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Opinião: Tianjin expõe fraquezas do sistema político chinês

18 de agosto de 2015

Troca de favores, controle insuficiente e violação de leis: as explicações para a explosão são as mesmas de sempre. Só que, desta vez, imagem do governo foi arranhada, afirma o jornalista e sinólogo Matthias von Hein.

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O aspecto mais perturbador da catástrofe de Tianjin é que ela não aconteceu numa região industrial em decadência. Ao contrário, o local do desastre é um complexo de ponta, altamente moderno. O parque industrial Binhai New Area tem duas vezes e meia o tamanho de Berlim e nenhum edifício tem mais de 25 anos. A metade das empresas na lista das 500 maiores da revista Fortune tem uma unidade nele. Entre elas estão Volkswagen, Airbus e Motorola. O porto, recentemente modernizado, é o décimo maior do mundo em movimentação de contêiners.

E justamente nesse local, uma vitrine da expansão econômica chinesa, aconteceu uma catástrofe com centenas de mortos e feridos. No local da explosão não sobrou apenas um abismo físico – há também um abismo político. Muitas pessoas atribuem a responsabilidade pelo inferno de Tianjin à falta de controle e à troca de favores que dominam as relações entre as autoridades e os politicamente bem relacionados donos da empresa Ruihai Logistics.

Também por trás das fachadas de vidro da China, ter bons contatos parece ser mais importante que respeitar a lei e as normas. Reinvidicar o cumprimento delas é uma tarefa complicada – isso pode ser comprovado pelos centenas de ativistas de direitos humanos que foram presos ou convocados a depor pela polícia no mês passado, numa campanha sem precedentes.

O que dá alguma esperança é o que os especialistas oficiais chineses chamam de "crise da opinião pública". Apenas 24 horas depois do desastre, cerca de 250 mil notícias sobre a explosão do depósito de materiais químicos foram publicadas nas redes sociais.

Em pouco tempo, os próprios usuários chineses divulgaram informações abrangentes. Do outro lado, enquanto o mundo inteiro via as imagens da detonação, o canal de televisão de Tianjin transmitia uma novela coreana e perdia totalmente a sua credibilidade como veículo de informação.

Jornalistas chineses ousaram e levantaram questões incômodas sobre os motivos do desastre e sobre a eficácia da gestão da crise. Em pouco tempo, descobriu-se que a distância mínima exigida entre o depósito onde aconteceu a explosão e residências não foi cumprida, que os moradores não tinham nenhum conhecimento dos perigos que corriam, que o depósito armazenava mais de dez vezes a quantidade máxima permitida de cianeto de sódio – altamente tóxico –, que os bombeiros não sabiam o que havia lá dentro e que, ao utilizar jatos de água, talvez tenham contribuído para piorar ainda mais o impacto da catástrofe.

O governo reagiu da maneira tradicional: mais de 50 sites foram fechados. A mídia foi forçada a utilizar apenas informações da agência estatal Xinhua em notícias sobre Tianjin. A maneira tradicional também deu o tom na cobertura da agência: histórias heróicas de bombeiros, declarações tranquilizadores de membros do governo e fotos de feridos se recuperando nos hospitais chineses.

No caso de Tianjin, essas medidas vieram tarde demais – a imagem do governo foi arranhada. A indignação pública com a má gestão, por um lado, e a falta de esclarecimento, por outro, atingiu um patamar tão alto que até mesmo o jornal do Partido Comunista teceu críticas comedidas à "má política de informação".

Segurança e informação andam juntas. Na China, porém, informações são muitas vezes tratadas como segredos de estado. Do mesmo jeito, segurança e organizações representativas independentes andam juntas. As leis chinesas de segurança no trabalho não deixam nada a desejar, só que elas não são respeitadas. E isso acontece não só por negligência, mas também porque nenhum sindicato independente consegue exigir o cumprimento delas.

O local da catástrofe é moderno. Já a política chinesa, não.