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Democracia em risco

21 de agosto de 2009

Afeganistão foi às urnas, apesar de ataques e estratégias do Talibã para impedir o pleito, que muitos já consideram um sucesso. Mas suspeitas de fraude podem pôr em risco a democracia no país, comenta Sabina Matthay.

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A situação foi de normalidade no dia das eleições, informou o Ministério da Defesa do Afeganistão. Dá até vontade de acreditar, de se deixar convencer de que no instável país na cordilheira do Hindu Kush haja condições ao menos de simular democracia. Como um teste, por assim dizer, um passo em direção a estruturas realmente democráticas, à paz e ao bem-estar de todos os afegãos.

De fato, eleitores de diversas localidades aguardaram calmos em fila para escolher seu próximo presidente e os integrantes dos conselhos provinciais – a despeito de ameaças dos Talibãs e de outros rebeldes nada interessados na estabilidade do país. Uma imagem que certamente agrada ao atual governo afegão, que já havia deixado claro antes mesmo do pleito que a cobertura jornalística da violência neste dia de eleição não era desejada e seria até repreendida.

Mas, em outras partes do país, as imagens foram outras. Na cidade de Kunduz, no norte, mísseis vinham sendo lançados desde a noite anterior. De um distrito que está inteiramente nas mãos dos Talibãs. De lá, militantes vêm há tempo atacando soldados alemães da Força Internacional de Assistência à Segurança no Afeganistão e aterrorizando a população local. Pelo menos cinco cidadãos de Kunduz foram feridos por ataques com mísseis no dia do pleito e um deles, ao que parece, é uma criança.

Cerca de 200 mil soldados afegãos e outros 100 mil de outros países fizeram parte da operação para garantir a segurança do pleito. Mas, se uma operação como esta é necessária para garantir a segurança, então não se pode falar em circunstâncias normais. Menos ainda se, apesar do esforço, não foi possível evitar ataques.

A violência escondeu ainda o outro perigo que pairava sobre o pleito: o da fraude. Não só foi preciso manter fechados os locais de votação em certas partes do país – e não apenas no sul, zona de influência do Talibã. Em outros pontos, os locais até foram abertos, mas sem a presença de observadores. Fala-se em buracos negros. E o que neles acontece entre a eleição e a contagem dos votos não chega até a opinião pública.

Já nas últimas eleições presidenciais, em 2004, houve irregularidades. Desta vez, fala-se em uma verdadeira máquina fraudulenta. Principalmente o atual presidente, Hamid Karzai, teria interesse na vitória a qualquer custo já no primeiro turno, dizem. Um segundo turno seria muito arriscado para o político pouco popular.

Como é frequente no Afeganistão, também estas acusações se baseiam em rumores. Mas também há indícios. Ao que parece, houve um grande mercado de títulos eleitorais. Até crianças e adolescentes teriam sido registrados como eleitores – aliás, por membros da própria comissão responsável por garantir o andamento regular do pleito.

Tudo isso gera dúvidas sobre a justeza e a transparência da votação e diminui a já pouca confiança no Estado afegão. Se forem confirmadas as dúvidas quanto à credibilidade do pleito, este poderia ser o começo e o fim do experimento com a democracia no Afeganistão.

Autor: Sabina Matthay

Revisão: Roselaine Wandscheer