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Pop art

12 de março de 2010

Mel Ramos misturou nudez a anúncios e criou tendência comercial que é usada até hoje. Uma exposição em Tübingen reconta a história do artista, ainda vivo.

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Mel Ramos ao lado de sua arteFoto: Ulrich Metz

Os amantes da pop art provavelmente defenderão a ideia de que Andy Warhol é o artista mais conhecido por colocar anúncios em telas. Mas Daniel Schreiber quer esclarecer de vez essa questão. Ele é o curador da exposição 50 anos de Pop Art, apresentada no salão Kunsthalle Tübingen até 25 de abril. Seu foco é a obra do artista californiano Mel Ramos, particularmente conhecido por suas pinturas sugestivas da década de 1960, que combinam mulheres nuas com produtos comercias e até animais.

Em 1967, uma mostra de Ramos numa pequena galeria em Colônia sofreu interferência da polícia, que invadiu o local e cobriu o trabalho do artista com panos para "proteger os inocentes". Schreiber é do ponto de vista que Ramos ajudou a definir a arte do século 20.

Deutsche Welle: Por que você escolheu exibir obras de Mel Ramos?

Daniel Schreiber: Quero mostrar a arte contemporânea, mas os artistas mais conhecidos, principalmente da arte moderna clássica. E também estou tentando mostrar mais artistas do período pós-guerra, o que é interessante para um público maior. Eu acho que Mel Ramos é uma boa escolha nesse sentido.

O que há de provocador no trabalho dele, nos dias de hoje?

Mel Ramos Lola Cola
Lola Cola mistura anúncio e nudezFoto: VG Bild-Kunst, Bonn 2010

Nós tivemos alguns problemas com pais preocupados, cujos filhos fazer arte num programa que temos aqui. Eles não queriam que as crianças vissem as pinturas. Mas, por outro lado, tivemos muitas opiniões positivas.

Mas em termos da arte de Mel, o que a faz interessante – eu não diria provocativa – é que ele mistura imagens de anúncios e pin-ups. São coisas que normalmente não combinam: cigarros não são tão sexy assim, nem peças de automóvel, nem queijo. Mas ele misturou isso tudo, revelando uma tendência da publicidade moderna desenvolvida na década de 60: as companhias sexualizaram seus produtos sexy, ao mostrar mulheres atraentes ao lado deles.

Então o que Ramos fez foi exagerar essa ideia, aumentando o tamanho do produto e mostrando-o junto de mulheres nuas. Isso, então, era muito provocativo na época, e meio surrealista. O resultado foram quadros bem fortes, revelando tendências da vida moderna.

Isso era provocador nos anos 1960, mas agora, com a internet e a tecnologia disponível, ainda é assim tão novo?

É a contribuição de Ramos para a arte do século 20, e mesmo do século 21. Ele nunca esteve interessado em fazer arte provocadora, mas sua obra foi uma contribuição única. O que ele fez foi adaptar um antigo tema da arte, o nu, que se conhece desde a época clássica até hoje. E ele adaptou esse tema aos tempos modernos. Então ele não apenas criou "gravuras pin-up", o que ele também fez foi trabalhar com história da arte.

A Alemanha tem uma relação de amor e ódio com Ramos – pelo menos nos anos de 1960. Por quê?

Ramos diz que a Alemanha é o país com o maior número de colecionadores de sua arte. Não há outro país no mundo com tantos museus e escolas de arte como a Alemanha. Então esta é a parte do "amor".

Também, na década de 1960, o artista estava apresentando o american way of life, e isso era atraente para a geração pós-guerra que estava tentando reconstruir a Alemanha.

Mas também havia um contramovimento, mais conservador, durante o período de restauração de Konrad Adenauer [chanceler federal alemão entre 1949 e 1963], quando as pessoas tentaram criar uma sociedade mais "moral".

Havia uma lei de proteção aos jovens, e por lei, era proibido mostrar figuras de mulheres nuas em espaços públicos. Então houve uma exposição numa pequena galeria, em Colônia, em 1967, e a polícia foi até lá e cobriu as gravuras de Ramos com lençóis.

Flash-Galerie Mel Ramos Ausstellung Tübingen
Uma mulher, um charuto...Foto: Ulrich Metz

Mas existem muitas pinturas em museus que mostram o nu, trata-se de um tema clássico na arte, como você mesmo disse. Qual é a diferença?

O que Ramos fez foi refrescar a ideia, foi isso exatamente o que ele quis fazer. Quando Edouard Manet pintou Almoço na relva, no século 19, foi um escândalo, mas hoje não é mais. Ramos usou a mesma tática. O que ele disse uma vez é que seu trabalho é como o de um restaurador – ele remove a camada de pó da tela de uma pintura e refresca os temas, revelando de novo o conteúdo provocativo.

No século 19, pintores como Manet eram capazes de chocar os espectadores, e Ramos fez o mesmo no século 20. Ele atingiu um ponto nevrálgico naquela época. Quando a arte provoca tal resposta, é óbvio que ela atingiu um nervo.

A obra de Ramos é considerada arte de alto ou baixo nível?

Houve exposições em pequenas galerias na década de 1960, e a primeira em museu, também pequena, foi em Aachen, em 1969. Houve algumas exposições em museus desde então, mas sempre de pequeno porte. Esta em Tübingen é a primeira retrospectiva.

Ramos sempre foi artista para colecionadores, um pouco fora do main stream. Ainda hoje, historiadores de arte têm problemas em reconhecê-lo como um grande artista, e acho que isso tem a ver com a temática, com o fato de ele citar a publicidade e trabalhar com pin-ups. E ele manteve essa imagem de que faz arte "suja".

Mas acho que esta é a hora de dedicar a ele uma mostra grande assim em nosso museu. E ela seguirá em turnê por Munique, Viena e Paris.

Mel Ramos Monterey Jackie
Artista sexualizou objetos comerciaisFoto: VG Bild-Kunst, Bonn 2010

Em sua opinião, os alemães aceitam melhor o trabalho de Ramos do que os norte-americanos? Porque, afinal de contas, os alemães são menos pudicos quando se trata de nudez...

Acho que Mel Ramos é um artista central da pop art, e um dos últimos ainda vivos. A contribuição dele para arte é ter preservado o nu como motivo pictórico no século 20.

Nos Estados Unidos, pelo menos em Los Angeles, pode-se viver uma vida bem hermética como artista. Na Alemanha, gente como ele é reverenciada como pop stars. No tocante à presença nos museus, ele tem tido reconhecimento nos Estados Unidos. Sua obra está em muito mais coleções de grandes museus lá do que aqui – apesar de a base de seu fã clube ser aqui.

Entrevista: Louisa Schaefer (np)
Revisão: Augusto Valente