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Portadores de deficiência mental também amam

lk2 de fevereiro de 2004

Psicólogo opera no norte da Alemanha agência de namoros e casamento única no país: seus clientes são portadores de deficiência mental, um grupo que a sociedade costuma ver como infantil e assexuado.

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'Deficiência mental também é normal'Foto: AP

É superior a 300 mil o número de portadores de deficiências mentais na Alemanha. A integração de cada um, em sua vida adulta, a um cotidiano que possa ser chamado de "normal" depende do grau de sua deficiência: alguns têm vida autônoma e moram em casa com o auxílio de familiares ou de profissionais que lhes prestam assistência regular. Muitos vivem em pequenas comunidades dentro de entidades especializadas e trabalham em oficinas em que todas as atividades são voltadas para portadores de deficiências.

Um aspecto, porém, continua sendo tabu, em se tratando desse numeroso grupo: sexualidade e companheirismo. Com dificuldade de ver neles mais do que crianças, a sociedade costuma tratar esses indivíduos como se fossem seres assexuados.

Direito humano: ter um parceiro

Dessa visão discorda Bernd Zemella, psicólogo que presta aconselhamento na maior entidade de assistência a portadores de deficiência mental no norte da Alemanha, um lar da Igreja Evangélica em Alsterdorf com 1200 moradores, nas proximidades de Hamburgo. Para Zemella, realizar o desejo de ter um companheiro de vida é um direito humano. É esta convicção que orienta o trabalho do psicólogo na agência de namoros e casamento que fundou tendo em vista essa clientela especial.

Quase tudo igual

Desde 1998, quando foi criada, a Schatzkiste já aconselhou 324 clientes, tendo ajudado 40 casais a se "encontrar". Dois deles se casaram, outros continuam vivendo juntos; em outros casos, o namoro esfriou depois de algum tempo. Nada diferente do que acontece nos casos intermediados por agências destinadas a pessoas "normais".

Ao preencher no computador as fichas de interessados, Zemella registra hobbies e interesses, bem como o grau de deficiência. E nunca deixa de tirar fotografia do candidato ou candidata, já que a aparência é importante também para essa clientela. O que chama a atenção do psicólogo é que os papéis tradicionais dos sexos é muito acentuado no grupo a que presta assistência. Ou seja, a mulher espera ser "escolhida", enquanto o homem assume um papel mais ativo: o número de clientes masculinos em seu arquivo é três vezes maior do que o de mulheres.

Ao contrário do que acontece nas agências convencionais, a seleção dos candidatos que poderiam combinar para formar um casal não fica por conta do computador. Zemella gasta horas estudando as fichas individuais em busca de características que tornem um eventual encontro entre dois candidatos promissor.

Quando a família interfere

Muitas vezes a iniciativa acaba gorando por interferência da família. Zemella já recebeu muitos telefonemas de pais pedindo energicamente que retirasse do fichário, por exemplo, a filha que procurara a Schatzkiste pouco antes. A sociedade tem dificuldade em conviver com o fato de que portadores de deficiências também queiram e possam amar.

O maior motivo de preocupação é que o casal acabe querendo ter um filho e que a criança também nasça com deficiência. Antigamente, mulheres portadoras de deficiência mental eram esterilizadas com freqüência, ainda na juventude. Hoje, menores não podem ser esterilizadas e as maiores de idade, só se concordarem. Se não estiverem em condição de tomar uma tal decisão, uma pessoa encarregada de sua assistência decide por elas.

Zemella não nega que a questão é delicada. Seu maior desejo é que a sexualidade dos portadores de deficiência mental deixe de ser tabu, que a sociedade aprenda a se ocupar do assunto, que os pais aceitem que devem conversar com os filhos a respeito, em vez de dizer um não categórico a seu desejo de ter alguém a quem amar.