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Oskar Lafontaine – uma fonte socialista?

(ca)16 de agosto de 2005

O ex-presidente do Partido Social Democrata (SPD) funda com velhas verdades uma nova esquerda e lança sua candidatura às eleições parlamentares, antecipadas para setembro de 2005.

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Concorrência de esquerda para o SPD: Oskar LafontaineFoto: dpa

Considerado por alguns como demagogo e populista e por outros como alguém que simplesmente fala a verdade, Oskar Lafontaine declarou em maio sua saída do Partido Social Democrata (SPD) e candidata-se agora em coalizão com o Partido de Esquerda (Linkspartei), antigo PDS, às eleições de setembro.

Acusado recentemente de posições de extrema direita por ter usado o jargão Fremdarbeiter para os trabalhadores estrangeiros na Alemanha, o que lembraria uma expressão nazista, Oskar Lafontaine foi chamado até mesmo de "o Haider alemão", numa associação ao austríaco Jörg Haider. Para o cientista político Klaus Detterbeck esta comparação seria injusta, já que Lafontaine não apresenta no seu currículo nenhuma ligação com posições de extrema direita.

Ele já havia no passado causado furor na política alemã por outras declarações. Tomando posição contrária à reunificação alemã após a queda do Muro, Lafontaine perguntou em entrevista concedida ao jornal Süddeutsche Zeitung em novembro de 1989: "Está certo darmos a todos os cidadãos da República Democrática Alemã [antiga Alemanha Oriental] acesso ao sistema de segurança social da República Federal Alemã [antiga Alemanha Ocidental]: salário-família, seguro desemprego, seguro saúde, aposentadoria?".

Com sua presença nas manifestações realizadas sobretudo na antiga Alemanha Oriental contra as reformas no mercado de trabalho, que entraram em vigor em janeiro de 2005, Lafontaine marcou o seu retorno à cena política alemã, apoiando justamente aqueles a quem no passado criticou.

Um físico e um advogado contra uma física e um advogado

Oskar Lafontaine
Lafontaine nas manifestações contra as reformas do mercado de trabalhoFoto: dpa

Filho de padeiro e pai de dois filhos, Lafontaine nasceu em 1943 no Estado alemão do Sarre – que já pertenceu à França e foi finalmente reanexado à Alemanha em 1955. Formou-se em Física em 1969, havendo ingressado no Partido Social Democrata (SPD) em 1966.

Após ter sido eleito governador de seu Estado, foi escolhido candidato do SPD para concorrer às eleições parlamentares de 1990 em oposição a Helmut Kohl, que venceria o pleito impulsionado pelo ufanismo da reunificação.

Com a chegada dos social-democratas ao poder em 1998, Lafontaine assumiu o cargo de ministro das Finanças, do qual abdicou juntamente com o de presidente de seu partido no ano seguinte. Em 30 de maio de 2005, abandonou finalmente o Partido Social Democrata e filiou-se ao partido Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG), fundado no início do mesmo ano por sindicalistas e dissidentes social-democratas.

Em junho último, o físico Lafontaine e o advogado Gregor Gysi formaram a Aliança de Esquerda (Linksbündnis) do Partido de Esquerda e da WASG para concorrer às eleições parlamentares de setembro contra a democrata-cristã Angela Merkel (também física), e o social-democrata Gerhard Schröder (advogado), atual chanceler federal alemão.

A nau dos insensatos

Der ehemalige SPD-Vorsitzende Oskar Lafontaine
'Haider alemão'?Foto: AP

Com o uso da expressão Fremdarbeiter para criticar o afluxo de estrangeiros que viria a pôr em risco o já castigado mercado de trabalho na Alemanha, Lafontaine foi acusado de criar um nacionalismo de esquerda e de querer atrair votos da extrema direita. Explica Lafontaine em uma recente entrevista: "... numa democracia não se deve aceitar que pessoas votem na extrema direita, porém me agrada o fato de essas pessoas terem agora uma alternativa de voto, ou seja, nós".

Criticado por Schröder como alguém que abandona o barco na hora em que ele mais balança e que muito critica e pouco soluciona, e após ter passado vários anos realizando conferências e escrevendo livros e colunas para a imprensa marrom, Lafontaine declarou guerra à política alemã.

Ele quer levar agora, juntamente com Gregor Gysi, suas idéias antineoliberais à grande massa: aumentar a demanda através de maiores salários, elevar a taxa de impostos para salvar o Estado de bem-estar social, orientar a política financeira européia para a criação de empregos, desarmamento e até liberação de drogas leves.

Lafontaine já recebeu elogios no passado por sua posição pacifista. No início dos anos 80, tornou-se inimigo do então chanceler federal Helmut Schmidt, ao exigir a saída da Alemanha da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Basta agora saber se as palavras de Lafontaine se concretizariam com sua eventual subida ao poder – quando, tudo aquilo que se desmancha no ar, se solidifica.