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Opinião: Rejeição ao antissemitismo não se impõe de cima

11 de janeiro de 2018

Alemanha debate se estudantes e imigrantes devem ser obrigados a visitar antigos campos de concentração nazistas. Para o jornalista Marcel Fürstenau, obrigatoriedades podem ter efeitos indesejados.

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72. Jahrestag Befreiung des NS-Konzentrationslagers Buchenwald
Entrada do antigo campo de concentração nazista de Buchenwald Foto: picture alliance/dpa/H. Schmidt

O antissemitismo tem muitas faces, todas horríveis: suásticas em fachadas e cemitérios judaicos, bandeiras de Israel queimadas em protestos, ataques a judeus. A Alemanha, ao que parece, está sendo atingida por uma nova onda de ódio contra tudo o que é judeu.

O fenômeno por trás disso é há muito conhecido: posições antissemitas são amplamente disseminadas entre a população alemã há anos. Apesar dos crimes contra a humanidade cometidos em nome da Alemanha durante a era nazista, elas nunca desapareceram do país.

A diferença agora é: os ressentimentos são postos para fora de forma cada vez mais desinibida e inescrupulosa. Na mesma medida é o assombro: como isso pôde acontecer? Afinal, há décadas que a Alemanha lida com sua própria culpa de forma exemplar e é vista como modelo em muitos países, e com razão. Ainda assim, alguma coisa deve ter dado errado. Um diagnóstico comum é que se fala muito pouco sobre a era nazista nas escolas. Uma queixa semelhante, aliás, refere-se à ditadura comunista no Leste.

Se for mesmo assim, a solução para o problema seria muito simples: mais e melhor educação. Só que essa melhora não começa com visitas obrigatórias a antigos campos de concentração, como alguns políticos agora sugerem.

A ideia é bem-intencionada, mas pode ser maçante para muitas pessoas ou, no pior dos casos, gerar rejeição. O antifascismo ordenado de cima, na antiga Alemanha Oriental, nos ensina aonde leva a rememoração determinada pelo Estado. Também a suposta amizade teuto-soviética foi enrijecida em rituais.

Uma sociedade livre também tem dificuldades de lidar da forma correta com a rememoração. Ainda assim ela o faz de forma voluntária e acompanhada de um debate livre. Deve-se lembrar, aqui, o longo e às vezes exacerbado debate sobre a construção do Monumento ao Holocausto, ao lado do Portão de Brandemburgo, em Berlim. Ou os protestos originados pelo escritor Martin Walser em 1998, quando ele falou de uma "clava moral Auschwitz". O lado bom destes e de outros debates foi dar novos impulsos à reflexão alemã sobre a própria e incomparável culpa. Eles se tornam necessários, no mais tardar, quando rememoração e reflexão se tornam rotina.

Se não houvesse nenhuma relação entre passado e presente no tema antissemitismo, não haveria também qualquer debate sobre visitas obrigatórias a antigos campos de concentração. Mas quem visita Buchenwald, Dachau, Sachsenhausen, Auschwitz ou qualquer outros desses centros do terror deveria fazer isso de livre e espontânea vontade. Sobretudo é necessário – tanto para alemães como para imigrantes – um preparo intelectual e emocional. E aí parece ainda haver uma grande defasagem, apesar de todos os esforços.

Diminuí-la de forma considerável seria a primeira e mais importante tarefa. O resto vem por si. Para algumas pessoas, a simples visão de uma pedra de tropeço com o nome de um judeu assassinado pode ter um efeito maior do que a visita a um antigo campo de concentração. Empatia é algo que não se pode determinar de cima – ainda bem.

Marcel Fürstenau
Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.