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Por onde andam os típicos atacantes da Alemanha?

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
4 de outubro de 2022

Alemanha costumava infernizar defesas adversárias mundo afora com Miroslav Klose e Gerd Müller. Sem atacante de ofício "para botar a bola lá dentro", técnico Hansi Flick enfrenta problema para montar time para a Copa.

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Camisa 9 da seleção alemã, Timo Werner aparece em disputa de bola com o húngaro Adam Lang, durante jogo do time nacional contra a Hungria, em setembro de 2022. Atrás dele, à esquerda na foto, o colega de equipe Serge Gnabry.
Sem típico centroavante, resta à seleção alemã operar com um trio ofensivo flutuante (Werner, ao centro, Havertz e Gnabry, à esquerda), opina Gerd Wenzel.Foto: Christian Charisius/dpa/picture alliance

Houve um tempo em que a seleção alemã de futebol se destacava por poder contar em suas fileiras com atacantes de ofício que, não poucas vezes, foram determinantes em vitórias e conquistas de títulos da Nationalelf (os 11 nacionais). Sobre seus ombros, pairava a esperança de um clube e até de todo um país. Por décadas, atacantes alemães infernizavam defesas adversárias mundo afora.

De bate-pronto, lembro aqui de alguns.

Se há um atacante que marcou a história do Hamburgo, esse foi Uwe Seeler, o jogador mais importante da história do tradicional clube do norte da Alemanha. Durante vinte anos, deixou sua marca de goleador no clube.

Em frente ao Volksparkstadion, foi erguida uma estátua de bronze do seu pé direito. Em 476 jogos oficiais com a camisa do Hamburgo, marcou ao todo 404 gols e defendeu as cores da seleção da antiga Alemanha Ocidental entre 1954 e 1970, onde alcançou uma marca histórica, sendo um dos atletas a anotar gols em quatro mundiais (1958, 1962, 1966 e 1970) — assim como Pelé, Miroslav Klose e Cristiano Ronaldo.

Gerd Müller, o "bombardeiro da nação"

Quando o assunto é atacante, como esquecer Gerd Müller, o bombardeiro da nação? Foi o melhor centroavante de ofício da história do futebol alemão. Em 453 jogos oficiais pelo Bayern, foi ao fundo das redes em 398 oportunidades.

Pela seleção alemã, não deixou por menos: em 62 jogos marcou 68 gols, inclusive o gol do título da Copa de 1974 frente à Holanda. Apesar de relativamente baixo (1,76m) para um "camisa 9", compensava a estatura com sua incrível capacidade de chutar em gol de qualquer posição dentro da grande área e seu talento ímpar de, mesmo estando de costas para o gol ao receber a bola, girar rapidamente em torno do seu eixo e finalizar com sucesso.

Miroslav Klose, maior artilheiro em Mundiais

Mais recentemente, ainda vale lembrar Miroslav Klose, que disputou quatro Copas do Mundo entre 2002 e 2014 e é o maior artilheiro de Mundiais, com 16 gols ao todo. Por muito tempo foi o "camisa 9" titular da Alemanha, sem dúvida uma decisão correta do então técnico Joachim Löw, haja vista seu faro de gol: em 137 jogos, marcou 71 gols com a camisa da tetracampeã mundial.

Muitos outros atacantes alemães do tipo "matador", que marcaram época na seleção alemã e nos clubes onde atuaram, podem ser listados aqui: Jupp Heynckes, Karl-Heinz Rummenigge, Klaus Fischer, Oliver Bierhoff, Jürgen Klinsmann e Rudi Völler, só para lembrar alguns.

Falta centroavante "matador" na seleção alemã

E hoje? Por onde anda o típico centroavante de ofício da Alemanha?

Talvez essa questão seja o maior problema que o técnico Hansi Flick ainda tem visando montar seu time titular para a Copa do Catar. A falta de um atacante rompedor clássico de nível mundial é um problema que atormenta a seleção alemã desde que Klosese despediu da equipe nacional em 2014.

Oito anos se passaram e, aparentemente, não há solução à vista. "Não temos mais um atacante especializado em se impor na grande área adversária – seja através de sua robustez, seja pelo seu instinto matador", confessa Oliver Bierhoff, atual diretor esportivo da seleção.

Arsene Wenger, ex-técnico dos áureos tempos do Arsenal, não hesita em decretar: "O ataque é o maior ponto fraco dos alemães, que no passado podiam contar com atacantes de alto nível como Gerd Müller, Uwe Seeler, Klaus Fischer, Jürgen Klinsmann, Oliver Bierhoff e tantos outros. Hoje, com todo respeito, não tem ninguém que chegue ao nível dos que citei".

Wenger vai mais longe: "A Federação Alemã de Futebol precisa avaliar se o trabalho nos times de base está sendo bem feito. E tem mais: por que será que no futebol alemão surgiram tantos bons atacantes no passado e agora praticamente não tem nenhum de nível internacional?"

O problema de fato, não é de agora. Na semifinal da Eurocopa em 2016, logo depois de França 2 x 0 Alemanha, foi perguntado ao zagueiro Mats Hummels o que faltou aos alemães. Respondeu Hummels: "Faltou alguém para botar a bola lá dentro".

Pelo que se viu do desempenho alemão na Liga das Nações e como não há um atacante de ofício "para botar a bola lá dentro", resta a Hansi Flick montar um trio ofensivo flutuante (Werner-Havertz-Gnabry) com Thomas Müller atrás, municiando os três meias-atacantes. E ainda teria dois "coringas" na cartola – Musiala e Sané.

Quem sabe dê certo, mas tenho lá minhas dúvidas.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.