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Visita à Turquia

(sm)29 de novembro de 2006

A meta da visita do papa à Turquia não é só sinalizar tolerância em relação ao mundo islâmico. Ao tentar se reaproximar da Igreja Ortodoxa, ele investe na união entre cristãos diante dos crescentes conflitos religiosos.

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Bento 16 celebra missa em ÉfesoFoto: AP

No segundo dia de sua visita à Turquia, o papa Bento 16 chamou atenção para a situação da minoria cristã no país: "Hoje, os cristãos da Turquia são uma pequena minoria que enfrenta diversos desafios e dificuldades".

Durante uma missa celebrada nas imediações da cidade de Éfeso, Bento 16 honrou a memória de um padre assassinado em fevereiro passado, no litoral turco do Mar Negro, em decorrência do conflito de alcance mundial desencadeado pela publicação de caricaturas de Maomé na Dinamarca.

Türkei Patriarch Bartholomäus I.
Patriarca ecumênico Bartolomeu 1ºFoto: AP

Em um encontro com o patriarca ecumênico Bartolomeu 1º, o superior da Igreja Católica busca o diálogo com a comunidade cristã ortodoxa, bastante isolada na Turquia. Os dois líderes religiosos prometeram prosseguir no caminho do ecumenismo. "Existe um fundamento do amor mútuo entre as igrejas de Roma e Constantinopla", disse o papa.

O que cristãos tem em comum em oposição aos muçulmanos

Diante da exacerbação das animosidades entre cristãos e muçulmanos, algo ilustrado com nitidez pelo conflito das caricaturas de Maomé, no início deste ano, e pelo impacto das declarações de Bento 16 sobre o islamismo durante uma conferência na Universidade de Regensburg, em setembro passado, o papa investe na reaproximação com os cristãos ortodoxos.

Este propósito foi explicitado pelo cardeal Walter Kasper, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, em entrevista ao diário alemão Frankfurter Allgemeine.

"A visita deve funcionar como um sinal de que as Igrejas do Oriente e do Ocidente estão decididas a prosseguir o caminho de sua aproximação até a completa confraternidade. Os conflitos do mundo globalizado obrigam os cristãos a se juntar e descobrir o que têm em comum em contraposição ao mundo islâmico, mas também em oposição ao mundo secularizado", disse o cardeal.

Cisões religiosas e políticas

A reaproximação entre as Igrejas Católica e Ortodoxa é recente. Começou com o encontro do papa Paulo 6º com o patriarca Athenagoras, em 1964, o primeiro após 500 anos de distanciamento entre os superiores de ambas as Igrejas.

Se a dissolução do bloco socialista possibilitou, em tese, um maior contato entre as igrejas do Leste Europeu e da Europa Ocidental, o receio – sobretudo por parte dos ortodoxos russos – de que a Igreja Católica Romana pudesse vir a cooptar parte da comunidade ortodoxa, levou a um afastamento de ambas. Somente em setembro passado foi retomado o diálogo teológico, que se consuma neste encontro do papa com o patriarca ortodoxo.

Hagia Sophia
Igreja bizantina Hagia Sophia, em Istambul: igreja ortodoxa, depois mesquita, hoje museuFoto: AP

Apesar de a Igreja Ortodoxa ser descentralizada, composta por diversas igrejas autônomas, Bartolomeu 1º é o patriarca ecumênico de 300 milhões de cristãos ortodoxos espalhados pelo mundo. No entanto, dentro da Turquia, Dimitrios Archondonis, nome de nascimento do patriarca de 66 anos, está isolado com sua comunidade de duas mil pessoas.

"Fomentar a integração entre Leste Europeu e Europa Ocidental"

As pretensões ecumênicas e o engajamento político de Bartolomeu 1º – que defende o ingresso da Turquia na União Européia e já chegou a aparecer na Amazônia para pregar a proteção ambiental – são vistas por muitos conservadores turcos como uma ameaça de um segundo Vaticano ou de um Estado religioso grego. Há 35 anos, a Igreja Ortodoxa não tem autorização para formar sacerdotes na Turquia.

Ainda não se pode avaliar até que ponto a visita de Bento 16 pode contribuir para reaproximar Oriente e Ocidente. Fato é que a descentralização da Igreja Ortodoxa torna a relação com Roma bastante complexa, em função das diferenças históricas.

De qualquer forma, a intenção do Vaticano vai além do ecumenismo, segundo explicitou o cardeal Walter Kasper: "A aproximação das Igrejas do Oriente e do Ocidente pode fomentar a integração entre o Leste Europeu e a Europa Ocidental".