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Paquistão

26 de agosto de 2010

Ceticismo em relação ao emprego de verbas públicas e donativos particulares podem ser sério obstáculo à ação humanitária em regiões de catástrofe, diz porta-voz da organização CARE. No Paquistão, situação é crítica.

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Sobreviventes das inundações em luta de vida ou morteFoto: AP

A "enchente do século" no Paquistão afeta 20 milhões de pessoas. Apesar de contarem agora com o abrigo de milhares de tendas, é enorme o número daqueles que dependem do abastecimento com alimentos, água limpa, cobertores. O número das vítimas fatais chega a 1.500 e 800 mil pessoas permanecem isoladas de qualquer forma de auxílio.

Quatro semanas depois da catástrofe, inúmeros fatores dificultam o trabalho dos que prestam assistência. Cresce o temor de atentados terroristas contra os colaboradores das organizações humanitárias ocidentais: segundo o governo norte-americano, o Tehrik-e-Taliban – maior e mais perigoso grupo terrorista paquistanês – teria planos neste sentido.

Nesta quinta-feira (26/08), o porta-voz dos talibãs Azam Tariq classificou como "inaceitável" a presença no Paquistão das organizações ocidentais. Sem ser mais explícito, ele declarou que, no fundo, a meta dos Estados Unidos e de outras nações não seria ajudar e que os reais interesses desses países seriam bem outros.

NO FLASH Überschwemmung in Pakistan
Flagelados esperam ajuda na província de SindhFoto: AP

Dúvida fatídica

A ajuda humanitária depende de bem mais do que boa vontade. As organizações sediadas na Alemanha apelam ao governo do país para que contribua mais no combate à catástrofe do Paquistão, apesar de Berlim já haver disponibilizado 25 milhões de euros para este fim. E também considerando que as próprias organizações, reunidas sob a aliança Deutschland Hilft (Alemanha ajuda), já angariaram 16 milhões de euros.

Os donativos particulares são essenciais e, neste contexto, o ceticismo em relação ao emprego final do dinheiro pode ser um sério obstáculo. Um blog do site Welt online comenta: "Mesmo as organizações humanitárias mais sérias têm que empregar uma parte das verbas para, diariamente, convencer os dignitários locais. E é para isso que eu vou doar? Não!"

Thomas Schwarz, porta-voz da organização CARE, esteve durante duas semanas no Paquistão e rebate esse ponto de vista, baseado em sua própria experiência. Embora sem poder colocar a mão no fogo por todos os envolvidos, ele afirma que, no caso da CARE e das outras organizações alemãs de âmbito internacional, "o dinheiro que é doado realmente chega aonde devia".

Solidariedade em meio ao desastre

Porém a demanda de verbas para os flagelados do Paquistão permanece enorme. "Precisamos de mais donativos e de verbas de instituições públicas como o governo alemão ou a União Europeia, pois, com o dinheiro que temos agora, certamente poderemos fazer algo nas próximas semanas, mas já vemos agora que a água está recuando no norte, e aí poderemos julgar a real extensão [dos estragos]. Há gente que não tem o que comer regularmente, talvez de dois em dois dias. Isso enfraquece as pessoas e não podemos esperar", relatou Schwarz em entrevista à emissora Deutschlandradio.

Pakistan Überschwemmung Flutkatastrophe Flüchtlinge
imagens de desesperoFoto: AP

Apesar de todas as dificuldades, Schwarz não tem dúvidas em classificar como efetivo o trabalho da CARE e de outras. "Tentamos realmente mobilizar todo tipo de apoio. Naturalmente temos coordenação in loco com as Nações Unidas, que por sua vez está em contato com o governo. Tomamos cuidado para não 'pisarmos uns nos pés dos outros', ao agirmos no mesmo local. Dividimos as tarefas: um faz isto, o outro faz aquilo. Considero isso efetivo."

Em meio a uma desolação que ele define como "inimaginável", Schwarz pôde vivenciar momentos de altruísmo que o impressionaram muito. Como a jovem no sul de Punjab, no oitavo mês de gravidez, que nem sabia como daria à luz seu bebê. "Ela teve que deixar sua aldeia e vivia junto com todos os habitantes, cercada de gatos, cães, cabras e vacas, que urinavam e defecavam no mesmo lugar". Ainda assim, a jovem apontou para uma mulher grávida de nove meses, dizendo: "Vocês têm que primeiro cuidar dela".

Autor: Hanns Ostermann / Augusto Valente
Revisão: Soraia Vilela