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Os pobres são outros

Marcio Weichert, enviado a Frankfurt17 de maio de 2003

Vice-ministro alemão questiona combate à pobreza como argumento da AL para maior acesso ao mercado europeu. Alemães reafirmam importância da América Latina apesar do fluxo de investimentos para China e Leste Europeu.

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Axel Gerlach: países emergentes também têm que abrir seus mercados para os pobres

"Não é possível que a Europa, os Estados Unidos e outros países desenvolvidos construam muros cada vez mais altos para isolar-se dos pobres. O combate à pobreza depende da ação de todos", reclamou o ministro Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, na Conferência Latino-Americana da Economia Americana, em Frankfurt, na quinta-feira.

"O desenvolvimento dos países emergentes só será possível com acesso aos mercados", disse o ex-empresário, em tom de crítica aos países mais ricos do planeta que pregam o livre comércio, mas praticam o protecionismo para proteger setores de sua economia, como a agricultura na Europa e a indústria do aço nos Estados Unidos.

Emergente não é pobre

Furlan foi aplaudido pelo empresariado alemão. O discurso, entretanto, motivou o representante do governo alemão a provocar os latino-americanos presentes à conferência. Vice-ministro da Economia, Axel Gerlach disse que "os países emergentes são países com forte progresso, apesar de seus problemas, e também têm responsabilidade com o desenvolvimento dos mais pobres".

Gerlach destacou que "os mais pobres deste mundo não estão na América Latina. Os 49 países mais pobres, segundo o Banco Mundial, estão sobretudo na África e " e estes sim precisam de tratamento alfandegário especial. Segundo acordo internacional, a importação dos produtos destes países deve ser isenta de tributação. De acordo com Gerlach, a União Européia está preparando um calendário para adoção desta medida.

Enquanto isto, alguns países emergentes resistiriam a fazer sua parte. Talvez para não provocar atritos com os latino-americanos presentes à conferência, o vice-ministro da Economia deu a Índia como exemplo. "Tem grande produção e um grande mercado, mas não o abre para os países pobres", criticou.

Estabilidade deixa AL na sombra

Gerlach e o presidente da Confederação das Câmaras Alemãs de Indústria e Comércio (DIHK), Ludwig Braun, contestaram ainda que a América Latina tenha perdido sua importância para a Alemanha, apesar de os investimentos alemães fluírem atualmente em massa para outros destinos, em especial o Leste Europeu e a China.

Eles lembraram que, devido à Guerra Fria, estas regiões receberam pouquíssimos investimentos alemães após a Segunda Guerra Mundial. Uma situação que favoreceu a América Latina, onde os negócios bilaterais estão consolidados e fluem com estabilidade. Em 2001, por exemplo, a produção das subsidiárias alemãs na América Latina atingiu o valor de 65 bilhões de dólares, quatro vezes mais do que as exportações alemãs daquele ano para a região, segundo o vice-ministro. E, apesar dos novos ventos nos últimos anos, o capital alemão instalado no Brasil é ainda hoje 50% maior do que na China.

"É inquestionável que o atual foco do empresariado alemão volta-se, além da União Européia e dos Estados Unidos, para o Leste Europeu e a China. E isto é bom, pois após a bem-sucedida abertura econômica (nestas regiões) é hora de conquistar novos mercados e ampliar os negócios lá. Isto não pode, entretanto, ocorrer em prejuízo das tradicionais estreitas relações com a América Latina. Pois, ao lado da Europa Ocidental, esta é a única região do mundo em que as empresas alemãs desempenham papéis-chave em alguns setores. Por exemplo, os ramos automobilístico, químico e farmacêutico", reafirma a Declaração de Frankfurt, documento de encerramento da Conferência Latino-Americana da Economia Alemã.