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A autodestruição de uma indústria modelo

14 de junho de 2018

Uma estratégia tradicional dos gângsteres é só admitir aquilo que se possa provar contra você. Assim age a indústria automobilística alemã no "Dieselgate". Mas o castigo está chegando, opina o jornalista Henrik Böhme.

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Carro vermelho em crash-test
Foto: picture-alliance / dpa

Que dias tenebrosos para a indústria automotiva da Alemanha! Na segunda-feira (11/06) o chefe do conglomerado Daimler (na publicidade: "os inventores do automóvel"), Dieter Zetsche, foi intimado a prestar depoimento no Ministério dos Transportes.

Dois dias mais tarde, o Ministério Público de Braunschweig impôs à Volkswagen (na publicidade: "a maior montadora do mundo") uma inédita multa de 1 bilhão de euros. Além disso, no início da semana investigadores revistaram a residência do chefe da Audi (na publicidade: "vantagem através da técnica"), Rupert Stadler, que responde a processo por fraude.

O "Dieselgate", iniciado há quase três anos com revelações sobre as manipulações de emissões da Volks, há muito já se tornou uma verdadeira crise de todo o setor automobilístico alemão. O qual sempre se viu e continua se vendo como setor-modelo (coisa que não é mais), que não cansa de lembrar sua importante contribuição para a Alemanha como polo industrial (o que é correto).

Quantas vezes Dieter Zetsche bateu no peito, afirmando: "Nós não cometemos fraude!", "Não usamos dispositivos manipuladores!" Usaram, sim, senhor! O mesmo se escutava da montadora de carros de luxo bávara BMW: "Somos limpos!" Limpos? Quem dera! O software foi trocado sem querer em diversos modelos, dizem. Bela desculpa! A coisa seria de matar de rir, se não fosse tão séria.

Nos Estados Unidos, o processo correu rápido, pelo menos para a Volks: inquérito, multas de 24 bilhões de euros (!), sentenças duras e velozes. Com a Justiça da Alemanha, tudo leva bem mais tempo (a meticulosidade alemã?). Mas os promotores de Braunschweig, Munique e Stuttgart estão investigando com afinco.

As acusações são manipulação de mercado (os investidores deveriam ter sido avisados antes?) e suspeita de fraude. Só em Braunschweig, 49 suspeitos estão na mira, entre os quais pesos-pesados como o ex-presidente da Volkswagen Martin Winterkorn, também alvo de ação nos EUA.

Agora os empresários podem ter se comprometido a "cooperar de forma abrangente com as autoridades", mas é da boca para fora: a estratégia é enrolar, enganar, esconder, e sempre só admitir aquilo que não se consegue mais negar.

Finalmente a política também acordou. É fato que houvera uma intimação a prestação de contas sob o governo federal anterior, mas a "cúpula do diesel" de agosto último, convocada com tanta pompa e circunstância, pareceu antes uma rodada amigável. Entretanto intimar o Sr. Zetsche até Berlim já foi um outro nível. E também a atual multa bilionária contra a Volks foi um primeiro sinal da promotoria pública. A coisa está longe de encerrada, só agora é que vai começar de verdade.

O presidente da Daimler deixou o ministério na segunda-feira anunciando, desafiador, que todos os recursos jurídicos serão explorados. A Volkswagen pelo menos se mostrou penitente e não pretende recorrer da multa. Diga-se de passagem: a multinacional vai ter que pagar o 1 bilhão ao estado da Baixa Saxônia, que é seu acionista majoritário. Talvez seja essa a explicação.

Não, a crise do diesel está longe de superada. Está marcado para 3 de setembro o primeiro processo exemplar em Braunschweig, e quando os Müllers, Winterkorns e Stadlers se sentarem no banco das testemunhas ou dos réus, as feridas penosamente fechadas voltarão a se abrir, e mais uma vez ficará óbvio: eles manipularam e enganaram.

Só que responsabilidade não vão querer assumir: eles mandam outros para a forca, mas no andar da diretoria não se sabia de nada. Pois sim, ninguém acredita em vocês! Baixem de uma vez as calças, limpem a barra de vocês. Senão algum dia quem vai sair como grande vencedor é a Tesla, a pioneira dos carros elétricos que vocês tanto ridicularizam.

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