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Opinião: A inação da UE é o verdadeiro perigo

9 de novembro de 2015

O chefe da diplomacia luxemburguesa teme que a União Europeia sucumba diante da crise dos refugiados. O perigo existe, mas o diagnóstico das causas está totalmente equivocado, opina o jornalista Christoph Hasselbach.

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Christoph Hasselbach
Christoph Hasselbach é jornalista da DWFoto: DW/M.Müller

O ministro do Exterior de Luxemburgo, Jean Asselborn, faz soar o alarme: o egoísmo nacional toma o lugar do espírito comunitário; o isolamento, o das fronteiras abertas; o nacionalismo, o dos valores humanos. No prazo de poucos meses, o Espaço de Schengen, no qual não existe controle de fronteira, poderá entrar em colapso, e com ele, uma das maiores conquistas da Europa, diz.

O luxemburguês fala até mesmo da possibilidade de uma guerra. Ele vê se esfacelar o "cimento que nos mantém unidos", e esse cimento "ainda é a cultura dos valores humanos".

Asselborn louva a liberal política para refugiados da Alemanha. No entanto, certos políticos se aproveitam do tema para incitar ao medo, e é preciso se contrapor a esse "ludíbrio".

O perigo que Asselborn vê realmente existe, mas numa forma diferente da que ele pensa. E, por isso, ele tira as conclusões erradas. Por um lado, ele se engana sobre a causa dos temores. A população da Europa tem medo do afluxo descontrolado de refugiados, e não por estar sendo ludibriada por charlatães de direita.

Os cidadãos europeus são confrontados diariamente com a assustadora impotência de seus Estados e da União Europeia. Só na Alemanha, diariamente milhares de pessoas atravessam desimpedidas a fronteira, mesmo depois de o governo federal ter estipulado uma série de medidas restritivas.

Sobre muitos dos migrantes, as autoridades não sabem quem eles são, de onde vêm, nem onde, exatamente, estão vivendo. Isso vem ocorrendo há meses. Um Estado que não tem mais controle sobre quem está atravessando suas fronteiras: isso não é motivo de intranquilidade?

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, continua se aferrando a sua política para refugiados sem teto máximo de ingressos – e faz campanha em seu favor junto aos parceiros europeus. Há muito ela vem até dando a impressão de que a perda de controle nem a incomoda tanto assim. Não é de espantar que os outros governos se afastem. Mesmo na Alemanha, a posição de Merkel está cada vez mais solitária.

Por isso Asselborn também está errado com a solução que sugere: a forma de evitar a desintegração da Europa, justamente, não é declarar injustificados os medos e apelar aos valores, mas frear o afluxo em massa, e radicalmente. Mas Asselborn não quer saber de nada disso. Mesmo no tocante ao controle das fronteiras externas europeias, ele rejeita o isolamento. Só é preciso a UE "saber quem vem até nós, para quê".

É justamente esse laissez-faire sob capa moral que coloca a Europa em perigo. Por isso partidos radicais de direita conquistam campo a cada eleição. Por isso muitos governos não veem nenhuma alternativa a não ser ajudarem a si mesmos, reinstaurando os controles de fronteira ou até mesmo fazendo erguer cercas nas fronteiras internas da União Europeia.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, vê mais longe. O reservado polonês comentou assim o atual estado da UE: "Uma Europa sem fronteiras externas se transforma num solo fértil para o medo." É exatamente esse o problema.

Por isso a distribuição dos refugiados dentro das fronteiras da UE tem fracassado tão fragorosamente até agora. Enquanto se mantiver um afluxo irrestrito, uma regra fixa de distribuição praticamente seria a garantia de que virão cada vez mais. Os cidadãos esperam da Europa que ela freie conjuntamente o afluxo migratório, e não que simplesmente o distribua de forma diferente.

A consequência não é agradável, mas necessária: quem quiser salvar a coesão europeia deve cuidar para que UE retome o controle sobre a imigração. Isso não significa uma suspensão do acolhimento, mas certamente uma clara limitação.