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Gás

8 de janeiro de 2009

Por trás do conflito sobre o abastecimento de gás entre a Rússia e a Ucrânia está uma medição de forças entre os governos dos dois países, comenta Thomas Urban.

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16.08.2007 Quadriga Gast Thomas Urban
Thomas UrbanFoto: DW-TV

No sexto dia do conflito russo-ucraniano a respeito do fornecimento de gás natural aos países da União Europeia, o presidente Vladimir Putin falou abertamente que os Estados europeus teriam agora, enfim, compreendido quão importante e urgente é a construção do gasoduto planejado para cortar o Mar Báltico. Será que Putin nomeou, com isso, a verdadeira razão do conflito que afeta principalmente o Sudeste Europeu, mas também desperta grandes temores na Europa Ocidental?

Da declaração de Putin pode-se concluir o seguinte: a Ucrânia deve ser desacreditada como país de trânsito não confiável perante os países da UE. De acordo com os cálculos de Moscou, a UE deveria, afinal, levar adiante o projeto de construção da pipeline pelo Mar Báltico, a fim de não permanecer por mais tempo dependente da Ucrânia, que, além de tudo, ainda é um país politicamente instável.

A isto se opõem de forma decisiva, porém, cinco membros da UE: a Suécia e a Polônia, bem como as três ex-repúblicas soviéticas bálticas Lituânia, Letônia e Estônia. Estes países justificam oficialmente suas preocupações mencionando os riscos para o meio ambiente: no fundo do Mar Báltico há ainda restos de armas químicas da Segunda Guerra Mundial e estes se encontram exatamente na área pela qual deverá passar o novo gasoduto.

No entanto, os governos dos cinco países veem a questão da pipeline como possível meio de pressão política usado pelo Kremlin, pois através do gasoduto a Polônia perderia sua importância como país de trânsito, ficando, da mesma forma que os três países do Báltico, desatrelada da rede europeia de abastecimento. Neste caso, os quatro países poderiam ser politicamente pressionados por Moscou. Da mesma forma que o Kremlin tenta agora fazer com a Ucrânia.

Putin não omitiu nos últimos anos que Moscou iria fazer uso da "arma da energia", caso a Ucrânia continuasse ambicionando integrar as alianças ocidentais União Europeia e Otan. Como grande parte dos políticos da Europa Ocidental aponta agora Kiev como corresponsável pelo atual conflito, é possível que a estratégia de Moscou tenha dado certo. Apesar dos esforços das lideranças ucranianas em se colocarem como vítimas da política russa de poder, o país, até agora, não parece de forma alguma mais próximo de um ingresso nas alianças. Muito pelo contrário, é possível que a meta do presidente reformista ucraniano Victor Iuchtchenko esteja ainda mais longínqua.

Entretanto é bastante provável que a briga de força entre Moscou e Kiev acabe com uma vitória de Pirro: pois entre os países da UE são cada vez mais altas as vozes que exigem uma redução enérgica da dependência das matérias-primas russas. Isto significa que a guerra russo-ucraniana pelo gás acaba com uma derrota para os dois lados: a Ucrânia como país não confiável de trânsito e a Rússia como fornecedor não confiável, que além de tudo faz uso político de suas matérias-primas para manter os países vizinhos sob sua esfera de influência.

O vencedor poderia ser a UE, caso seus países-membros optem, enfim, por uma estratégia energética comum frente aos vizinhos do Leste. O fato de que os dois lados tenham, agora, convidado inspetores da UE, reconhecendo o bloco de certa forma na posição de juiz, fortalece enormemente a importância da União. Ela só tem que saber aproveitar dicididamente essa oportunidade. (sv)