1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Política cultural em debate

(sv)1 de setembro de 2004

É legítimo, em tempos de crise, reduzir gastos com representações culturais no exterior? Até que ponto a cultura é um instrumento de prevenção de crises e conflitos? A política cultural está sendo debatida na Alemanha.

https://p.dw.com/p/5Voa
Goethe e Schiller: "mensageiros" da cultura alemã no exteriorFoto: DW

As representações culturais no exterior não estão diretamente a cargo do Ministério alemão das Relações Exteriores. Outras instituições se encarregam desta tarefa, entre elas o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), a Fundação Alexander von Humboldt, o Instituto Goethe, o Instituto de Relações Exteriores (IfA) e a Deutsche Welle.

Prevenção de crise e conflitos

Desde a criação do chamado "Plano 2000", elaborado há 25 anos pelo Ministério das Relações Exteriores, cuja meta era estabelecer as diretrizes da política cultural externa, foram várias as mudanças por que passou o setor. A tendência no momento é clara: redução de mão-de-obra e corte de gastos. Ao mesmo tempo, a política cultural se volta cada vez mais para a "prevenção de crises e conflitos". Uma questão um tanto quanto complexa.

No primeiro semestre de 2004, representantes de diversas organizações culturais alemãs voltaram-se contra os cortes estabelecidos recentemente por um documento que classifica as verbas destinadas à política cultural externa como meras subvenções. Isto faz com que essas verbas possam ser reduzidas drasticamente. O assunto chegou ao Parlamento Federal (Bundestag), embora nem as questões de financiamento nem uma definição mais clara da política externa cultural alemã tenham sido definidas durante o debate.

Perda de prestígio

Georg Wilhelm Friedrich Hegel
Hegel: tema de discussões filosóficas na China

Para o deputado Christoph Stölzl, ex-Secretário de Cultura de Berlim, a Alemanha se arrisca a perder muito de sua imagem: "O grande prestígio do país nos últimos séculos esteve aliado à cultura. No ano passado, por exemplo, em Pequim, estivemos frente a uma situação inusitada: um deputado chinês, representante de um bilhão de pessoas, quis discutir conosco sobre as relações entre Hegel e Schopenhauer. Ele partiu do princípio de que, como parlamentares berlinenses, estaríamos aptos a falar destes grandes filósofos. Essa era a relação dele com a Alemanha. E é isso que estamos em vias de deixar morrer".

Georg Schütte, secretário-geral da Fundação Alexander von Humboldt, uma instituição que tem em seus quadros mais de 30 cientistas que já receberam o Prêmio Nobel, não esconde sua irritação: "Neste momento, a pressão exercida para cortarmos despesas é enorme. Acho completamente errado considerar a política cultural externa como subvenção, como se esta fosse algo que paralisa o desenvolvimento do Estado e da sociedade. É óbvio que isso é um disparate. Não se pode, sob este argumento, interromper um trabalho que significa um investimento no futuro. Pois apoiamos cientistas em todo o mundo, que ajudam a construir o potencial de confiança que a Alemanha inspira, que criam uma rede importante tanto para o empresariado quanto para a ciência".

Priorizando "novos mercados"

Fato é que as verbas destinadas à política cultural externa foram reduzidas de 0,27% para 0,22% do orçamento federal. Apenas nos dois últimos anos, isso significou um corte de 23 milhões de euros. Nos próximos quatro anos, serão poupados mais 45 milhões de euros.

Embora a política cultural seja vista como parte indispensável da política externa e de segurança, o Partido Verde do ministro do Exterior Joschka Fischer parece copiar em parte as normas de comportamento dos liberais, nas mãos dos quais o Ministério das Relações Exteriores esteve durante o governo de Helmut Kohl. Ou seja, o atual governo prioriza a divulgação da Alemanha nos "novos mercados", como por exemplo na China. Deixando de lado os "velhos mercados", em um processo nítido de "abandono" das representações do país em países da América Latina, por exemplo.

Dos cinco milhões de euros que Berlim colocou à disposição da luta contra o terrorismo após os atentados de 11 de Setembro, um milhão destinou-se à cooperação cultural com o Iraque. O Instituto Goethe iniciou as suas atividades em Cabul, em Argel e em Xangai. Brevemente deverão ser abertas representações em Teerã e Bagdá.

"Gostaríamos de ser onipresentes"

Jutta Limbach auf der Frankfurter Buchmesse für Frauengalerie
Jutta Limbach, presidente do Instituto GoetheFoto: dpa

Jutta Limbach, presidente do Instituto Goethe, resume: "Na melhor das hipóteses, seríamos onipresentes e estaríamos em todos os lugares. Pois vejo com clareza que deveríamos estar melhor representados, por exemplo, na África, ao sul do Saara. Ao mesmo tempo, vejo como é importante nossa presença na Ásia. Se a Alemanha quiser estar presente e exercer algum papel ali, precisa fazer essa ponte cultural. Por isso estamos felizes de termos aberto dois institutos na China e pensamos nas diversas maneiras de intensificar ainda mais nosso trabalho no país".

A vice-presidente do Parlamento Federal, Antje Vollmer, brinca que quando se fala da Alemanha no Camboja, em Laos ou no Vietnã, as pessoas pensam em Goethe, Humboldt, Mercedes ou no Partido Verde. O que falta, segundo Vollmer, é um debate maior sobre as possibilidades e os limites de um verdadeiro intercâmbio cultural.