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Política externa alemã: caminhos difíceis

Nina Werkhäuser (sv)10 de agosto de 2005

Kosovo, Iraque, Afeganistão: o governo alemão enfrentou várias vezes questões relacionadas à guerra. Fazendo com que a política de segurança do país fosse obrigada a procurar novos parâmetros de conduta.

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Soldados alemães no AfeganistãoFoto: dpa

Em termos de política externa, o atual governo social-democrata-verde começou com um estrondo: o conflito armado no Kosovo, que a Otan insistia em encerrar com ataques aéreos. Pela primeira vez na história do pós-guerra, as Forças Armadas alemãs deveriam pegar em armas além de suas fronteiras.

O ministro alemão do Exterior, Joschka Fischer, relembra: "Fomos chamados ao gabinete do chanceler federal. A coalizão de governo mal acabava de se formar e já tinhamos que tomar as primeiras decisões sobre guerra e paz desde a criação da República Federal da Alemanha. Foram momentos difíceis".

Posição irredutível

Luftangriff auf Belgrad
Ataque aéreo a BelgradoFoto: AP

Fischer, o primeiro ministro verde das Relações Exteriores do pós-guerra, teria preferido fazer uma política de paz. E seu partido mais ainda. Mas o governo federal e o Parlamento optaram pela participação no ataque aéreo da Otan à Iugoslávia, que começou em março de 1999. Aviões de guerra alemães foram postos em ação justamente por um governo social-democrata-verde, deixando indignados muitos correligionários de Fischer.

O Partido Verde convocou uma convenção extraordinária, a atmosfera ficou ainda mais pesada, mas o ministro se manteve irredutível, considerando um cessar-fogo, naquele momento, um sinal essencialmente errôneo. "Isso vai fortalecer e não enfraquecer Milosevic. Esclareço que não vou agir assim, nem mesmo se vocês quiserem", disse o ministro durante a convenção verde.

Violência como meio de fazer política

Bildergalerie Joschka Fischer Bild 5: Farbbeutel trifft Fischer
Joschka Fischer é atacado durante Convenção do Partido Verde, em maio de 1999Foto: dpa

As reações foram claras: Fischer foi agredido fisicamente por um membro do partido, que atirou um saco de tinta em seu rosto. Apesar dos ressentimentos, o ministro manteve a postura de reafirmar que o uso da violência deveria continuar sendo o último meio a ser usado na política. Este se tornaria, diga-se de passagem, o lema do governo social-democrata-verde, repetido à exaustão no decorrer dos anos seguintes.

As palavras do premiê Gerhard Schröder após os ataques terroristas a Nova York e Washington, em setembro de 2001, entrariam para a história e seriam citadas infindáveis vezes mais tarde: "Esta é uma declaração de guerra contra todo o mundo civilizado. Quem ajuda ou protege estes terroristas, vai contra todos os valores fundamentais que sustentam a convivência pacífica entre os povos. O povo alemão está, neste momento difícil, ao lado dos Estados Unidos da América".

Bundeswehr auf Suche nach abgestürztem Flugzeug
Tanque alemão no AfeganistãoFoto: AP

Isso significou mais uma ação do Exército alemão para além das fronteiras nacionais. Desta vez, contra a milícia talibã e a rede da organização terrorista Al Qaeda no Afeganistão. Como em todos os casos de envio de tropas para fora do país, o Parlamento teve que dar seu aval, embora vários deputados verdes e social-democratas tenham vacilado. Schröder deu um último golpe, ameaçou pedir ao Bundestag um voto de confiança, o que poderia ter significado o fim de seu mandato, e conseguiu, enfim, a maioria necessária para enviar soldados em missão de paz ao Afeganistão, ao lado dos EUA.

Prova de força para as Forças Armadas

Trauerfeier für Opfer des Anschlags in Kabul
Soldados carregam caixão de colega morto em Cabul (junho de 2003)Foto: AP

O Exército alemão se tornou um instrumento indispensável da política externa do governo social-democrata-verde. A opinião pública, aos poucos, foi se acostumando com a presença de milhares de soldados alemães estacionados na Bósnia, no Kosovo e no Afeganistão. E com o fato de que alguns deles voltaram mortos para casa.

Para o ministro alemão da Defesa, Peter Struck (SPD), porém, a máxima continuou valendo: a segurança alemã é defendida tanto dentro quanto fora de casa. "Recebi um monte de cartas me acusando de querer levar a Alemanha à guerra e isso justamente numa data próxima à comemoração dos 60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Essas cartas continham acusaçõe do tipo: isso é falta de bom senso! Todo soldado sabe que pode perder a vida numa missão dessas."

O governo social-democrata-verde, porém, não assinou embaixo de toda a guerra arquitetada internacionalmente, tendo revidado com veemência a invasão do Iraque. "Caros amigos no mundo, isso precisa ficar claro: há fronteiras que este governo quer manter. Não vamos enviar soldados alemães ao Iraque", afirmou o chanceler federal para quem quisesse ouvir.

Divergências com os EUA

A posição deu a Schröder muitos votos nas eleições federais de 2002, mas irritou o governo norte-americano, criando uma atmosfera gélida, durante meses a fio, entre Berlim e Washington. A oposição democrata-cristã acusava Schröder de se desentender com os "melhores aliados" do país. O premiê se mantinha, contudo, inatingível.

"A capacidade de aliança está ligada à autonomia de saber tomar nossas próprias posições frente a questões importantes, fazendo com que isso repercuta no cenário internacional. Continuo defendendo firmemente estas posições", dizia um Schröder convicto.

Irakische Soldaten bei der Ausbildung
Treinamento de soldados iraquianosFoto: dpa

As relações teuto-americanas, depois de um longo inverno, se aqueceram um pouco mais e as divergências acerca da guerra do Iraque se tornaram coisa do passado. A fórmula encontrada para o acordo foi a seguinte: a Alemanha forma e treina, longe do Iraque, forças de segurança – soldados e policiais–, contribuindo assim para a reconstrução do país. E os EUA encerram, com isso, o assunto.