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Por que a China insiste na política de "covid zero"?

William Yang
11 de novembro de 2021

Com o avanço da vacinação, vários países com regras restritas anticovid mudaram de estratégia. A China, por sua vez, não dá sinais de que esteja se movendo em direção a uma política de "coexistência" com o coronavírus.

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Hotel vazio na China em meio à pandemia de covid-19
Medidas rigorosas da China ganharam elogios no início da pandemia, quando a vacina ainda não estava disponívelFoto: STR/AFP/Getty Images

A China é um dos últimos países do mundo a continuar com uma política rígida de "covid zero", que às vezes implica no lockdown de cidades inteiras se um único caso de covid-19 for detectado.

Mesmo que países como Austrália, Nova Zelândia e Cingapura tenham relaxado recentemente as suas políticas rígidas de "covid zero" que se tornaram insustentáveis ​​com a variante delta – altamente contagiosa –, a China continua com seu esforço para eliminar completamente o coronavírus de seu território.

No início da pandemia, o Partido Comunista Chinês exaltou seu sistema autoritário como um exemplo de controle da pandemia. Os estritos lockdowns locais, as testagens em massa de cidades inteiras e as restrições de viagens ajudaram o país a se recuperar, enquanto o resto do mundo sofria com o surgimento de casos e os efeitos econômicos prolongados de lockdowns.

Embora essas estratégias tenham garantido que os cidadãos chineses pudessem voltar a um nível relativo de normalidade antes de outros países, especialistas questionam se medidas rigorosas ainda são necessárias quase dois anos depois da detecção do Sars-Cov-2 na cidade chinesa de Wuhan.

Redução de voos e quarentena obrigatória

A política chinesa de "covid zero" inclui regras de viagens com requisitos rigorosos para as pessoas que entram no país, uma redução no número de voos internacionais e até três semanas de quarentena obrigatória após a chegada do viajante.

Alguns especialistas dizem que é improvável que a China reabra suas fronteiras até pelo menos depois dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, em 2022. Autoridades anunciaram em setembro que espectadores de fora da China não terão permissão para assistir aos jogos.

"Não acredito que a China flexibilizará as medidas de saúde pública antes dos Jogos Olímpicos de Inverno", disse Chen Xi, professor de saúde pública da Universidade de Yale, nos Estados Unidos.

"O surto mais recente de covid-19 ocorreu após o feriado nacional de uma semana na China, que espalhou o vírus para muitas províncias do país. Isso fez com que o governo se preocupasse, já que as coisas poderiam piorar se ele reabrisse a fronteira agora", acrescentou.

Nos últimos três dias, a China relatou mais de 200 casos de covid-19 – e quase 150 deles foram de transmissão doméstica, ou seja, as pessoas foram infectadas dentro do território chinês.

A confiança da China em suas vacinas

Vários especialistas apontaram a eficácia relativamente baixa das vacinas fabricadas na China – em comparação com outras em uso no mundo – como uma possível causa para a persistência do governo em manter a estratégia de "covid zero".

As vacinas contra a covid-19 da Sinovac (a Coronavac) e da Sinopharm tiveram, respectivamente, 51% e 79% de eficácia na prevenção da infecção sintomática, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), citando dados dos testes clínicos de fase 3.

Alguns especialistas afirmam que ainda há dúvidas sobre a eficácia das vacinas chinesas contra a variante delta. A isso se combina também a falta de dados compartilhados publicamente pelas autoridades chinesas sobre a eficácia das vacinas produzidas no país contra outras variantes.

"Acho que eles não têm confiança em sua própria vacina. Portanto, apesar de ter vacinado mais de 70% de sua população, a China realmente não relaxou as restrições", disse Chunhuei Chi, diretor do Centro de Saúde Global da Universidade Estadual do Oregon, nos EUA.

Karen Grepin, professora de saúde pública da Universidade de Hong Kong, concorda e diz que a China aguarda as condições ideias antes de baixar a guarda. "Embora a taxa de vacinação na China seja alta, as vacinas que têm sido predominantemente usadas não são tão eficazes quanto outros imunizantes", afirma à DW. "Provavelmente existem algumas preocupações quanto a isso."

A China vai se adaptar para "conviver com o vírus"?

O professor Chen Xi, de Yale, acredita que os Jogos Olímpicos de Inverno e o Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, em 2022, contribuem para a decisão de Pequim de manter a política de "covid zero".

"Embora esses eventos ainda pareçam distantes, se houver um surto, as autoridades governamentais estarão sob enorme pressão, pois isso pode enviar sinais ruins para a população", diz. "Mesmo do ponto de vista local, eles terão o forte incentivo para reagir de forma exagerada em vez de subestimar."

Além disso, a propagação da variante delta neste ano apenas serviu para endurecer a manutenção das políticas domésticas em vigor.

Hu Xijin, editor-chefe do tablóide estatal Global Times, escreveu num artigo de opinião no início deste mês que a política de "covid zero" da China não deve ser abandonada no meio do caminho. Se a China abraçar a ideia de "coexistência com o vírus", escreveu Hu, milhares de casos poderão surgir novamente no país.

"A política de 'covid zero' não ficará para sempre na China, mas ajustes na política requerem o apoio de mais avanços na ciência médica – e tais condições obviamente ainda não estão maduras", continua. "No que diz respeito à situação de hoje, minha observação é que a grande maioria do povo chinês apoia a política dinâmica de 'covid zero'."

Grepin, da Universidade de Hong Kong, disse que seria importante que as autoridades tivessem um plano claro de transição da prevenção total para "conviver com o vírus" antes de afrouxar as restrições.

"Acho que é uma vantagem para a China pensar em um plano antes de fazer a transição", avalia a professora. "Até que eles tenham um bom plano, acredito que essas medidas devem permanecer em vigor."