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Criatividade na crise

12 de março de 2010

Administração de cidade perto de Hamburgo pede dinheiro emprestado aos próprios cidadãos. Ideia começa a fazer escola em período de pouca arrecadação, quando municípios alemães passam por sérios problemas financeiros.

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Quickborn fica nos arredores de HamburgoFoto: picture-alliance/ dpa

A situação financeira dos municípios alemães tem produzido manchetes negativas em ritmo acelerado. Sobretudo muitos municípios da antiga Alemanha Ocidental estão com o caixa em situação precária, sem condições de pagar os credores, sendo, por isso, colocados sob a supervisão financeira dos níveis administrativos mais elevados – regionais, estaduais e federais. A cidade alemã de Quickborn usou da criatividade para sair dessa encruzilhada, pedindo empréstimo a seus próprios cidadãos, com prazo de um a cinco anos e taxa de juros de 1,5% a 2,6%.

A cidade de ares provincianos, mas a pouca distância da metrópole Hamburgo, tem população de renda per capita relativamente alta. Entretanto, a localidade de 20 mil moradores acumula dívidas. O prefeito Thomas Klöppl tem esperanças de logo poder ter os cidadãos da cidade entre seus credores. "Espero que a oferta atraia muitas pessoas", comenta. Afinal, os investimentos têm endereço certo. "Não serão empregados em uma usina atômica, na indústria de armamentos, nem em negócios agrários duvidosos em algum lugar da Argentina, mas aqui mesmo em Quickborn", garante.

Sem motivos para comemorar

Klöppl tem bons motivos para estar otimista. Em meados de 2009, a cidade começou uma campanha parecida, sugerida durante uma assembleia de cidadãos. Em vez de algumas centenas de milhares de euros, como se esperava, os cidadãos arrecadaram, em apenas três dias, quatro milhões de euros, provocando enorme surpresa. Entretanto, pouco depois, o órgão alemão de regulamentação do mercado financeiro Bafin criou problemas para a iniciativa, afirmando se tratar de venda de ações, só permitida com autorização prévia.

Quickborn Bürgermeister Thomas Köppl
Prefeito Thomas Köppl foi autor da ideiaFoto: picture-alliance/ dpa

A campanha atual conta com a ajuda de profissionais. O pequeno banco de investimento BIW na cidade de Willich, nos arredores de Düsseldorf, age como um corretor certificado. "Já havíamos pensado há tempos fazer algo nessa área, porque achamos financiamentos municipais um setor muito interessante", conta o membro do conselho diretivo do banco BIW, Michael Heinks.

Outra cidade segue o exemplo

O banco já inaugurou o site Heimatinvest.de e espera que outras cidades sigam o exemplo e também peçam dinheiro emprestado a seus cidadãos. Com a própria cidade de Willich, as negociações estão bem avançadas, os fundos arrecadados ajudarão na construção de uma creche. O próprio banco ganha com as taxas de gerenciamento de conta e uma taxa extra que a cidade paga. A linha de crédito para a cidade não tem condições piores do as de um crédito em banco normal, salientam os envolvidos.

Até porque muitos cidadãos estão dispostos a aceitar juros bastante baixos, quando veem que seu dinheiro é empregado para construir escolas ou creches. O crédito entra no orçamento público normalmente, mas Quickborn vincula o dinheiro a projetos específicos, para fazer com que os investimentos sejam atraentes do ponto de vista dos cidadãos.

Alternativa só funciona em áreas ricas

Será que a ideia é capaz de minimizar os problemas financeiros de administrações públicas? A maciça queda na arrecadação de impostos atual não pode ser compensada pela iniciativa. O modelo desenvolvido por Quickborn visando captar 2 milhões de euros, tem âmbito bastante pequeno, em relação ao peso do mercado alemão no caixa das administrações regionais.

Além disso, o plano só tem condições de funcionar onde morem investidores com dinheiro suficiente para apoiar o projeto. No caso de Quickborn, o investimento mínimo é de 5 mil euros e pode ser aplicado em um tempo fixo de um ou cinco anos.

Para os responsáveis pelo setor financeiro da administração da cidade, Heimatinvest.de é sobretudo uma nova alternativa financeira, acrescentada às opções já existentes. Os bancos ainda oferecem linhas de crédito a preços atraentes, mas a previsão é que os juros logo venham a subir também para empréstimos feitos pelo setor público. E quem puder dizer que dispõe de uma fonte de dinheiro alternativa já tem uma melhor posição nas negociações.

Autor: Jan Pallokat (md)
Revisão: Augusto Valente