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Política de juros baixos põe em risco economia global, dizem especialistas

Zhang Danhong (av)30 de setembro de 2013

Há cinco anos os bancos centrais inundam mercados com dinheiro barato. Efeitos colaterais já se fazem sentir, e economistas questionam se seria hora de mudar. Crédito fácil, porém, já conta com uma série de dependentes.

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Foto: picture-alliance/dpa

A situação é inédita. Há anos as taxas de juros dos Estados Unidos e do Japão estão próximas de zero. Mês após mês, o Federal Reserve e o Banco do Japão, autoridades monetárias dos dois países, gastam somas bilionárias na compra de títulos públicos. O Banco Central Europeu (BCE) é mais cauteloso, mas também derrubou os juros para 0,5% – o nível mais baixo de sua história – e vem acumulando títulos de países europeus em crise.

Ao todo, os balanços dos bancos centrais dos países industrializados quase triplicaram, passando de mais de 3 bilhões de dólares, no início de 2007, para os atuais quase 10 bilhões de dólares.

A origem da situação é conhecida. Após a falência do Lehman Brothers, em 2008, o mercado interbancário encolheu, pois as instituições haviam perdido a confiança mútua. Os bancos centrais, então, entraram em cena para evitar que a crise financeira contaminasse a economia real.

"Na realidade, eles queriam restabelecer a confiança no sistema e impedir que ele entrasse em colapso", explica Martin Hüfner, economista-chefe da Assenagon Investments, de Munique. A confiança, no entanto, não se restabeleceu, segundo ele. "Não há confiança. Em especial o mercado interbancário europeu não funciona, em absoluto."

Bancos e mercados "mortos-vivos"

Sobretudo há uma série de bancos do Sul da Europa dependentes do dinheiro do BCE – o capital barato mantém artificialmente vivas instituições incapazes de sobreviver pelos próprios meios. Porém não são apenas esses "bancos mortos-vivos" que preocupam o economista, mas sim mercados inteiros.

"Hoje, temos mercados financeiros que não fazem mais sentido, temos 'mercados-zumbi', onde não há mais escassez de dinheiro, o que, a rigor, é a pré-condição para uma economia de mercado. Onde o mecanismo de preços não funciona mais porque os juros estão em zero", opina.

Martin Hüfner Chefökonom von Assenagon
Martin Hüfner alerta contra mercados mantidos artificialmente por bancos centraisFoto: Assenagon

Do ponto de vista dos poupadores, a política financeira frouxa praticamente equivale a uma desapropriação, já que os míseros juros que suas economias rendem ficam abaixo da inflação. Muitos procuram abrigo investindo em ações, o que já levou à formação de uma bolha no mercado de valores.

Outros consideram os imóveis um investimento rentável. Mas aí reside outro perigo, alerta Roland Vaubel, professor de política financeira na Universidade de Mannheim. "Poderemos ter novamente uma bolha imobiliária, que mais uma vez estoure, e crie mais uma crise", afirma. Na zona do euro, além disso, ele aponta para a oferta monetária crescente, o que é um sinal de inflação à vista.

"A oferta monetária M1 cresce atualmente a uma taxa anual de 7,5%", explicita Vaubel. Na política financeira, "M" significa, naturalmente, money e o conjunto "M1" abarca o dinheiro circulante e todos os depósitos bancários verificados, que podem ser imediatamente convertidos em dinheiro líquido.

Inflação às portas

Em sua política monetária, o BCE atenta em especial para o "M3", montante que também inclui depósitos de longo prazo e investimentos. "Essa é uma massa monetária muito lenta, que só acusa problemas muito mais tarde", comenta Vaubel. O próprio BCE confirmou num estudo que a taxa de inflação reage à política financeira com uma defasagem de dois a três anos.

Wirtschaftsprofessors Roland Vaubel
Roland Vaubel: hora de dar guinada na política financeiraFoto: Uni Mannheim

Na opinião de Vaubel, os bancos centrais deveriam mudar seu curso ainda neste ano, ou, o mais tardar, no primeiro semestre de 2014. Contudo, ele próprio não acredita que os institutos serão capazes disso. Pois já é excessivo o número de dependentes do dinheiro barato – entre mercados financeiros, bancos e Estados endividados.

Recentemente, o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, anunciou a intenção de dar fim à política do dinheiro fácil, mas recuou no último momento, deixando tudo como estava.

Vaubel tampouco detecta sinais de uma guinada no BCE: "Há uma coligação dos países do Sul Europeu, liderada pela França, que não deseja mudar de direção tão cedo. E um pouquinho de inflação não é tão desinteressante assim, no que se refere aos Estados atolados em dívidas, talvez até mesmo do Estado alemão, pois assim as dívidas estatais são desvalorizadas de fato."

O professor de política financeira antecipa que taxas de inflação superiores a 5% serão perfeitamente possíveis na Europa na segunda metade da década. E quando a inflação alcançar esse patamar, pode ser que se forme uma espiral negativa entre as expectativas inflacionárias ainda mais altas.