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Lima: decepcionante, mas nada surpreendente

Irene Quaile (cn)14 de dezembro de 2014

A Conferência do Clima no Peru não teve os grandes resultados esperados por alguns. Mas não se deve atribuir muita importância a essas conferências anuais, opina a jornalista da DW Irene Quaile.

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Irene Quaile é jornalista da redação de Ciência e Meio Ambiente da DWFoto: DW

Já virou rotina a prorrogação da conferência anual do clima e a luta até o último minuto por um consenso, na maioria das vezes, insatisfatório. Há tempos era claro que nesta rodada grandes anúncios não eram esperados. Não foi à toa que Estados Unidos e China sinalizaram antecipadamente sua prontidão em contribuir com a proteção climática.

Isso foi bom para os ânimos gerais, sem que se precisasse anunciar objetivos ambiciosos. Que nem China, nem Estados Unidos queiram permitir que seus dados e progressos sejam fiscalizados externamente, também não surpreenderia ninguém.

Os países têm tempo até maio próximo para apresentar números e objetivos concretos para o novo acordo global do clima, que deve ser assinado no final de 2015, em Paris. Seria ingenuidade esperar que eles se permitiriam ser pressionados para fazer isso já agora em Lima.

O apelo do secretário de Estado dos EUA durante a rodada foi um acontecimento. Não surpreende, porém, que países em desenvolvimento e emergentes não tenham tomado com entusiasmo a advertência americana de que deveriam reduzir suas emissões de CO2. Kerry pode até estar certo, mas ouvir isso de um representante de um país que no passado foi o maior contribuinte para o aquecimento global é difícil de digerir.

Proteção climática não pode mais ser adiada

O que é preciso fazer ficou definitivamente claro desde o último relatório do conselho do clima mundial deste ano. Para que as mudanças climáticas permaneçam em um nível mais ou menos tolerável, a emissão de gases do efeito estufa só pode aumentar até 2020, no máximo.

Até 2050, a maioria da demanda de energia no mundo precisa ser suprida a partir de fontes renováveis. Até 2100, a eliminação da economia fóssil deve estar praticamente concluída. E, para alcançar essas diretrizes, todos os Estados precisam contribuir.

É compreensível que os países em desenvolvimento e emergentes desejem ser tratados de maneira diferente, perante o fato de que os "antigos" países industrializados até agora foram os principais causadores das mudanças climáticas.

É de se estranhar, no entanto, que um país como a China, que se tornou um dos maiores emissores de CO2, ainda deseje ser tratado com um país em desenvolvimento. Também não pode ser ignorado que o boom do carvão na Índia será um problema enorme para o clima global.

Todo ano o mesmo espetáculo

É uma pena que a encenação anual, com a prorrogação das conversas no fim de semana e a apresentação de uma resolução bastante enfraquecida ao final, desvie os progressos ocorridos em Lima e em meses anteriores. O Fundo Verde do Clima já arrecadou mais de 10 bilhões de dólares. E os grandes poluidores China e EUA reconheceram a necessidade urgente de se implementar medidas de proteção ao clima.

É claro que palavras precisam ser seguidas de ações. Em Lima, essa regulamentação ainda não foi possível. O aumento de fenômenos climáticos extremos nos dois países e o enorme problema causado pela poluição do ar na China, porém, são a melhor garantia de que os dois países realmente irão se mexer nos próximos anos.

As medidas até agora não são, nem de longe, suficientes para proteger o mundo de um perigoso aumento na temperatura além da meta de 2°C. Com relação a isso, o encontro em Lima não alterou nada. Quem tinha muitas expectativas, só se decepcionou. No entanto, cresce internacionalmente o reconhecimento de que não há alternativas à proteção climática.

Conferências não podem salvar o mundo

Conferências do clima são importantes, pois o mundo precisa de um acordo climático vinculativo. No entanto, elas não conseguem salvar o mundo do risco do aquecimento global. Esforços para a proteção do clima não podem fazer pausa de um ano para outro. A mudança precisa acontecer na política cotidiana. A transição para fontes de energia renováveis e um modelo econômico "verde" são as chaves para o sucesso.

A decepção com a conferência no Peru está no fato de que Lima deveria ser um passo importante no caminho a Paris. O passo foi, porém, menor do que o esperado por muitos.

Se as conferências anuais do clima forem consideradas referência, aumenta a pressão e, com isso, o risco de fracassar. Muitas decisões desagradáveis foram adiadas para o próximo ano. Paris terá que regular tudo. Se as expectativas nesses eventos de duas semanas forem muito altas, eles estarão condenados ao fracasso.

Os governos do mundo precisam fazer suas lições de casa. Para que Paris possa ser um sucesso, o caminho para isso precisa ser preparado anteriormente – e não somente durante as negociações da ONU.