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Por que os jovens casam cada vez mais tarde?

Luisa Frey8 de março de 2016

No Brasil, idade média para o matrimônio subiu nas últimas décadas, tanto para as mulheres quanto para os homens. Objetivos pessoais influenciam decisão de postergar união formal, que pode ter impactos para a sociedade.

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Foto: Fotolia/Marco Scisetti

Medo de perder a liberdade, falta de preparo financeiro e a busca pelo par perfeito podem estar afastando jovens do altar. Um relatório recente do Urban Institute, de Washington, prevê que grande parte dos integrantes da chamada Geração Y ou geração do milênio – nascida entre os anos 1980 e 2000 – chegará solteira aos 40 anos. Outro estudo, do Pew Research Center, aponta ser provável que 25% dos jovens americanos nunca se casem.

Os adultos estão formalizando suas uniões mais tarde, e a parcela de pessoas vivendo juntas e criando filhos fora do casamento aumentou significativamente, afirma o estudo. Nos EUA, a idade média para o primeiro casamento é de 27 anos para as mulheres e de 29 anos para os homens. Nos anos 1960, era de 20 e 23 anos, respectivamente.

No Brasil, a idade média para o casamento passou de 23 anos para as noivas e 27 anos para os noivos, na década de 1970, para 30 anos para elas e 33 anos para eles, em 2014, segundo as Estatísticas de Registro Civil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Estabilidade financeira

A elevação da idade média ao casar nos últimos anos pode ser reflexo da maior dedicação aos estudos e da busca por salários mais elevados, afirma o IBGE.

Entre os adultos ouvidos pelo Pew Research Center que nunca se casaram, mas que não descartam a possibilidade, 27% afirmam não estar financeiramente preparados para o casamento, e 22% dizem não estar prontos para "sossegar". Outros 30% argumentam que ainda não juntaram os trapos formalmente por não terem encontrado alguém que tivesse as qualidades que buscam num cônjuge.

Espanholas vão ao campo à procura de maridos

Enquanto 78% das mulheres solteiras dizem ser muito importante encontrar um parceiro com um emprego estável, os homens dão maior importância a ter como esposa alguém que compartilhe de seus valores sobre como criar os filhos.

Desde meados do século passado começou a surgir a tendência, principalmente em grandes cidades, de os indivíduos estarem mais preocupados em concretizar seus interesses e projetos profissionais do que estabelecer um compromisso afetivo, apontou o psicanalista Carlos Kessler, professor do Instituto de Psicologia da Ufrgs, em entrevista ao jornal Zero Hora.

"Outro reflexo importante da urbanização é que as pessoas tendem a ficar mais sozinhas e acabam se adaptando a essa condição. Por isso, vemos muitos casais se formando depois dos 30 anos", afirmou ao diário gaúcho.

O fato de menos jovens estarem optando por subir ao altar também pode ser um reflexo de uma rejeição da instituição do casamento, vista por muitos como ultrapassada. Dos americanos entre 18 e 29 de idade consultados pelo Pew Research Center, dois terços acreditam que a sociedade não será prejudicada se as pessoas tiverem outras prioridades além de casar e ter filhos.

Morar junto

Cada vez mais casais optam por viver sob o mesmo teto e adiar ou até abrir mão do casamento. Nos EUA, cerca de um quarto dos adultos solteiros entre 25 e 34 anos vivem com um parceiro. Segundo o IBGE, no Brasil também é cada vez mais comum a opção pelo "convívio em união consensual" e a postergação do casamento formalizado.

Tom Keane, colunista do jornal americano Boston Globe, alerta que adiar o matrimônio ou nunca se casar pode ser um problema. "O casamento é um escudo contra a pobreza; os casados são economicamente mais seguros (mesmo quando tudo acaba em divórcio)", afirma. "As crianças também se desenvolvem melhor quando criadas em lares estáveis."

Kim Parker, um dos autores do estudo do Pew Research Center, também afirmou à revista Time que os relacionamentos em que o casal vive junto sem ser casado são muito menos estáveis que um matrimônio.

No entanto, para muitos, o test drive de morar junto antes de casar é positivo. Segundo o Centro Nacional de Estatísticas de Saúde dos EUA, após um ano sob o mesmo teto, um em cada três jovens acaba se casando. Somente 9% terminam o relacionamento, e 62% continuam vivendo juntos. Após três anos de convivência, a taxa dos que se casam sobe para 60%.