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Opinião: Tillerson também merece uma chance justa

13 de dezembro de 2016

É cedo demais para visões apocalípticas, como costuma ser tendência entre europeus. A indicação do chefe da Exxon Mobil para secretário de Estado não é o fim da civilização ocidental, opina o jornalista Miodrag Soric.

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Miodrag Soric é jornalista da DW
Miodrag Soric é jornalista da DW

Antes mesmo de assumir como secretário de Estado americano, Rex Tillerson já enfrenta fortes ventos contrários: seus críticos apontam que ele não tem qualquer experiência de governo, que como diretor da Exxon fez negócios com autocratas e até recebeu condecorações deles.

O senador republicano Marco Rubio tuitou que não quer nenhum amigo de Vladimir Putin no Departamento de Estado. O senador John McCain, seu correligionário, critica as ligações do texano com o Kremlin; o também senador Bob Menendez classifica a escolha como "absurda". Outros deverão aderir a esse coro de oposição, o que é um mau presságio para a audiência a que o futuro secretário de Estado dos EUA terá que se submeter, no Senado. Uma maioria não parece de forma alguma assegurada.

No entanto, Donald Trump se decidiu por Tillerson e, por conseguinte, por mais um conflito com seu Partido Republicano. Por quê?

Para início de conversa, ambos nem – ou mal – se conheciam antes da eleição presidencial. Tillerson é republicano e conservador, mas durante a campanha apoiou outros candidatos à Casa Branca, também financeiramente. O conselho para Trump examinar mais de perto o executivo de 64 anos veio de fora.

Antigos secretários de Estado, como James Baker, Condoleezza Rice e outros, defenderam uma nomeação de Tillerson para o cargo. E – como afirmam fontes próximas de Trump – nas conversas de apresentação a química entre o presidente eleito e o diretor executivo da gigante do petróleo funcionou desde o início.

Ambos encaram a política externa sobretudo como uma espécie de negócio – o que procede, até certo ponto, sobretudo em Washington. Mas, justamente, ela não é só isso. O que acontece com temas com que os Estados Unidos nada têm a ganhar financeiramente – por exemplo, a defesa dos direitos humanos?

Quem exige a preservação da dignidade humana no mundo inteiro não angaria amizades, em especial entre os ditadores. Ainda assim, juntamente com seus homólogos europeus, os chefes de diplomacia americanos vêm praticando isso há décadas – com franco sucesso, como prova o número crescente de democracias no planeta.

Isso vai mudar com a indicação de Rex Tillerson? A exploração de matérias-primas para a economia americana, vantagens em acordos comerciais passarão a ser mais importantes do que os direitos humanos? O engajamento dos EUA dentro da Otan ou na garantia das rotas comerciais internacionais serão descartados, por custarem demais? A "América" vai se voltar inteiramente para si mesma, a ordem global de poder se dissolverá?

Isso seria, de fato, o início do fim do Ocidente como o conhecemos; o fim de uma ordem que não trouxe segurança e prosperidade apenas à comunidade transatlântica, mas a muitos países, em todos os continentes – acima de tudo, no entanto, aos próprios Estados Unidos.

É cedo demais para alardear visões apocalípticas, como costuma ser a tendência entre os europeus. Como principais parceiros comerciais dos EUA, eles devem seguir se apresentando com autoconfiança: só junto a seus aliados e parceiros, a "América" é uma verdadeira potência mundial.

A despeito de todas as ressalvas que o gabinete de governo de Trump, com seus bilionários e generais, desperta entre os europeus, também um secretário de Estado como Rex Tillerson merece uma chance justa.