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Barulho é parte do negócio

27 de fevereiro de 2010

Maioria da população alemã é contra a presença de seus soldados no Afeganistão. Contudo o mandato foi prorrogado. Especialista político da DW opina sobre o protesto pouco ortodoxo dos deputados do partido A Esquerda.

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Na língua alemã há um provérbio que reza: "Fazer alarde é parte do negócio" (Klappern gehört zum Geschäft). Quer dizer: quem faz mais barulho tem maiores chances de ser ouvido. Desse modo se alcança o máximo possível de atenção, seja para vender uma mercadoria, seja para difundir uma mensagem. Os deputados do partido A Esquerda agiram segundo esse princípio na votação da sexta-feira (26/02), no Bundestag.

Eles fizeram grande alarde durante o debate conclusivo sobre o mandato das Forças Armadas alemãs no Afeganistão. Porém no momento decisivo ficaram em silêncio e ergueram simultaneamente cartazes com nomes de afegãos mortos. Tratava-se das vítimas civis do controverso bombardeio ordenado pela Bundeswehr em setembro de 2009.

A ação dos esquerdistas foi uma acusação gritante contra a presença militar da Alemanha naquele país, a qual, aos olhos do partido é uma guerra – uma posição francamente defensável. E quando se quer fazer ouvidas as próprias convicções, é necessário protestar. É o que praticam avidamente os da Esquerda e outros pacifistas, nas ruas e no parlamento. Isso faz parte da cultura democrática.

Com a força da palavra, eles podem tentar convencer seus adversários políticos e a população da pertinência de seus argumentos. Disso pode e deve fazer parte também a lembrança das vítimas fatais de uma guerra inexplicável no Afeganistão. Os esquerdistas fazem uso dessa possibilidade desde o início dessa operação – ou guerra – altamente controvertida, do ponto vista militar. Eles sabem que, segundo pesquisas de opinião, têm grande parte da população de seu lado. Por isso foi totalmente dispensável os parlamentares da Esquerda protestarem no plenário com cartazes, transgredindo, assim, os regulamentos.

A menção aos estatutos não deve absolutamente ser vista como tacanha ou mesmo pusilânime. Não: trata-se do necessário lembrete para que todos se atenham às regras que as bancadas estabeleceram para si mesmas. Trata-se, portanto, de uma questão de respeito diante da representação popular livremente eleita no Bundestag alemão. Desse ponto de vista, os deputados da Esquerda faltaram com o respeito a si mesmos.

Apesar disso tudo, não seria má ideia os partidos da coalizão alemã de governo enviarem seu primeiro escalão à luta, quando no parlamento há um debate tanto sobre a prorrogação do mandato da Bundeswehr no Afeganistão quanto sobre um aumento de contingente, ainda mais seguido de votação. Entretanto, nem o ministro da Defesa, o democrata-cristão Karl-Theodor zu Guttenberg, nem o ministro do Exterior, o liberal-democrata Guido Westerwelle, utilizaram a oportunidade para defender suas convicções. Em vez disso, foram deputados de segundo escalão a ocupar o pódio.

Naturalmente ambos sabiam que contavam com maioria esmagadora, e que também os oposicionistas social-democratas votariam majoritariamente a favor. Porém a maior parte da população contrária à operação militar teria tido o direito de ouvir da boca dos ministros responsáveis por que soldados alemães arriscam a vida no Afeganistão. Embora os argumentos contra e a favor sejam sobejamente conhecidos: nessa hora, fazer barulho deveria fazer parte do negócio – no sentido positivo da palavra.

Autor: Marcel Fürstenau

Revisão: Carlos Albuquerque