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Poupando para o futuro incerto

Assis Mendonça12 de maio de 2003

O temor de cortes nos seguros sociais e de aumento dos impostos está levando os alemães a poupar cada vez mais. Numa situação de crise de consumo, as poupanças não contribuem para incentivar a conjuntura.

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Círculo vicioso: a crise gera poupança, a retração de consumo alimenta a criseFoto: Bilderbox

O contexto é claro: diariamente as páginas dos jornais alemães estampam planos e mais planos – do governo, da oposição ou dos sindicatos – de reformas sociais no país. Os debates são intensos, mas a tônica é sempre a mesma. Quais as ajudas e seguros sociais podem ser eliminados ou reduzidos, a fim de diminuir a sobrecarga dos cofres públicos e baixar os custos da mão-de-obra? Que impostos podem ser aumentados, a fim de financiar medidas estatais dos mais diversos tipos?

A reação da população alemã também é conhecida. Ela se repete sempre em situações similares: retração do consumo e retorno à chamada "poupança do medo". Esta é a explicação do economista Gustav Horn, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW), para o enorme aumento da taxa de poupança na Alemanha no último trimestre.

Esta taxa indica a percentagem da renda mensal média que não é destinada ao consumo e sim à aplicação financeira – o chamado "pé-de-meia". Atualmente, ele atingiu um dos níveis mais altos das últimas décadas: 10,5%.

Preparando para o pior

Segundo Gustav Horn, esta "poupança por insegurança" tolhe de maneira marcante o desenvolvimento econômico da Alemanha. "As pessoas já não entendem bem a evolução da política econômica, mas sentem que terão de contar com maiores despesas futuras e preparam-se para o pior", afirma.

O economista do DIW não atribui a insegurança geral apenas à política oficial e aos planos do governo de Berlim. Também as propostas apresentadas pela oposição contribuem para um temor popular generalizado em relação ao futuro.

Segundo Horn, os cidadãos ouvem há tempos que têm de se preparar para custear do próprio bolso toda uma série de despesas até agora cobertas pelos seguros sociais. Não se pode culpá-los assim, de que levem tais advertências a sério e prefiram guardar suas economias a consumir produtos supérfluos.

Horas-extras diminuem

A retração do consumo tem conseqüências diretas também para a remuneração de muitos assalariados, por exemplo, através do corte das horas-extras nas fábricas. O prognóstico do Departamento Federal do Trabalho é de que serão trabalhadas 1,53 bilhões de horas-extras em toda a Alemanha, no transcurso deste ano.

Isto significa uma queda de 6% em relação ao ano passado e uma média de 44,6 horas-extras por assalariado, em 2003. Nos anos de alta conjunta da economia alemã, nas décadas de 60 e 70 do século passado, a média anual chegava a atingir 100 horas-extras por assalariado. Um fator importante para o bolso dos trabalhadores, pois as horas-extras são isentas de imposto e pagas integralmente.

Mas também esse incentivo de consumo poderá acabar dentro em breve. Na opinião do presidente do DIW, Klaus Zimmermann, a crise das finanças públicas é tão grave que não restará ao governo alemão outra alternativa que aumentar o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e cortar inúmeras subvenções, entre elas a isenção de imposto para as horas-extras. O resultado será o óbvio: menos dinheiro no bolso, preços em alta e ainda maior "poupança do medo".