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Rússia

15 de agosto de 2008

Dimitri Medvedev ocupa a presidência da Rússia há cem dias e é supostamente o homem mais poderoso do país. Para ganhar confiabilidade, ele precisa, porém, se tornar mais autônomo, comenta Ingo Mannteufel.

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Ingo Mannteufel

O presidente Dimitri Medvedev teve azar. O conflito na Ossétia do Sul não só azedou um balanço relativamente positivo dos seus primeiros cem dias no poder. Além disso, a guerra contra a Geórgia abalou a posição de Medvedev e desmascarou a farsa de uma nova dominação dupla na Rússia, da democracia "a dois" do primeiro-ministro Vladimir Putin.

Até o início do conflito na Ossétia do Sul e da ação militar da Rússia contra a Geórgia, o balanço dos primeiros dias do presidente Medvedev no cargo era, para parâmetros russos, até positivo.

Em tempos pacíficos: cordial e liberal

Ele conseguiu, em primeiro lugar, não cometer grandes erros internos. Teria sido fatal, caso ele tivesse, logo no começo, criado problemas com algum dos grupos poderosos da elite que lidera o país.

Em segundo lugar, Medvedev conseguiu, através de declarações acanhadas, emancipar-se até certo ponto de Putin, tendo-se afirmado como personalidade própria, mesmo que dentro de determinados limites.

Em suas viagens ao exterior, ele pôde ganhar pontos com seu estilo cordial e declarações liberais e favoráveis à Europa. A notícia de que Medvedev havia cessado o processo de acirramento da lei que regula a mídia, iniciado sob o governo Putin, foi bem recebida no Ocidente.

Quando o primeiro-ministro Putin criou polêmica com um ataque de raiva público contra a empresa russa de mineração e aço Mechel, e as ações desta despencaram na bolsa, Medvedev manifestou-se com cautela contra a pressão estatal sobre uma empresa – sem, é claro, citar nominalmente seu primeiro-ministro.

Em guerra: sem plano e sem poder

Essas atitudes não foram, com certeza, atos heróicos, mas considerando as condições do complexo sistema de poder na Rússia, foram, por um momento, sinais de uma política independente do novo presidente Medvedev. Mas aí veio a guerra no Cáucaso.

A tentativa da Geórgia de assumir novamente o controle da região da Ossétia do Sul prejudicou sensivelmente o balanço dos cem primeiros dias de Medvedev no poder. No primeiro dia do conflito, ele parecia sem saber o que fazer, tendo assumido com dificuldades o papel de comandante-mor da Rússia.

Foi então que Putin, da distante Pequim, deu, como de costume, as cartas, marcadas ainda por uma visita surpresa, no sábado seguinte, a Vladikavkas, na Ossétia do Norte. Medvedev parecia, nesse momento, um vice que ficou em casa e que somente repassava os comandos de uma reação militar dura e intransigente da Rússia contra a Geórgia, sem tomar decisões próprias. Atitude que jogou por terra todas as tentativas de aproximação de Medvedev com a Europa.

Imagem positiva arranhada

Com a invasão das tropas russas na Geórgia, aumentou ainda mais o distanciamento entre o Ocidente e a Rússia. As palavras liberais e pró-européias de Medvedev caíram praticamente em esquecimento. A divisão de papéis entre bad cop (Putin) e good cop (Medvedev) também não vão funcionar mais. Tanto dentro quanto fora da Rússia, a mensagem é clara: o poder no país está nas mãos de Putin.

Se Medvedev quiser ser aceito como presidente tanto pelo povo russo quanto no exterior, terá que mostrar, com ações e palavras, que não é o homem mais poderoso da Rússia somente segundo a Constituição do país. Mesmo que isso traga desvantagens para seu mentor e primeiro-ministro Putin. (sv)

Ingo Mannteufel é chefe das redações russas de DW-RADIO e DW-WORLD.DE.