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Opinião: Quem vai pôr fim à tragédia grega?

2 de julho de 2015

À beira do abismo, a Grécia segue seu curso hesitante, com pouca esperança de salvação. O governo é o culpado, e os gregos deveriam votar contra Tsipras no referendo de domingo, opina o jornalista da DW Bernd Riegert.

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Deutsche Welle Bernd Riegert

O último "salto mortal" do primeiro-ministro, o pedido por um novo empréstimo nas horas finais de terça-feira (02/07), foi uma clara manobra de campanha. Poucas horas antes de o segundo programa de resgate expirar – um programa que ele rejeitou – Alexis Tsipras tentou que os credores, que ele tende a rotular como torturadores financeiros, concedessem um terceiro pacote de ajuda. Onde esta a lógica nisso?

Tsipras sabe que não havia como o Eurogrupo endossar aquela reação precipitada em poucas horas. Mas em casa, na Grécia, ele poderá ganhar pontos como benfeitor, alegando que lutou até o fim. Os gregos serão feitos de bobos? O referendo de domingo vai dar a resposta. Neste meio tempo, Alexis Tsipras não parece mais tão seguro de que o povo vai fazer o que ele pede e dizer “não” à Europa. Esta é a única interpretação das pistas que estão vazando de dentro de sua equipe, indicando que o referendo poderia ser cancelado ou adiado.

Bruxelas desistiu de ter esperanças de chegar a algum lugar com o governo Tsipras. Os líderes das instituições da União Europeia (UE), assim como os chefes de Estado e governo de bloco, estão abertamente exortando os eleitores a votarem “sim” no domingo. Caso Tsipras fracasse com seu referendo, ele vai ter que renunciar se tiver mesmo um pequeno senso de responsabilidade.

Pela primeira vez em cinco anos, a Grécia está sem ajuda financeira internacional. O país não tem acesso aos mercados financeiros privados. Seu bem-estar depende unicamente do Banco Central Europeu (BCE), que só vai manter os bancos gregos de pé por mais poucos dias. Atenas afastou o Fundo Monetário Internacional ao negar fazer o pagamento do empréstimo no prazo marcado. A bancarrota do Estado e a subsequente saída técnica da zona do euro são uma questão de tempo.

Considerando a situação dramática, a cúpula do governo grego não tem nada melhor a fazer do que tentar ridicularizar os europeus. A Grécia deve para o BCE 120 bilhões de euros, disse Tsipras em entrevista a uma TV. E uma saída da Grécia da zona do euro, continuou o premiê, é improvável porque seria demasiadamente dispendiosa para os credores. O seu desorientado ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, completou, ameaçando levar a zona do euro e o BCE ao tribunal se o dinheiro fosse interrompido.

Uma piada! Para uma saída do euro, bastam Varoufakis e suas políticas desastrosas. Em suas próprias palavras: “O país está em bancarrota de qualquer forma. Nós não podemos cobrar impostos, nós simplesmente não estamos em posição de fazer isso.”

A experiência de esquerda radical fracassou. Os pobres gregos vão ter que arcar com os custos. Os credores vão superar os créditos vencidos e repassá-los para as gerações futuras. Os empréstimos de pacotes de resgate só vencem em 30 anos de qualquer forma. Ninguém quer humilhar a Grécia ou retirar a sua independência, como o Syriza e os seus parceiros radicais de direita da coalizão querem fazer crer.

A Grécia não é forçada a aceitar a ajuda, mas se não o fizer, vai ter que sobreviver sem empréstimos do exterior – com desenvoltura e totalmente sozinha. Já faz tempo que a discussão de nada tem a ver com a solidariedade ou a integração europeia. Agora tudo o que nós podemos fazer é esperar um novo começo depois do referendo – ou a Grécia terá que sair da zona do euro.

Um referendo democrático, uma decisão do povo, é legítimo. Mas não somente na Grécia. Quando eu perguntei para um político do Syriza se alemães, finlandeses, franceses, espanhóis e outros europeus deveriam também votar se querem continuar a financiar a Grécia, ele permaneceu em silêncio e murmurou: “Não”.

Este é um entendimento altamente questionável sobre democracia. Um integrante do Eurogrupo é melhor do que os outros 18? Não pode ser.

Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.