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Opinião: México não aprendeu a lição

Uta Thofern (ca)25 de janeiro de 2015

Quatro meses após o desaparecimento de 43 estudantes em Iguala, protestos são anunciados novamente no México. Chefe do departamento América Latina da DW, Uta Thofern, lamenta ausência de movimento político sério no país.

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Deutsche Welle Uta Thofern
Uta Thofern é chefe da redação para a América Latina da DWFoto: Bettina Volke Fotografie

O massacre de Iguala poderia ter sido o início de uma verdadeira mudança no México. Pela primeira vez, ficou provado claramente que a polícia coopera com os cartéis de drogas e que está envolvida em atos de violência – isso foi constatado e denunciado pela principal autoridade de investigação no México.

A indignação diante do fato de um prefeito ter feito desaparecer, com a ajuda de suas próprias unidades policiais, todo um grupo de manifestantes desagradáveis ofereceu a oportunidade de um levante da sociedade civil. Um levante pacífico de um Estado de direito contra a corrupção e a impunidade, num país dominado pelo medo e pela violência, depois de anos de guerras contra as drogas.

Tal movimento teria certamente ampla simpatia e apoio internacionais. Um compromisso sério da sociedade civil com ações e exigências concretas teria significado, como foi o caso da Colômbia, o começo do fim da impotência. Para quebrar o poder da corrupção, não é preciso somente a participação do Estado, mas também uma opinião pública madura.

Faz-se necessário uma sociedade civil que ofereça proteção e apoio a pessoas e instituições, que se oponha à infiltração por parte dos cartéis. É preciso um movimento político que formule alternativas – talvez outra política de drogas, um código de ética para políticos, uma maior cooperação internacional. Ideias e exemplos não faltam.

Mas o que se deve achar de um protesto, cujas exigências beiram a irracionalidade há meses? Encontrar vivos os alunos desaparecidos – este é um desejo mais do que compreensível entre os familiares. Como reivindicação política, porém, ele é ineficaz. Também não é razão para justificar novas investigações de instituições estatais. E também não serve como desculpa para ações violentas.

Então a dor a e a tristeza das famílias são instrumentalizadas, algo que elas não desejavam. Mas as imagens de seus filhos desaparecidos já se tornou há tempos símbolo de um furor, que se volta contra o "Estado" de forma tão genérica quanto difusa, inclusive contra a pessoa do presidente.

Da mesma forma que a ira e a desconfiança são compreensíveis neste país, suas consequências também são paradoxais: não somente a oposição sai lucrando politicamente. Acima de tudo está o partido que nomeou o acusado prefeito de Iguala e que, para os manifestantes, é tão corrupto quanto qualquer outro.

As consequências para o movimento são ainda piores: o fato de ele não aceitar qualquer autoridade do Estado e não seguir nenhuma lógica faz com que seja vulnerável – perdendo, assim, simpatia. Quem vai apoiar um protesto que visa incendiar edifícios, impedir violentamente o acesso de funcionários administrativos a seus locais de trabalho, bloquear ruas, perturbar testes de exames e até mesmo impedir eleições democráticas? Nesse contexto, a reivindicação de por um fim à corrupção e à impunidade no México é perdida completamente de vista.

Quando não se tem um objetivo, a indignação não dura para sempre e o protesto degenera em ritual. Um movimento que, além da anarquia, não tem nada a oferecer não pode esperar por amplo apoio, nem nacional nem internacional.