômica, mas que também somos, novamente, uma superpotência moral e uma superpotência de idéias.