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Opinião: O que resta fazer na Síria?

1 de outubro de 2015

O jogo acabou para o Ocidente, que nem mesmo ousou tentar se impor perante a Rússia. A única tarefa que resta aos países ocidentais é tentar aliviar um pouco o sofrimento dos sírios, opina o jornalista Kersten Knipp.

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Kersten Knipp é jornalista especializado em Oriente Médio

As declarações não poderiam ser mais contraditórias: os militares russos afirmam que estão combatendo posições da organização terrorista "Estado Islâmico" (EI) na região em torno da cidade de Homs. Estados Unidos, França e o Exército Livre da Síria têm outra versão: em alguns dos locais atacados nem mesmo há combatentes do EI. O alvo seriam sobretudo opositores do presidente Bashar al-Assad.

Independentemente de qual versão é a correta, uma coisa já é certa: o presidente da Rússia, Vladimir Putin, conseguiu o que queria. Tem-se a impressão de que, ao longo de anos e de forma sistemática, ele vem se preparando para este dia: através dos repetidos vetos no Conselho de Segurança da ONU, das firmes declarações de solidariedade e do amplo apoio militar a Assad.

Putin sabia que podia contar com o apoio da China no Conselho de Segurança e, na própria região, ele tem trabalhado em estreita colaboração com o Irã. Três nações com culturas políticas dúbias, para dizer o mínimo. Três regimes que não têm problemas em adotar um estilo autoritário de liderança. Três regimes que decidirão o futuro da Síria e também de uma grande parte do mundo árabe.

Isso significa que o jogo acabou para o Ocidente. Em retrospecto, parece que o Ocidente, ao longo dos quase cinco anos que já dura a guerra civil na Síria, nunca conseguiu realmente se impor perante a Rússia. Acordo de Genebra I, Genebra II, Amigos da Síria e inúmeras conferências em inúmeros locais: tudo isso não deu em nada. De acordo com as estatísticas da ONU, cerca de 250 mil sírios morreram no conflito. Talvez o número seja até bem maior.

O Ocidente não foi capaz de salvar essas pessoas. Ele não conseguiu se impor perante o obstrucionismo russo. Nem mesmo ousou. E o que poderia ter sido feito? Na Ucrânia, Putin mostrou até onde está disposto a ir para atingir seus objetivos. Na Síria, ele provavelmente teria exibido a mesma determinação – certamente também se o presidente Barack Obama tivesse optado por sanções a Assad caso o ditador tivesse ultrapassado a "linha vermelha" que o líder americano havia estabelecido.

Nenhum gesto mostrou de forma tão enfática como o Ocidente é manso. E sobretudo impotente. Ele simplesmente não sabe como reagir a uma política brutal como a praticada por Putin. E qual seria a resposta apropriada, além de sanções? Ninguém mais quer fazer as bombas falarem, e por bons motivos. Mas isso significa: Putin conseguiu o que queria. A mensagem é clara: um quarto de século depois, a Rússia é de novo uma superpotência.

Para a Síria, isso significa que Assad ficará no poder. Para a oposição secular síria, isso significa: vocês vão ter que aceitar isso. No ínico desta semana, Burhan Ghalioun, ex-presidente do grupo oposicionista Conselho Nacional Sírio (SNC), defendeu indiretamente que Assad se vá. Os motivos são irrefutáveis – ao menos teoricamente. Só que, na prática, é necessário se acostumar com a ideia de que não é bem assim: os sírios terão que continuar vivendo sob seu ditador.

A fim de pelo menos aliviar um pouco o sofrimento deles, resta uma opção aos países ocidentais: eles precisam fazer com que Putin pelo menos domestique o seu protegido. Se Assad vai mesmo ficar, que pelo menos cause o menor dano possível ao seu povo. Ele tem que parar de aterrorizar a sua população com bombas todos os dias, obrigando milhões a fugir. Essa é a tarefa mais urgente para o Ocidente. Mais do que isso ele simplesmente não pode fazer. Ao menos por enquanto, a única coisa que resta é poupar os sírios do pior.

Kersten Knipp
Kersten Knipp Jornalista especializado em assuntos políticos, com foco em Oriente Médio.