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Pintura corporal indígena: do Mato Grosso às fachadas berlinenses

Carlos Ladeira15 de junho de 2002

Motivos de pinturas corporais e cerâmicas de autoria de índias da tribo Kadiwéu decoram fachadas de prédios residenciais e são tema de exposição em Berlim.

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À mostra no Museu de Etnologia de Berlim desde 9 de junho, a exposição intitulada Copyright by Kadiwéu reúne 271 trabalhos de 92 índias da reserva indígena da Aldeia Bodoquena, em Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul: motivos utilizados em pinturas corporais e cerâmicas para cerimônias rituais.

O título tem grande significado: trata-se da primeira arte indígena reconhecida no Brasil como criação individual e protegida por direitos autorais. Suas autoras têm longa ligação com a capital alemã.

Projeto arquitetônico –

Em 1998, por iniciativa do escritório de arquitetura Nedelykov Moreira, de um arquiteto brasileiro residente em Berlim, e do escritório Brasil Arquitetura, de São Paulo, foram selecionados trabalhos de pinturas corporais de seis índias da tribo Kadiwéu para decorar 50 mil painéis de azulejos que hoje revestem um conjunto residencial de 3200 apartamentos no bairro de Hellersdorf, na zona leste de Berlim.

As artistas indígenas receberam por seu trabalho inédito o equivalente a 15 mil dólares, dos quais 50% foram investidos na atual viagem à Alemanha. Até a realização desse projeto, o único trabalho arquitetônico de autoria de um brasileiro em Berlim era um conjunto habitacional planejado em 1957 por Oscar Niemeyer e que leva seu nome, no bairro de Tiergarten.

As pinturas que os indígenas desenvolvem para aplicar nos corpos e nas cerâmicas têm como fonte de inspiração a religião e o modo de vida dos integrantes da tribo. Os motivos utilizados em Hellersdorf talvez venham a ser aproveitados em futuros projetos semelhantes.

Aspectos legais –

Os trabalhos realizados por indígenas não podem ser comercializados por terceiros e, arquitetonicamente, seu único aproveitamento possível é em obras de saneamento. O reconhecimento legal deve-se à iniciativa dos referidos escritórios de arquitetura e ao empenho do advogado Alain Charles Edouard Moreau, que cuida, na Associação das Comunidades Indígenas da Reserva Kadiwéu (ACIRK), de todos os problemas jurídicos.

Fruto de uma iniciativa do Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha (ICBRA), a exposição Copyright by Kadiwéu pode ser visitada até fins de outubro. Todas as pinturas expostas foram realizadas com canetas hidrográficas sobre papel canson e estão registradas como pintura abstrata no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro.