1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Onde o camelo passa pela agulha

rw22 de maio de 2003

Em pleno Ano da Bíblia, um parque zoológico alemão virou Arca de Noé e oferece passeios dirigidos, em que as crianças aprendem sobre a vida dos animais e as histórias em que aparecem no Livro Sagrado.

https://p.dw.com/p/3fYK
Animais ajudam a contar histórias da BíbliaFoto: AP

O boi e o jumento não assistiram ao nascimento de Jesus, nem o camelo viajou com os Reis Magos, explica Eleonore Reuter. A teóloga irrita-se cada vez que se depara com os "mal-entendidos" sobre bichos na Bíblia. Nada melhor que aproveitar o Ano Internacional da Bíblia (2003) para colocar em pratos limpos o papel do reino animal nas histórias do Reino de Deus.

Aproveitando-se do fato de parques zoológicos geralmente oferecerem passeios temáticos guiados a grupos de escolares, Eleonore ajudou na especialização de mais de 40 teólogos e estudantes de Biologia, que acompanham os jovens visitantes.

"Nunca vimos nossos animais sob esta perspectiva", admite Jörg Flisse, chefe do Departamento de Educação do parque, "mas se pensarmos que nosso objetivo é preservar a Criação, nada melhor que apresentar o zoológico como uma Arca de Noé."

Religião em vez de Biologia

Steinbock: Maximilian Hahl BG Wildlife Photographer of the Year Competition
Foto: Maximilian Hahl

Em vez de falar sobre o pêlo, os chifres ou as preferências alimentares do bode, a professora pergunta a um grupo de alunos: "Existe uma expressão muito comum naquela época, ainda usada hoje em dia. Já ouviram falar de bode expiatório?"

Claro, todos já ouviram, mas não sabem o que significa. A professora conta que, naquela época, as pessoas usavam um bode para "expiar" seus pecados. "Elas colocavam suas mãos sobre o animal, tentando transmitir os pecados para ele. Depois, o levavam para morrer no deserto, carregando os pecados da humanidade. Rezavam, então, para que Deus aceitasse o sacrifício."

Os animais na Bíblia representam imagens religiosas ou imitam características divinas, explica Eleonore. Como o leão. "Quando ele ruge, pode-se ouvir seu som a quilômetros de distância. Como Deus, que é respeitado e suas palavras são ouvidas muito longe."

Presépio, urubu e mal-entendidos

Nem sempre as explicações são fáceis. Junto aos camelos, por exemplo, ela tem de justificar por que, segundo o Livro Sagrado, o bicho passaria no buraco de uma agulha. As crianças aprendem ser apenas uma comparação, pois certa vez o apóstolo Lucas teria dito ser mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar para o reino dos céus.

Mas como o boi e o burro foram parar no presépio? A especialista em temas bíblicos está convicta de que estes dois animais não assistiram ao nascimento de Jesus. Esta interpretação apareceu no século terceiro, inspirada no Livro do Profeta Isaías: "O boi conhece o seu possuidor e o jumento, a manjedoura de seu dono."

Outro mal-entendido, segundo Eleonore, refere-se à águia, citada no Velho Testamento. O animal mencionado inicialmente era um urubu. A teóloga acredita que a transformação tenha acontecido durante a tradução da Bíblia para o grego, "provavelmente porque a águia é mais bonita e tem uma conotação menos pejorativa".