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Populismo

8 de janeiro de 2008

A reivindicação do governador de Hessen, Roland Koch, por uma mudança radical no direito penal juvenil nada mais é que a tentativa populista de assegurar sua reeleição, diz Volker Wagener, da Deutsche Welle.

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Roland Koch sabe como vencer uma eleição. O governador do estado de Hessen quer defender seu cargo este mês, mas seus índices de popularidade estão em queda. Por isso, o político conservador apelou para o populismo e encontrou um assunto que encontra eco nas conversas de botequim: a criminalidade entre jovens estrangeiros que vivem na Alemanha.

O assunto não é apenas antigo como também apenas parte de um problema maior: a brutalização da sociedade. Koch havia reivindicado que jovens estrangeiros violentos fossem submetidos a penas mais duras e mais facilmente expulsos do país. Que ele tenha vindo a público com isso justamente entre o Natal e o Ano Novo, época tradicionalmente fraca em notíciário, dá o que pensar.

É raro um político ter ao longo do ano oportunidades tão propícias de concentrar as atenções como entre as festas de fim de ano. O resultado é que, desde então, Koch domina as manchetes do país, o que não fez bem até agora nem ao tema em si nem à solução do problema.

Pelo contrário: políticos de direita e de esquerda caem em perplexidade ritual quanto à direção a tomar. Exortações em alta voz a Koch do canto burguês-conservador são seguidas de manifestações de repulsa dos liberais de esquerda, que vêem em tais reivindicações uma obra da xenofobia.

A verdade é que a porcentagem de jovens estrangeiros ou descendentes de imigrantes que incidem em violência não corresponde a sua participação na população. Na verdade, ela é maior. Mas concluir daí que existe um problema com os estrangeiros é apenas uma parte da verdade.

Uma análise das biografias de jovens alemães violentos – a grande maioria deles do sexo masculino – mostra semelhanças impressionantes com as histórias dos criminosos descendentes de imigrantes.

Os dois grupos de criminosos provêm das camadas sociais mais baixas. Famílias dilaceradas, vida à beira do mínimo para a subsistência, evasão escolar, desemprego: essas são as experiências dos jovens delinqüentes na infância e na juventude. Não importa se els se chamam Ali, Sergei ou Jürgen.

O problema da violência e da criminalidade crescente entre jovens na Alemanha é em primeiro lugar um problema das classes baixas e só em segundo lugar um problema dos estrangeiros ou imigrantes.

A violência é uma conseqüência da biografia falhada. Isto não significa reduzir a responsabilidade de cada um. Mas é preciso tomar conhecimento de que a política alemã de integração fracassou em grande grande, e de que nosso sistema educacional cimenta já a partir do jardim-de-infância as diferenças estruturais.

Esses pontos fracos da sociedade não serão superados por meio de penas mais duras e de deportações. Os Estados Unidos são um exemplo disto. Prisões superlotadas e castigos draconianos, inclusive a pena de morte, não tornaram as cidades lá mais seguras. Pelo contrário.

E mais uma coisa chama atenção neste debate desonesto e de finalidade tática. Se Roland Koch e seus asseclas querem realmente ações mais efetivas perante o "Ali arruaceiro" e o "Sergei ladrão", por que então ele cortou no exercício de seu mandato como governador 700 vagas de policiais e 80 de juízes?

Em resumo: certos temas são sérios demais, antigos demais e complexos demais para servirem apenas a interesses partidários e eleitoreiros. O mais tardar a 27 de janeiro, dia da eleição em Hessen, o problema vai desaparecer do debate público – sem ter sido solucionado. (lk)

Volker Wegener trabalha na Redação Central da Deutsche Welle.