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Chávez: apoio até o fim?

12 de janeiro de 2007

O presidente da Venezuela quer transformar seu país numa república socialista, mas não é certo que a população o apoiará. Um comentário de Steffen Leidel.

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Não foi necessário esperar muito pelas novas decisões bombásticas do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Elas vieram pontualmente na sua posse e, como esperado, foram anunciadas pela televisão.

Em discurso, Chávez anunciou seus planos de estatizar as empresas de telecomunicações e eletricidade do país. Além disso, solicitou mais poder do Parlamento para implementar suas "leis revolucionárias" e defendeu alterações na Constituição, através das quais o Banco Central venezuelano perderia sua autonomia.

"Estamos caminhando na direção do socialismo, e nada nem ninguém poderá nos deter", disse Chávez. Na Bolsa de Valores de Caracas, as palavras do presidente desencadearam pânico, mas seus planos não surpreendem ninguém. Chávez apenas está levando adiante o que começou a fazer quando chegou ao poder, em 1999. Depois da ampla vitória – com mais de 60% dos votos –, ele se vê no direito de ser ainda mais incisivo. E às críticas ele responde argumentando que possui legitimidade democrática – no que tem razão.

Steffen Leidel
Steffen LeidelFoto: DW

O problema é que, mesmo que Chávez tenha sido eleito de forma democrática, a Venezuela se afasta cada vez mais da democracia. Não se pode afirmar, porém, que haja uma ditadura no país. O fato de Chávez, por exemplo, não querer renovar a concessão de um canal de televisão, chamado por ele de "golpista", é discutível. Mas isso não significa o fim da liberdade de imprensa no país, pois na Venezuela continuam existindo vários meios de comunicação que ainda exercem oposição.

Mesmo que a compreensão européia do que é uma democracia não possa ser transposta à Venezuela, a concentração de poder nas mãos de Chávez não deixa de ser inquietante. Em separação de poderes não se pode mais falar no país. O Tribunal Superior está ocupado por homens da confiança de Chávez. No Parlamento, há apenas aliados do presidente (uma situação pela qual a própria oposição é responsável, por ter boicotado as eleições parlamentares). E é provável até que o presidente venha a mudar a Constituição, de forma que possa ser reeleito depois de 2013.

Tudo leva a crer que Chávez quer instituir um socialismo nos moldes cubanos. Muito do que ele faz lembra o que Fidel Castro fez nos anos 1960. A população pobre apóia Chávez, pois recebe educação gratuita, assistência médica e a sensação de que os enormes lucros obtidos com o petróleo não vão mais parar nos bolsos de uma elite corrupta, mas estão sendo divididos entre a nação.

Mas tão logo Chávez começa a falar de Lênin e Trotsky, a gratidão acaba até mesmo entre muitos de seus seguidores. Chavismo sim; comunismo não, obrigado. Pesquisas revelam: mais de 80% dos venezuelanos são a favor da propriedade privada.

E a grande maioria quer ter a liberdade de consumo de acordo com a própria vontade, seja em redes de fast food ou em shopping centers. A Venezuela se parece muito mais com os Estados Unidos do que muitos ousam admitir - o país está a milhas de distância de ser um Estado socialista, que é aonde Chávez quer chegar com suas botas sete léguas. Não se sabe, porém, se seus seguidores irão acompanhá-lo até o fim.

Também a política de nacionalização traz riscos, que podem colocar o próprio presidente em apuros. Sem os altos preços do petróleo, a revolução de Chávez vai desmoronar como um castelo de areia. O ministro da Energia já fica nervoso toda vez que o preço do petróleo se aproxima dos 50 dólares.

Chávez também quer estatizar os projetos de extração de petróleo na bacia do Orinoco. Isso significa que as empresas estrangeiras não poderão mais investir na região. No entanto, sem os investimentos bilionários estrangeiros, o petróleo da região, rico em enxofre, não poderá ser extraído.

Com a estatização das telecomunicações, Chávez enfraquece um importante alicerce da economia venezuelana. Assim, também nesse setor extremamente dinâmico da economia, os investimentos serão freados. Chávez tem o direito de nacionalizar. Para isso, afinal, ele foi eleito. Mas sua política de estatização pode acabar se tornando um gol contra seu próprio governo.

Steffen Leidel é repórter da redação alemã da DW-WORLD. Ele é autor de reportagens sobre a Venezuela para o especial "América Latina" da DW-WORLD.