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Opinião: Dilma decretou fim do próprio governo

16 de março de 2016

A última cartada de um governo atordoado e desesperado está na mesa: Lula virou "primeiro-ministro". É uma jogada com grandes chances de dar errado, opina o jornalista Alexandre Schossler, da redação brasileira da DW.

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Brasilien Präsidentin Dilma Rousseff
Foto: picture-alliance/dpa/F. Bizerra

Agora é ou vai ou racha de vez. Num gesto de desespero, que evidencia o que a própria presidente pensa da situação atual e do futuro do seu governo, Dilma Rousseff convocou o seu antecessor e mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, para a Casa Civil.

Trata-se de uma declaração de falência por parte do governo. Dilma assume que não é mais dona da situação, que a ela só resta mesmo a convocação de um salvador da pátria.

Na prática, é como se a presidente declarasse o fim do próprio governo, em meio a um segundo mandato que nunca começou para valer. E Lula começasse o seu terceiro, quase como um primeiro-ministro com carta branca para arrumar a casa.

É impossível saber se isso vai dar certo – mas é inegável que tem muitas chances de dar errado. Riscos há de sobra – se não houvesse, Lula não teria pensado tanto antes de aceitar o convite.

Primeiro, há a delação premiada do senador Delcídio do Amaral, que acusa Lula e Dilma de tentar obstruir a Lava Jato. É uma acusação extremamente grave, que pode dar ao processo de impeachment o fôlego que ele há tempos busca.

Segundo, o governo está numa situação tão fragilizada que talvez não haja mais nada a fazer. Lula é um articulador político tarimbado, dono de um poder de persuasão e de uma capacidade de negociação que Dilma jamais teve ou terá. Manter o PMDB no governo é a chave política para que essa cartada arriscada dê certo. Só que há tempos o PMDB dá sinais de não ser mais uma garantia de apoio ao PT. É duvidoso se Lula vai ter sucesso nessa empreitada.

Terceiro, entrar no governo dá foro privilegiado a Lula, e isso pode ser entendido como fuga do tribunal do juiz Sérgio Moro e confissão de culpa. Ninguém sabe como a população vai reagir a isso. A parcela – nada desprezível, como se viu no domingo passado – que não gosta do PT vai se sentir provocada. E pode sair às ruas em protestos ainda maiores.

Dilma pode argumentar que a única alternativa seria renunciar – o que ela já afirmou que não fará. Pode também dizer que é uma pessoa honesta e não a responsável pela corrupção em Brasília e que enfrenta uma pressão social, política e midiática de grandes dimensões. Só que a crise política e econômica é em grande parte responsabilidade dela mesma, como governante.

O mais elevado cargo da República requer uma habilidade de negociação política que ela não tem. Dilma é a durona, a gerentona, a boa administradora técnica – mas não a política. Esse é o erro de nascença do governo Rousseff, e uma das grandes lições dessa crise.