1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Opinião: Partidos lidam de forma errada com a AfD

Kommentarfoto Kay-Alexander Scholz Hauptstadtstudio
Kay-Alexander Scholz
19 de setembro de 2017

Partidos estabelecidos conduzem estratégia fraca contra a Alternativa para a Alemanha. Em vez de atacar a legenda populista, deveriam se perguntar o que fizeram de errado para que ela exista, opina Kay-Alexander Scholz.

https://p.dw.com/p/2kJ5n
Logotipo da AfD
Foto: picture-alliance/dpa/M. Scholz

Um dos assuntos entre os jornalistas que acompanharam a última sessão do Bundestag (Parlamento) era a distribuição das prováveis seis bancadas no plenário durante a próxima legislatura. O plenário já está bem apertado, e será necessário abrir espaço para duas novas divisórias entre as bancadas. O Partido Liberal Democrático (FDP) vai ficar no meio? A Alternativa para a Alemanha (AfD) vai ficar na extrema direita? Alguém fez a piada de que todos os partidos vão formar um bloco e se separar por uma única divisória apenas da AfD – para sinalizar que a distância entre eles é grande.

Kay-Alexander Scholz
Kay-Alexander Scholz é jornalista político da DW em Berlim

A proposta pode ser uma piada, mas reflete bem o que se ouve dos partidos. Eles alertam para a desintegração da cultura política com o ingresso de extremistas de direita no Parlamento. Vozes defendem que deputados da AfD devem ter negado seu direito a lugares em comissões parlamentares. E algumas coisas já aconteceram: apenas para impedir que um deputado da AfD ocupe o cargo simbólico de Alterspräsident, os deputados mudaram o regulamento interno. [Com a mudança, o Alterspräsident passa a ser o deputado há mais tempo no Bundestag, e não o mais velho. Pela regra anterior, um deputado da AfD que definiu o Holocausto como "instrumento eficaz de criminalização dos alemães e da sua história" poderia ser o Alterspräsident, caso venha a se eleger. Entre outras coisas, o Alterspräsident preside a sessão de abertura da legislatura e define seu cronograma].

Para a AfD, a mudança de última hora foi munição de campanha da melhor qualidade. Ela pôde xingar o "cartel dos velhos partidos" e se colocar como vítima deles.

Está mais do que na hora de lembrar que todos os partidos e deputados são representantes dos eleitores. Nenhum partido é dono do Parlamento, e ninguém tem o direito de se colocar acima dos demais partidos. Partidos podem ser eleitos para o Bundestag e ser novamente excluídos pelos eleitores. Nenhum deles tem uma garantia vitalícia de permanência no Parlamento. Qualquer outra situação seria uma ditadura com partidos de Estado ou no mínimo oligarquias políticas.

Quem acompanha a política europeia percebe como o sistema partidário se tornou dinâmico. Só um exemplo: na França e na Grécia, os social-democratas, antes orgulhosos partidos de massa, viraram partidos de menos de 10% dos votos. Também na Alemanha, a democracia respira.

Nos anos 1980, quando os outros partidos ignoravam o conflito entre economia e ecologia, surgiu o Partido Verde. Quando o Partido Social-Democrata (SPD), com as reformas da sua Agenda 2010, bateu de frente com o próprio eleitorado, acabou fortalecendo A Esquerda. E quando o Partido Liberal-Democrático se degradou a ponto de não ser mais reconhecível como um partido liberal, perdeu seu lugar no Bundestag.

Os partidos estabelecidos estão conduzindo uma estratégia fraca contra a AfD, na base do ataque é a melhor defesa. Na verdade, eles deveriam se perguntar: o que fizeram de errado ou nem mesmo fizeram nos últimos anos? Como é possível que um novo partido como a AfD tenha chances de se tornar a terceira maior força no Parlamento? Só que eles rejeitam essa, no mínimo, corresponsabilidade e, em vez disso, simplesmente atacam. Mas os eleitores da AfD não são almas desorientadas, seduzidas pelo demônio e que necessitam ser reconduzidas ao caminho da virtude política. Suas vozes são sobretudo testemunhos de políticas equivocadas. Muitos problemas e preocupações dos cidadãos ficaram despercebidos.

Quem testemunhou com que impertinência alguns políticos experientes passaram ao largo de algumas coisas não fica admirado com a reação de alguns cidadãos. Aerogeradores foram apresentados como complemento romântico da paisagem, apesar de muitos proprietários terem sido praticamente expropriados de suas terras. Afinal, quem quer comprar uma propriedade com um cata-vento que faz barulho?

Por muito tempo calou-se perante o fato de que a globalização também gera perdedores – apesar de isso já ter sido discutido amplamente nos Estados Unidos, e já antes de Donald Trump. E deve-se lembrar também do debate, danoso para a democracia, se alguns cidadãos têm mesmo o direito de expressar suas preocupações.

A AfD vai entrar com certeza no Parlamento e nele deverá usufruir de todos os direitos que os outros partidos políticos também têm. Mas também todos os deveres. A AfD terá de aprender que a política custa trabalho e esforço, que ela exige disposição para se chegar a acordos e a ceder. Se o partido fracassar, os eleitores vão puni-lo. Em alguns parlamentos estaduais, há experiências com partidos extremistas de velho estilo ou, como no caso de Hamburgo, no início dos anos 2000, com populistas. Todos desapareceram depois de um tempo.

Claro que, desta vez, pode vir a ser diferente – ou seja, a AfD pode se tornar um partido estabelecido. O mesmo aconteceu com os "cabeludos caóticos" dos verdes ou com os "comunistas" de A Esquerda. E se a AfD se tornar ainda mais radical, será a vez do serviço interno de inteligência [Departamento Federal de Proteção da Constituição, que tem o dever de vigiar grupos ou partidos que representem risco à ordem fundamental liberal-democrática] e da Justiça agirem.

É mais do que hora de aprender com os erros do passado. Essa polarização gradual e sutil – negócio central dos populistas – deve ser interrompida. Só que de nada adiantam reações extremas constrangedoras e agitação perplexa. Em vez disso, os parlamentares devem preparar para o futuro, com orgulho, dignidade, tranquilidade e em conjunto com os cidadãos, esta Alemanha bela, apreciada em todo o mundo e economicamente forte! E: apesar de todas as dificuldades e desafios, esta já é a melhor Alemanha de todos os tempos!