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20 anos depois

9 de novembro de 2009

O 20° aniversário da queda do Muro é comemorado em toda a Alemanha, enquanto persistem críticas ao processo de reunificação do país. O 9 de novembro de 1989 foi, porém, um dia de sorte na história alemã, opina Marc Koch.

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Foi o dia das imagens comoventes, das confissões emocionantes e naturalmente também do páthos e da trivialidade. Mas o 9 de novembro de 1989 foi sobretudo um dia de sorte que ofusca todo o resto da história recente alemã e da história europeia.

Esse dia não apenas assistiu ao desmoronamento de um sistema injusto e debilitado, reunificando novamente um país divido durante 40 anos. O 9 de novembro de 1989 foi também o dia em que valores como unidade, Direito e liberdade, evocados com razão durante décadas, puderam ser vivenciados por qualquer um, num momento triunfal em que a sociedade aberta pôde celebrar a si mesma.

Vinte anos mais tarde, ainda é preciso lembrar uma coisa: não foi o Ocidente nem nenhum político que tornaram este dia possível. Foram os cidadãos da RDA que, nas ruas tristes de seu Estado entre muros, não reclamaram nada além do Direito que lhes competia. O fato de que os protestos pacíficos, semanas a fio, tenham levado ao desabamento da muralha de concreto e arame farpado foi uma autoafirmação da história de uma Constituição democrática e dos valores nos quais ela se baseia.

Nisso deveriam pensar hoje todos aqueles que criticam o estado da unidade alemã, que esquadrinham o suposto desmoronamento econômico do Leste ou que fazem uso de seu direito a eleições livres, secretas e democráticas, para dar o voto a partidos que coqueteiam com um retorno de experimentos socialistas.

É claro que nem tudo correu de forma ideal nesses 20 anos do processo de reunificação: promessas precipitadas não puderam ser cumpridas. A terapia de choque com a qual a economia social de mercado foi levada à paisagem econômica em ruínas da ex-Alemanha Oriental foi para muitos, de início, uma experiência dolorosa. No entanto, não havia alternativa. Pois, por fim, a revolução na RDA não modificou somente um país de maneira fundamental, mas também toda a ordem mundial.

Em 9 de novembro de 1989 chegou ao fim uma era intermediária da história, que já durava 44 anos e que, apesar de todo clima de ameaça do conflito internacional entre Leste e Oeste, foi também uma era de comodidades. O mundo de hoje, mais complexo, menos compreensível e que demanda mais explicações como nunca antes, está também relacionado à queda do Muro de Berlim. Por isso, lamentar os velhos tempos não é somente uma burrice histórica, mas também uma ofensa àqueles que lutaram ativamente para que esse 9 de novembro tenha sido possível.

Vinte anos mais tarde é certamente ainda muito cedo para que haja uma percepção real da Alemanha como um todo a respeito deste acontecimento. Talvez por isso faltem nas incontáveis cerimônias, nos artigos e documentações em memória do fato, quase sempre dois elementos decisivos: o júbilo e o orgulho por este momento dramático e irrecuperável, no qual pessoas do Leste e do Oeste se abraçavam, chorando de comoção e perplexidade – muito antes que a política e a economia iniciassem o processo de unificação.

Este 9 de novembro de 1989, que surpreendeu tão inesperadamente um país, mostra até hoje que qualquer sofisticado sistema repressor pode desmoronar – também em Cuba, no Irã, na Coreia do Norte. Por isso esse dia não é um dia de êxito apenas para a Alemanha. Seria um sinal importante do ponto de vista político e também historicamente correto transformá-lo, enfim, num feriado nacional.

Autor: Marc Koch

Revisão: Roselaine Wandscheer