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Peter Stein faz 70 anos

1 de outubro de 2007

O diretor e co-fundador da Schaubühne de Berlim é ainda hoje uma das grandes figuras do teatro mundial. Seu nome permanece ligado à tradição política e inovadora do teatro alemão dos anos 70.

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Stein: 'não sou diretor de teatro, sou artista'Foto: picture-alliance/ dpa

Por mais que os anos de rebeldia tenham ficado para trás, Peter Stein continua sendo um dos mais ardorosos amantes do teatro. Desde os anos em que esteve à frente da Schaubühne em Berlim, seu nome permanece ligado ao ressurgimento da tradição política e inovadora que caracterizou o movimento teatral alemão dos anos 70 e lhe conferiu renome internacional.

De volta à sua cidade natal, Berlim, para realizar um projeto em conjunto com Claus Peymann, antigo companheiro de Schaubühne e também uma das maiores referências do teatro alemão, Stein, que hoje vive na Itália, completa nesta segunda-feira (01/10) seus 70 anos.

Berliner Schaubühne 40 Jahre
Mais de 40 anos de SchaubühneFoto: AP

Com atores como Jutta Lampe, Bruno Ganz e Otto Sander, foi ele que em grande parte atraiu a fama internacional à Schaubühne durante os 15 anos em que ocupou sua direção, a partir de 1970. Peymann certa vez o chamou de "único mestre internacional do teatro". Sem dúvida, ele foi um dos protagonistas da "revolução teatral" da segunda metade do século 20.

Através de uma intensa colaboração com seu elenco, seguindo o espírito comunitário da geração de 68, Stein soube encontrar um acesso tanto psicológico quanto emocional aos mais diversos textos e épocas. Ele levou ao palco tanto grandes nomes da dramaturgia universal – Ésquilo, Shakespeare, Ibsen (Peer Gynt), Tchecov (As três irmãs), Gorki (Os veranistas) e Kleist (O príncipe de Homburg) –, quanto autores contemporâneos, como Botho Strauss (Trilogia do Reencontro).

Sobretudo o encontro com Tchechov marcou profundamente sua visão teatral: "Lá o ator conhece o coração do teatro, é a prova máxima para qualquer ator."

Sonho de carreira

Neste ano, Peymann abriu espaço para que Stein pudesse realizar o sonho de sua vida junto ao elenco do Berliner Ensemble: encenar na íntegra a trilogia de Wallenstein de Schiller, com cerca de dez horas de duração, em uma antiga fábrica de cerveja de Berlim.

Brandauer als Wallenstein
Austríaco Klaus Maria Brandauer (centro) protagoniza o 'Wallenstein' de SteinFoto: AP

Em setembro, Stein chegou a subir ao palco para substituir, ele próprio, de texto em punho, seu protagonista Klaus Maria Brandauer. "Não sou ator, não sei fazer isso", disse, embora seja conhecido por suas leituras públicas de obras monumentais como o Fausto de Goethe e mesmo o Wallenstein de Schiller.

Durante a feira Expo 2000, em Hannover, Stein encenou uma versão completa, de quase 27 horas de duração, do Fausto, gravada em DVD para a posterioridade. Trata-se de outro de seus sonhos, que conseguiu realizar após 12 anos de tentativas frustradas, tendo inclusive sido recusado em 1993 pelo elenco de "sua" Schaubühne. Possivelmente porque seus atores, formados em sua "escola antiautoritária" e agora emancipados, teriam visto a produção como um bloqueio ao desenvolvimento individual.

Advertência aos próximos

Mas o próprio Stein propagou maneiras de sublevar-se contra hierarquias nos princípios de sua carreira teatral em Bremen e Munique, em meados da década de 60. E seus trabalhos durante os anos 70 em Berlim, já consagrado como diretor, também despertaram hostilidades, especialmente no campo político conservador.

A partir de 1991, foi nomeado diretor artístico do Festival de Salzburgo, do qual se despediu em 1997 com uma montagem da ópera Woyzeck, de Alban Berg, considerada triunfal.

Hoje, Stein adverte contra as novas gerações que "se opõem a praticamente tudo" e querem virar tudo de ponta-cabeça. "Tenham cuidado! Quando o teatro convencional, que é o mais belo que existe, vira convenção, vocês caíram numa armadilha." Se, no teatro, "todos puderem fazer o que quiserem, o teatro alemão será cada vez mais motivo de riso no mundo". Para ele, o teatro contemporâneo alemão está nas mãos de "medrosos pouco profissionais".

Porém Stein sabe que ele próprio pertence àquela geração rebelde que um dia deu o pontapé inicial a essa tendência. Mesmo assim, orgulho não falta: "Com a Schaubühne, dirigi o único teatro independente da história do teatro alemão". E acrescenta: "não sou diretor de teatro, sou artista". (rr)