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Opinião: Crise de refugiados é desafio arriscado para Merkel

Mathias Bölinger
7 de outubro de 2015

Ao transferir para seu gabinete a coordenação da questão migratória, chanceler federal assume grande risco. Sucesso pode ser histórico, mas caso fracasse, ela não terá a quem culpar, opina o jornalista Mathias Bölinger.

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Mathias Bölinger é jornalista da Deutsche Welle
Foto: DW/C. Becker-Rau

Agora, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, parece querer dar um basta. Ela retirou do ministro alemão do Interior a responsabilidade pela política de refugiados, subordinando-a diretamente à Chancelaria Federal. Peter Altmaier, chefe do gabinete de Merkel e seu colaborador mais próximo, se tornará coordenador para refugiados.

Através de sua famosa frase "vamos conseguir", Merkel fez da política para refugiados uma de suas prioridades. Por causa dela, a chanceler recebeu muitos elogios de todo o mundo. De repente, a "chanceler de ferro", que pôs a Grécia de joelhos, se tornou, aos olhos de muitos, uma "mãe de bom coração". Mas os enormes desafios deviam ser superados por outros: os governos regionais, estaduais e o ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière.

Falta de tudo. Há muito poucos alojamentos e muito poucos funcionários para registrar os pedidos de asilo e processar a papelada. A violência é cada vez mais frequente nos abrigos superlotados. Cenas dramáticas são vistas nos centros de registro. Uma coisa é clara: do jeito que está, não conseguiremos.

Sobretudo De Maizière provocou, durante a crise, a impressão de que está sendo atropelado pelos acontecimentos. Em primeiro lugar, ele trocou o chefe da autoridade competente. De Maizière nomeou Frank-Jürgen Weise como o novo chefe do Departamento Federal de Migração e Refugiados da Alemanha (Bamf), afirmando ter encarregado "o melhor".

No entanto, Weise continuou como chefe da Agência Federal do Trabalho. De Maizière teve que colocar na chefia do Bamf um profissional emprestado do Ministério do Trabalho – em tempo parcial. Talvez o novo chefe seja mesmo alguém que tenha essa habilidade, de gerenciar, ao mesmo tempo, uma gigantesca agência federal de emprego e o Bamf, que é um grande canteiro de obras. Mas o mais provável é outra possibilidade: De Maizière tinha tão poucas opções que teve que aceitar as condições que lhe foram impostas.

Ninguém podia esperar que a Alemanha fosse lidar com essa enorme tarefa sem problemas. E, justamente por isso, é importante que o governo mostre que está fazendo todo o possível para superar a crise. De Maizière não deu essa impressão. Quando os relatos de violência nos abrigos superlotados começaram a se acumular, ele foi para a frente das câmeras e reclamou sobre a falta de "uma cultura de chegada" por parte dos refugiados. A tentativa de se colocar na vanguarda do ressentimento populista pareceu um ato desesperado. De Maizière parecia um professor sobrecarregado, que reclama da falta de respeito de seus alunos.

Com seu "vamos conseguir", Merkel assumiu um risco que é atípico para ela. Com suas palavras, ela fez da luta contra a crise um desafio a vencer. Agora ela, obviamente, entendeu não ser suficiente deixar a solução nas mãos de seu ministro do Interior. A chanceler federal poderia ter demitido De Maizière, como já fez em situações semelhantes. Em vez disso, ela decidiu fazer da superação da crise uma prioridade pessoal. Se ela tiver sucesso no controle da crise, seu "vamos conseguir" entrará para a história. Mas se não fracassar, não poderá colocar a culpa em De Maizière.