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Necessidade de diálogo

15 de junho de 2009

Até Ahmadinejad reconhece a necessidade de dialogar com a comunidade internacional. Mas não sobre o programa nuclear ou os direitos humanos. Situação no Irã custará um tanto a se estabilizar, opina Peter Philipp.

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Um comentarista israelense avaliou o resultado do pleito presidencial iraniano com a observação que a reeleição de Mahmud Ahmadinejad não era assim tão ruim para a política de Israel. E – caso ainda estivesse no cargo – George W. Bush certamente teria esfregado as mãos de satisfação. O estereótipo do Irã como inimigo pode ser mantido.

O sucessor de Bush, Barack Obama, deve pensar de outro modo. E sua decisão de manter a reserva antes das eleições, não expressando quaisquer preferências, foi acertada. Afinal, já era mesmo para se contar com a reeleição (embora não sob as atuais circunstâncias), e louvor da Casa Branca teria destruído qualquer candidato de oposição antes mesmo da abertura das urnas.

Além disso, a questão do estereótipo de inimigo vale para ambos os lados. Rivalidades eleitorais à parte, Ahmadinejad demonizou seus adversários como capangas dos inimigos estrangeiros. Isso combina com a autoimagem que promove, de guardião da revolução e "vingador dos desfavorecidos".

Apesar de tais insultos, o presidente reeleito também deseja o diálogo externo, sobretudo com os Estados Unidos. Certamente não sobre o programa nuclear, os direitos humanos, o papel da mulher ou o conflito no Oriente Médio – os "temas de sempre" do Ocidente em relação ao Irã. Ahmadinejad quer explicar a Obama como poderia ser um mundo melhor; um mundo onde não sejam uns poucos a ditar as regras, mas sim os povos do mundo inteiro. Para Ahmadinejad vem a calhar poder utilizar a própria vitória eleitoral como argumento. Porém Obama dificilmente se deixará impressionar.

Apesar disso: o presidente dos EUA e seus principais aliados ocidentais sabem há um bom tempo não serem praticáveis as presentes exigências de que os iranianos suspendam o enriquecimento de urânio. E que os demais candidatos à presidência iriam ignorá-las, do mesmo modo. Oficiosamente, já se começou a considerar o Irã uma potência nuclear. Até mesmo em Israel uma enquete recente revelou que uma maioria já aceita o fato. Porém isso não tira a importância do diálogo.

O material para conflito acumulado nos últimos 30 anos é tamanho que não se pode nem deve esperar mais outros quatro anos para eliminá-lo – e então com resultado incerto. A base para o diálogo existe, sem dúvida: o Irã não quer ser comandado, e Obama justamente se recusa a desempenhar esse papel.

Não há dúvida que também Washington preferiria, no fundo, um interlocutor mais agradável. Mas como ninguém escolhe seus inimigos, agora cabe tentar trabalhar com eles para eliminar as diferenças. Os iranianos – e não apenas os desiludidos– ficarão, com certeza, gratos por um movimento em direção ao diálogo. Seu interesse não pode ser a violência e a agitação: elas só trazem sofrimento e nova repressão.

Assim, não são poucos os que devem aguardam temerosos o que Ahmadinejad planejou para o campo da política interna. Embora pudesse perfeitamente tê-lo feito nos quatro anos de seu primeiro mandato, ele quer agora combater a corrupção com todos os meios, sem poupar os escalões mais elevados – por exemplo, o ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani.

Este perdeu para Ahmadinejad por uma pequena margem em 2005, porém continua sendo um homem extremamente importante e poderoso. Enfrentá-lo sem dúvida elevará muito a popularidade do presidente reeleito, mas também aumentará o perigo de uma confrontação aberta que ninguém quer nem precisa. A paz não reinará tão rapidamente assim no Irã.

Autor: Peter Philipp
Revisão: Alexandre Schossler