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Opinião: Uma guinada de dimensões históricas

Alexander Kudascheff
9 de novembro de 2016

Ninguém estava preparado para Trump, e não está claro quem dará as cartas em setores políticos importantes. Mas até janeiro o mundo terá tempo para se acostumar com ele, opina o editor-chefe da DW, Alexander Kudascheff.

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A vitória – por uma margem inesperadamente alta – de Donald Trump provocou um choque político. Pelo menos na Europa e na Alemanha. Aqui reinam claramente – apesar de todos os esforços para ressaltar a importância da parceria transatlântica – perplexidade, desamparo e espanto. A máxima dessas primeiras horas é: ninguém conhece direito Donald Trump.

Claro que seus planos, intenções e ideias foram percebidos durante a campanha eleitoral, assim como seu estilo grosseiro, suas perdas financeiras, sua retórica falaciosa, seu machismo, seu racismo. Mas após a vitória também se viu sua disposição em promover a reconciliação dos Estados Unidos e em tratar os parceiros internacionais de forma justa.

Resumindo: é preciso esperar para ver.

Ainda assim, nas capitais ocidentais – e obviamente também em Berlim – a eleição de Trump é o "worst case". Ninguém estava preparado para ele. E ninguém sabe quem vai dar as cartas na política externa, de segurança, de defesa ou ambiental. Pois Trump é um outsider dentro do Partido Republicano. Ele não se apoia nas figuras conhecidas. Não há nenhum canal até eles, nenhuma maneira informal de conhecê-los. Isso não facilita as coisas, pois Trump provavelmente vai se cercar de pessoas inexperientes e sem muitos contatos na arena política.

Isso claramente tem um impacto: na política econômica, que trata dos acordos internacionais de livre comércio. Na política externa e de defesa, em relação ao Irã, a Israel, a uma possível ação militar contra o terrorismo jihadista. Na imagem de Washington no Oriente Médio. Na frágil relação com a Rússia e a China e a questão sobre se os EUA se veem como um aliado das outras duas superpotências – ou se vão cair no isolacionismo. E na relação com os aliados. A Otan continua sendo para os EUA o sistema de segurança coletiva do Ocidente? Trump está comprometido com a política de alianças? Ou ele acredita que os europeus precisam pagar mais pela própria segurança? Este é um teste de estresse para o Ocidente.

Donald Trump é um grande desconhecido. Paradoxalmente para um bilionário de Nova York, ele personifica o triunfo da província sobre a metrópole. A vitória do campo sobre a cidade. Ele não é um homem das elites políticas conhecidas. Por isso não será fácil encontrar um caminho até ele.

Mas o estado de choque também tem seu lado bom. Ele leva à prudência. Até o dia 20 de janeiro, quando Trump chegará à Casa Branca como 45º presidente dos Estados Unidos, haverá tempo suficiente para se adaptar a ele. A eleição de Trump é um divisor de águas, talvez uma guinada de dimensões históricas. Isso não precisa significar o fim da cooperação entre os países do Ocidente como a conhecemos. Mas desconfortável a situação vai ficar, pois uma coisa é certa sobre Trump: ele é pouco ortodoxo.