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"Pegida usa mensagens ambivalentes", afirma sociólogo

Andrea Grunau (av)15 de janeiro de 2015

Objetivo é atrair tanto os que pertencem à extrema direita como também os "cidadãos normais", avalia o pesquisador Dieter Rucht, que estuda o fenômeno para entender quem são os participantes e como pensam.

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Foto: picture-alliance/dpa/A. Burgi

O nome do movimento Pegida (sigla em alemão para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente") é revelador dos seus objetivos. Apesar da referência à Europa, contudo, ele começou pequeno e localmente, na capital da Saxônia, Dresden, realizando suas primeiras passeatas de segunda-feira em outubro de 2014.

Da mesma forma que o número dos participantes, a agenda das manifestações foi-se ampliando progressivamente: de início contra os radicais islâmicos, depois contra os muçulmanos em geral, por fim contra o "excesso" de estrangeiros na Alemanha.

O Pegida vem ocupando as manchetes e também conquistando novos adeptos no continente. Prova disso são as diversas páginas na rede social Facebook dirigidas aos públicos dinamarquês, norueguês, sueco, austríaco, espanhol, italiano ou francês, entre outros.

O foco da mídia sobre o movimento – em geral classificado como fenômeno espontâneo e apartidário – se intensificou desde os atentados terroristas de motivação fundamentalista na França, no início de 2015. Ramificações como o Bergida – situado em Berlim – e comparações com outras iniciativas e partidos como a Frente Nacional ou a Riposte Laique têm instigado que se indague a real natureza do Pegida.

O sociólogo berlinense Dieter Rucht estuda protestos políticos e movimentos sociais há algumas décadas. Para sua análise científica do Pegida, ele recrutou estudantes e pesquisadores de universidades de Berlim e de Chemnitz. Os primeiros resultados serão publicados ainda em janeiro.

DW: Em sua pesquisa científica sobre o fenômeno Pegida, o senhor começou com as manifestações em Dresden. Como é seu procedimento e o que já constatou?

Dieter Rucht: Éramos mais de 50 pesquisadores em campo. Por um lado, tínhamos tarefas de observação, como a contagem dos manifestantes. A polícia falava de 25 mil participantes, chegamos a cerca de 17 mil, talvez uns mil a mais, mil a menos – não há como ser mais exato.

Berliner Soziologe Prof. Dieter Rucht
Sociólogo Dieter RuchtFoto: picture-alliance/dpa/privat

Além disso, observamos: o que acontece no palco, atrás dele, o que fazem aqueles que ficam à margem? A outra tarefa foi iniciar uma enquete online: para isso distribuímos folhetos entre os manifestantes, convocando-os a participar pela internet, nos próximos dias.

Como os manifestantes reagiram aos pesquisadores?

Variava: registramos que os que estavam na frente da passeata reagiam, em parte, de forma bem defensiva. Uma coisa chamou a atenção entre os casais: mesmo quando nos dirigíamos à mulher, o homem é quem assumia o controle e decidia se o folheto era aceito ou não, e quem dava o rumo da discussão. Na parte posterior da passeata, o clima era mais aberto, as pessoas estavam mais dispostas a conversar.

Mesmo sem uma avaliação formal, já há primeiras impressões quanto às intenções dos participantes?

As mensagens do Pegida são ambivalentes, e isso é a coisa desconcertante – talvez também engenhosa – da parte dos organizadores. Ou seja, por um lado: "Somos cidadãos perfeitamente normais, vivemos pacificamente. Sigam as instruções da polícia e não se deixem envolver em nenhum ato violento. No fundo, não somos, de forma alguma, xenófobos, só queremos que a questão seja mais bem regulada." Com algo assim, até se pode concordar, mas há mensagens claras que vão numa direção bem diferente.

Acho que essa ambivalência não é acaso: por um lado se procura atrair os que pertencem às alas de extrema direita, xenófobas. Mas também não se quer espantar os "cidadãos normais": para estes há outras mensagens a postos.

Berlin Anti-Pegida Demonstration 12.01.2015
Passeata anti-Pegida em BerlimFoto: Reuters/H. Hanschke

Por que é tão importante estudar o Pegida, e qual é, exatamente, a meta de seu exame?

Até o momento, tem-se especulado muito na mídia sobre quem são essas pessoas, se se trata de um grupo homogêneo ou se a coisa toda se fragmenta em diferentes facções e alas. É algo que não se sabe, discute-se a respeito; não há números e declarações seguras a respeito. Queremos investigar isso com mais exatidão e nos posicionar sobre uma base mais sólida.

Temos, primeiro, que ter fatos, e julgar a partir deles. E não o contrário, anunciando-se com estrondo, no dia da manifestação ou pouco depois: "O movimento deve ser classificado assim e assim" ou "são todos nazistas" – como se já se dispusesse de fatos.

Quais são as principais questões que o senhor quer esclarecer?

Queremos esclarecer: quem são os manifestantes? Trata-se de fatores sociodemográficos, para começar, ou seja, idade, gênero, situação financeira, origem, etc.. Em seguida, queremos esclarecer: como os entrevistados veem certos posicionamentos do Pegida? De que forma encaram afirmativas políticas gerais, como: "Os políticos não se importam nem um pouco com a gente comum e só se ocupam dos próprios interesses"?

E aí há as questões sobre o comportamento eleitoral: em quem votaram no último pleito parlamentar estadual ou federal? Em quem votariam, se houvesse eleições no próximo domingo? Eles votam, ao menos? Na linha entre a direita e a esquerda, em que ponto se posicionam politicamente? Além disso, há toda uma bateria de perguntas sobre os muçulmanos e sobre propensões ao radicalismo de direita.